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Alvo da PF, ex-advogado dos Bolsonaros recebeu R$ 2,7 milhões sob suspeita da Fecomercio

O advogado Frederick Wassef, que atendia até junho a família do presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de busca e apreensão da Operação Esquema S deflagrada nesta quarta-feira (9) para apurar desvios de recursos no Sistema S do Rio de Janeiro.

Wassef é investigado sob suspeita de ter obtido R$ 2,7 milhões por meio do escritório da ex-procuradora Luiza Nagib Eluf, contratada pela Fecomercio Rio com uso de dinheiro público do Sesc/Senac Rio.

Em nota, Wassef afirma que “não foi denunciado com os demais advogados” e que não tem “nada a ver com nenhum esquema da Fecomercio”, entidade pela qual nunca foi foi contratado.

“Fui contratado por um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo que tem como dona uma conhecida procuradora do Ministério Público de SP e que sua biografia é um exemplo de integridade, retidão e honestidade, além de ter dedicado sua vida no combate ao crime como atuante promotora e procuradora de justiça que foi”, escreveu o advogado.

Sobre o fato da investigação vir de uma delação de Orlando Diniz, Wassef diz que o ex-presidente da Fecomércio “está deliberadamente mentindo” ao seu respeito “a mando de advogados inescrupulosos que estão o usando como míssil teleguiado para o atingir, visando atender ao interesse de um outro cliente em comum.”

A investigação sobre o ex-defensor da família Bolsonaro faz parte da apuração do Ministério Público Federal sobre uso de recursos do Sistema S para o tráfico de influência no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no TCU (Tribunal de Contas da União).

Os advogados do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin e Roberto Teixeira, são acusados de liderar o esquema de 2012 a 2018. Eles receberam ao menos R$ 67,8 milhões do Sistema S fluminense e foram responsáveis, segundo a investigação, por indicar outros escritórios que participaram do suposto desvio.

Já Zanin afirmou em nota ser vítima de uma “clara tentativa de intimidação”. O advogado de Lula classificou a decisão de buscas do juiz Marcelo Bretas como um abuso de autoridade e vinculou o magistrado ao presidente Jair Bolsonaro.

A origem da apuração foi a delação premiada do ex-presidente da Fecomércio, Sesc Rio e Senac Rio, Orlando Diniz. A atuação de Wassef, ainda sob investigação, teria ocorrido por meio de outro núcleo de desvios na Fecomércio, segundo a Procuradoria.

Os recursos recebidos por ele foram direcionados por Marcelo Cazzo, inicialmente responsável pela publicidade da federação que passou a ter forte influência sobre Diniz na gestão do Sesc/Senac Rio a partir de 2016. Neste momento, Zanin e Teixeira se distanciavam do ex-presidente das entidades.

Por indicação de Cazzo, o escritório de Eluf recebeu R$ 4,8 milhões entre dezembro de 2016 e maio de 2017 da Fecomercio, com uso de recursos públicos do Sesc/Senac. O objetivo, segundo Diniz, era organizar sindicâncias para apurar vazamentos de documentos da entidade à imprensa.

O delator afirmou, contudo, que se encontrou com a ex-procuradora apenas uma vez. Nesta reunião, ela disse que indicaria Wassef para atuar em favor da entidade.

De acordo com Diniz, o advogado optou por abandonar as sindicâncias internas e conduzir a apuração dos vazamentos por meio da instauração de inquéritos policiais.

Diniz disse aos procuradores que a atuação de Wassef durou pouco tempo e “não valeu a pena, tampouco pelos valores que foram cobrados pelo contrato”.

O Ministério Público Federal também aponta indícios de lavagem de dinheiro do advogado com vínculos ainda pouco claros com o esquema da Fecomércio. A Procuradoria descreve movimentação financeira atípica dele detectados pela UIF (antigo Coaf).

Entre eles, estão depósitos em espécie fracionados em suas contas, com características de tentativa de fuga das regras de controle das instituições bancárias. As movimentações têm vínculos temporais com saques nas contas de sua ex-mulher Maria Cristina Boner Leo.

No período de serviço para o ex-presidente das entidades, Wassef já era aliado próximo de Bolsonaro, a quem conheceu em 2014. Ele deixou a defesa do clã após a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, em seu escritório em Atibaia.

Queiroz é suspeito de ser o operador da suposta “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa —ele nega. O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que Wassef manteve o ex-assessor de Flávio sob monitoramento no período em que esteve em sua propriedade, o que o advogado nega.

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