PMDB quer ministérios com ‘influência’ no segundo mandato

À espera de um sinal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o papel do PMDB na coalizão de forças para seu segundo governo, a cúpula governista do partido já fez chegar suas pretensões ao Palácio do Planalto. Decididos a exercer influência real na futura administração, formulando e definindo políticas de governo, os peemedebistas avisaram que estão mais preocupados com a ‘qualidade’ dos ministérios que vierem a comandar do que com a quantidade de cargos.

Além de pastas com uma fatia polpuda do Orçamento, eles querem administrar áreas que lhes permitam projetar nacionalmente a legenda e também atender às bases partidárias – em que se incluem prefeitos sempre ávidos por verbas federais.

A idéia é manter um pé na área social e outro no setor de infra-estrutura. O Ministério da Saúde é o principal alvo de cobiça dos peemedebistas. Nas conversas de bastidor, também se cogita a volta do partido aos Transportes e ressurge a alternativa de comandar a pasta das Cidades, que já está sendo disputada pelo PT paulista da ex-prefeita Marta Suplicy, que subiu no conceito do presidente Lula durante a campanha.

Até agora, porém, o presidente não deu pistas sobre o espaço do partido na Esplanada dos Ministérios em futuro breve. "Ninguém está sabendo de nada. Estamos todos em vôo cego", resumiu ontem um interlocutor de Lula no PMDB.

Como a Saúde se tornou objeto de desejo das bancadas da Câmara e do Senado, foi grande a reação à notícia de que o Planalto sondara a senadora Roseana Sarney (sem partido-MA) para o ministério – e de que senadores peemedebistas cogitaram a possibilidade de ela ocupar o cargo. A simples hipótese causou irritação e protestos entre deputados peemedebistas.

"Começar a reforma ministerial pela Roseana é um péssimo caminho porque nem sequer peemedebista ela é", reclamou um deputado de expressão nacional, convencido de que essa é mais uma articulação tocada pela dupla formada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e pelo senador José Sarney (PMDB-AP), pai da senadora. "Isso é inaceitável e pode complicar muito a negociação com o PMDB neste momento em que o Planalto fala em ampliar a interlocução com o partido", insistiu o parlamentar.

Os velhos aliados de Lula, como Renan, Sarney e o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), mostram-se preocupados com a movimentação do Planalto para abrir novos canais de diálogo com o partido. Além de democratizar a interlocução, fazendo com que abranja também representantes da ala dos ‘neogovernistas’, como o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), o movimento palaciano põe em pauta também uma nova divisão dos espaços de poder – por mais que os aliados de todos os tempos sejam privilegiados na partilha.

Em tese, a Saúde já está na cota do PMDB. Mas os governistas da Câmara e do Senado querem indicar um novo ministro para comandar a estrutura devidamente ‘verticalizada’, ou seja, com os postos-chave nas mãos do partido. Na realidade, nem os senadores nem os deputados do PMDB consideram o atual ministro Agenor Álvares uma indicação partidária, embora ele tenha substituído o deputado Saraiva Felipe, do PMDB mineiro, de quem era secretário-geral.

"Ele opera muito mais com o PT, que quer retomar o ministério, do que com o PMDB", justifica um dirigente peemedebista. Crítica semelhante é feita ao ministro das Comunicações, senador Hélio Costa (MG). Ele também é acusado de abandonar o partido depois de assumir o cargo no ministério. Seus críticos se queixam de que, além de recusar qualquer conflito com o PT, Costa não atendeu aos pedidos e indicações de peemedebistas. Os insatisfeitos com o ministro dizem que diretorias da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não foram preenchidas porque as vagas também estavam sendo disputadas por petistas.

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