Pobres crianças da guerra

Faça um exercício de imaginação! Pense que você mora em uma grande cidade, que é chefe de família, com filhos e tudo o mais. Que é cumpridor dos seus deveres e está alheio ao fanatismo e aos problemas avassaladores do mundo moderno.

Imagine que você é um daqueles “paizões”que no final de semana sai com seus filhos para passear, empinar pipas, andar de bicicleta, correr na praia, construir castelos de areia, dar um mergulho, pegar alguns peixes. Imagine que você também um dia viveu a infância, como seus filhos, que cresceu sob o carinho do amor, no berço que pediu a Deus.

Mas imagine ainda que, como você, existem muitos pais pelo mundo que querem fazer o mesmo! Viver em harmonia, cumprir uma missão de cidadão, sonhar com as aventuras e super-heróis. Afinal, poder desfrutar das alegrias que a natureza nos deu e se beneficiar dos recursos que o homem, com a sua inteligência, desenvolveu e, a seu modo, aperfeiçoou.

Tudo corre às mil maravilhas! Até que um dia você assiste pela TV que duas ex-crianças, Bush e Saddam, resolveram, contradizendo todos os povos do mundo e a lucidez daqueles que vivem no planeta, que temos agora, repentinamente, que encarar uma guerra. Uma dura batalha sem princípios, medidas ou sanidade.

Estas duas ex-crianças, infelizmente, foram ficando adultas, cresceram fisicamente, ganharam a idade da “razão” e hoje estão no poder de duas grandes potências mundiais.

Eles viraram homens e perderam a doçura da alma de criança, que não mente, que não odeia, que não comete atrocidades, mas quer paz, se divertir, brincar. Foram picados pela mosca maldita da ânsia do poder a qualquer custo. São “homens de verdade”, como a gente diz quando vê algum adulto por aí.

Mas, de verdade, são homens de mentira, de falsidade, de coração ruim, de insanidade.

Quem nos dera eles não tivessem crescido! Que continuassem maus apenas na inocência de criança, matando passarinhos, fazendo travessuras, quebrando vidraças, brincando de mocinho e bandido, ou apenas de bandidos.

Pelo menos assim não seriam tão nocivos para o mundo e muito menos para as crianças de hoje, que querem ter os mesmos direitos, mas estão confinadas em porões, escondidas das bombas mortíferas que estes dois adultos, “homens de verdade”, arremessam para tentar provar que são mais forte um do que o outro.

Pobres crianças de Bagdá que hoje são obrigadas a viver num mundo de Bush, num mundo de Saddam, dois indescritíveis “bichos-papões” dos pesadelos de criança.

Oxalá a mão carinhosa do “paizão? ainda possa resguardá-las dos mísseis, dos tanques de guerra, dos fuzis e da destruição em massa que esses “homens de verdade” ainda teimam em acionar.

Tomara que as crianças que sobrarem desta guerra insana, cresçam com a consciência de que seus filhos precisam viver! Que devem fugir do exemplo maldito que um dia passou pela Terra. Que elas lembrem dos momentos de fuga dos mísseis e pensem que seus filhos merecem sorte melhor.

Que elas não imaginem jamais destruir! Mas construir muitos e muitos ministérios da Paz por todo o mundo. E que jamais esqueçam que o Ministério da Paz do mundo começa pelos Direitos das Crianças.

Osni Gomes

(osni@pron.com.br) é jornalista, editor de Exterior de O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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