Polícia Federal pede quebra de sigilo bancário e fiscal de três empresas

Brasília (AE) – A Polícia Federal pediu hoje (3) a quebra do sigilo bancário e fiscal das empresas Guaranhuns Participações, Bônus-Banval e Natimar. As três são acusadas de terem sido usadas pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares como "laranjas" na lavagem de dinheiro de origem ilícita, usado na formação do caixa 2 do PT. A medida está recomendada no inquérito do ‘mensalão’, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de mais 30 dias de prazo para conclusão das investigações.

Na nova fase, a PF pretende fechar as perícias nos documentos contábeis apreendidos nas empresas de Valério e o rastreamento da movimentação de parte desses recursos no exterior. Está prevista também a tomada de depoimento de parlamentares e outros acusados de envolvimento no esquema, não ouvidos na primeira fase. Entre eles, o ex-ministro da Casa Civil, deputado federal José Dirceu (PT-SP) e o ex-deputado federal José Dirceu (PTB-RJ), o primeiro cassado em decorrência do escândalo.

Os dois, conforme a PF, teriam criado dificuldades para serem interrogados na primeira fase. Se o STF insistir na tomada do depoimento, eles serão novamente intimados e, se ficar comprovada má vontade em colaborar, poderão ser levados até sob coação.

O advogado José Luiz de Oliveira Lima negou que seu cliente, José Dirceu, esteja se recusando a colaborar com as investigações, mas alegou que ele só vai depor se a PF fornecer cópia de todo o inquérito, que contém 11 volumes e 55 apensos, condição que ele julga necessária para preparar a defesa adequada.

A PF considera a medida uma manobra procastinadora, além de um precedente perigoso, pois se todos os acusados fizerem o mesmo pedido, as investigações sofrerão atraso considerável.

No despacho que acompanha o inquérito, de cinco páginas, a PF faz um resumo das diligências realizadas até agora. Embora já haja pelo menos 20 investigados com rol de provas formado, a PF não pede o indiciamento dos acusados. Essa tarefa ficará para o relatório final, após a novo prazo e caberá ao STF decidir sobre quem será indiciado, ouvida a Procuradoria-Geral da República.

Entre os relacionados para futuro pedido de indiciamento estão, além de Valério e Delúbio, o ex-presidente nacional do PT José Genoíno e o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Estão também na fila para indiciamento o marketeiro do Palácio do Planalto, Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 18 parlamentares da base aliada que sacaram recursos das contas de Valério no Banco Rural, 12 dos quais já investigados e com rol de provas formado.

No meio dos parlamentares estão o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e o líder do PP, José Janene (PR). A PF detectou que Valério, em parceria com Delúbio, operou entre 2002 e 2003, um gigantesco esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para distribuição com parlamentares e partidos da base aliada. Foram movimentados mais de R$ 55 milhões no período. Para esquentar o dinheiro, foram forjados empréstimos com o Banco Rural e o BMG e parte da distribuições com os beneficiados foi feita por intermédio da Bônus-Banval, da Natimar e da Guaranhuns.

Um dos beneficiários do caixa 2 foi Duda Mendonça, que confessou ter aberto a off-shore Dusseldorf, no paraíso fiscal das Bahamas, para receber R$ 10,5 milhões de Valério, como parte da dívida do PT com a campanha de Lula.

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