Agência se reportava à direção de banco

Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo e publicada na edição de ontem, o ex-gerente da agência Banestado em Nova York, Ércio de Paula Santos, disse que a direção do banco, em Curitiba, sabia das operações realizadas pela agência americana, já desativada. Segundo ele, relatórios dos negócios eram enviados diariamente para a sede do banco.

Segundo Santos, a equipe de Nova York tinha “total dependência operacional e administrativa da matriz”, a qual se reportava diariamente e remetia o balanço mensal do volume de operações.

A informação é contestada pelo presidente do banco no período de dezembro de 1995 a junho de 1997, Domingos Tarso Murta Ramalho. Ele garante que a matriz de Curitiba não fazia acompanhamento do cotidiano da agência americana: “Como é que o presidente do banco, em Curitiba, poderia controlar os gerentes de Nova York?”, questiona, acrescentando que a agência de Nova York estava mais afeta à mesa de operação de câmbio do banco.

Além de destacar que durante sua gestão à frente do Banestado abriu 50 processos administrativos contra gerentes por várias irregularidades, observou que até 97 não se ouvia falar em lavagem de dinheiro por bancos oficiais. A intensificação das remessas para o exterior por meio das contas CC-5 teria, segundo ele, decorrido da mudança de política econômica brasileira, quando os bancos passaram a buscar lucros num período de inflação zero.

O Banestado é apontado em investigação da Polícia Federal como um grande operador de contas CC-5. A PF apura se essas contas, em nome de “laranjas” ou empresas “offshore” ( em que os proprietários não são conhecidos) eram usadas por um esquema comandado por doleiros para esconder a real origem do dinheiro. Só nos anos de 1996 e 1997, segundo documentos em poder da PF, a agência de Nova York movimentos US$ 15 bilhões nas CC-5.

Ércio de Paula Santos negou que a agência americana, desativada no início de 2000, se concentrasse em operações suspeitas. Lembrando que as operações de CC-5 se davam de forma intensa em toda a rede bancária brasileira no período, ponderou que as acusações se vontam contra o extinto Banestado “por ser um banco morto”. Na sua opinião, as ilegalidades em relação à lavagem se davam na saída do dinheiro do Brasil: “O Banestado de Nova York trabalhava dentro dos preceitos operacionais e financeiros dos Estados Unidos”, assegurou.

Santos também revelou a Folha que as emissões de créditos para Nova York não se davam de forma direta. Sugeriu que o Banco del Paraná, braço do Banestado no Paraguai, e o banco Araucária eram usados por doleiros em toda a intermediação, dificultando o rastreamento do dinheiro.

O ex-gerente disse que a agência de Nova York era fiscalizada pelo Office of the Comptroller of the Currency -OCC- orgão de regulamentação e supervisão dos bancos estrangeiros do Federal Reserve, o banco central americano. Mas não explicou a razão da multa de US$ 75 mil que o OCC aplicou a agência em 2000, por irregularidades que teriam sido cometidas em 1996 e 1997.

Confirmou ainda ter intermediado a abertura da June Internacional Corporation entre o doleiro Alberto Youssef e o advogado norte-americano David Eric Spencer, que foi consultor de empresas e bancos brasileiros nos EUA, inclusive do Banestado. Mas negou que a intermediação encobrisse qualquer ilegalidade: “O Banestado não abria empresas. O cliente precisou de um advogado que trabalhasse uma operação legítima dentro dos EUA e nós indicamos. Foi um ato meramente administrativo”, concluiu.

Banestado foi alertado

O Departamento de Justiça dos EUA bloqueou dinheiro de uma conta no Banestado de Nova York sob suspeita de lavagem de dinheiro do narcotráfico. Na correspondência enviada ao banco em 1997, a procuradora federal de NY, Mary Jo White, indicou que a conta n.º 1406-6, aberta em nome da offshore uruguaia Nager Fidelity S/A, conteria dinheiro de Sâmia Haddock Lobo, ex-mulher de Antônio Mota Graça, o “Curica”, segundo a Polícia Federal um dos contatos dos cartéis colombianos no Brasil. Ambos foram indiciados pela CPI do Narcotráfico em 1999.

A conta da Neger movimentou US$ 72,8 milhões entre 24 de março e 29 de setembro de 1997, segundo o Ministério Público. A equipe da PF constituída pelo delegado Castilho Neto e pelos peritos Renato Barbosa e Eurico Montenegro apreendeu documentos da agência do Banestado em NY no ano passado. Em dezembro foi concluído o laudo que analisou 137 contas que teriam movimentado US$ 30 bilhões em 1996 e 1997.

Uma segunda carta enviada pela procuradora Mary jo White ao Banestado explicava que o governo americano tinha ” razoáveis motivos” para supor que a conta guardava dinheiro ” procedente de transações narcóticas ilegais e dinheiro usado para facilitar transações narcóticas ilegais”.

O inquérito sobre a Nager foi enviado ao Ceará- de onde é o procurador da “offshore”, Carlos Eduardo Bechara Mussi – há uma semana, pela Justiça Federal de Foz do Iguaçu, onde o envio de US$ 30 bilhões para o exterior através das CC-5 é investigado pela polícia desde 1998.

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