PMDB, candidatura própria: legítima e necessária

“Não existe partido sem candidato. Eliminem-se as candidaturas e o partido deixa de existir.”

Roberto Requião

A revitalização do PMDB depende de uma única condição: colar-se ao povo, ser sua voz e sua esperança, para realizar as reformas de grande envergadura necessárias à superação do impasse, sem impor sacrifícios intoleráveis ao País.

É mister recapitular. Junto com o povo brasileiro, o PMDB derrotou a ditadura. Com enorme sacrifício, sustentou o período confuso e difícil da transição política, para legar ao Brasil uma Constituição legítima, fundamento da democracia e base para acelerar a modernização social e econômica da nossa sociedade.

Apesar dos sacrifícios, o PMDB teve atuação consciente e tranqüila no cumprimento desse mister. Junto com o povo brasileiro, o PMDB comemorou a promulgação da Constituição vigente.

Para realizar esta travessia histórica sem risco de retrocesso, o PMDB assumiu, conscientemente, o desgastante encargo de sustentar o governo fraco e heterogêneo da “Nova República”, com um presidente vacilante e sem projeto indicado pela dissidência do regime militar que se revelou incapaz de enfrentar a profunda crise econômica. Esta crise tem raízes no início dos anos 70 e sua trajetória de desgaste tornou-se irreversível depois da política suicida de recessão, imposta ao País no período de 1981/1984.

Os direitos e conquistas sociais afirmados pela Constituição de 1988 estão sendo gradualmente retalhados por medidas provisórias e legislação ordinária “que come a Constituição pelas beiradas”, e o que é necessário, na atual conjuntura econômica e social é que as leis do País coloquem a Constituição em prática para atenuar o caos social instalado.

Não está, portanto, a oposição e, menos ainda, o PMDB, como muitos querem fazer ver à opinião pública, entrincheirada na crença de que não é possível o avanço democrático sem contar efetivamente com a sociedade e com a mobilização popular, da qual não abrimos mão. Não aceitamos a idéia de que ou se negocia ou se mobiliza. Não é assim. Sem mobilização popular, o diálogo é vazio; sem que realmente falemos em nome de alguém, ou de muitos que estão por trás de nós, dizemos, as nossas palavras transformaram-se em mero acordo de elites, que se vai desfazer ao primeiro embate com uma sociedade vigorosa. Nós preferimos ficar entrincheirados na sociedade a corrermos o risco de capitular, mesmo que tenhamos tido a mais alta motivação nos corredores palacianos.

Assim, a lenta e complexa passagem da ditadura para a democracia exigiu forte dose de sacrifício político.

Se o PMDB errou, foi por não ter explicado com maior nitidez a natureza e as contradições da transição institucional.

Mas o PMDB não fugiu à responsabilidade. Foi fiel ao compromisso de levar até o fim o processo de transição, liderando a elaboração da nova carta.

A incompreensão é, entretanto, verdadeira. Parcela importante da população confunde o PMDB com governo Sarney e, equivocadamente, considera o PDMB principal responsável pelo atual estado caótico no que aos indicadores sociais do Brasil, pois na verdade foi, sem nunca ter sido.

A presidência da República é o núcleo do poder. É dela a responsabilidade e a capacidade para executar as reformas que o País precisa para sair da crise. O PMDB participou e participará do governo, mas sua influência nas decisões foi sempre decrescente e nunca, na realidade, ele teve o poder nas mãos.

É essencial retomar o diálogo direto com o povo. É preciso explicar que o PMDB honrou seu compromisso com a democracia, foi fiel ao seu programa, nunca agiu de má-fé, nem traiu os interesses da população brasileira. Ao contrário, é cotidianamente atingido pelos fisiológicos que usufruíram os seus palanques, dos seus momentos de glória para garantir os seus mandatos ou a continuidade deles e desembarcaram, sem cerimônias, atirando pedras, numa demonstração cabal e inequívoca da ciranda dos partidos políticos, onde reina absoluta e soberana a infidelidade partidária. Trocam mais estes “conhecidos senhores” de partido, do que camisa de uso diário.

É necessário ter coragem política para discutir e assumir as falhas de nossa responsabilidade. É imperioso explicar ao povo, com clareza insofismável, que o PMDB sacrificou politicamente o seu maior líder, seu timoneiro, o saudoso deputado Ulysses Guimarães, portanto ambos não merecem levianas acusações de oportunismo, pois os adesistas fisiológicos e oportunistas vêm de outra origem, de outros pontos de partida e têm outros endereços, pois aceitamos pagar um preço muito alto pela coerência e principalmente para assegurar, na lei maior da República, a conquista da democracia, do Estado de Direito e, principalmente, a liberdade escrita na Constituição Cidadã.

Nos 310 anos de história de Curitiba, o PMDB ocupou por duas vezes a prefeitura da cidade, no período de 1983 a 1985, com Maurício Fruet nomeado pelo governador José Richa, e com o inestimável apoio do então deputado estadual Roberto Requião; e depois, no período de 1986 a 1988, quando o mesmo deputado estadual, Roberto Requião, foi eleito prefeito em memorável eleição, em 1985, quando no início contava com apenas 6% de aprovação nos índices de pesquisa à época, contra 60% do ex-prefeito Jaime Lerner.

O PMDB no Estado do Paraná foi poder com as eleições de José Richa, em 1982, com Alvaro Dias, em 1986, e Roberto Requião em 1990, este último, voltando ao poder pela vontade popular ao governo do Estado em 2002, sendo que nesta eleição não houve coligações no primeiro turno, eleito no segundo turno, vencendo os dois turnos na cidade de Curitiba.

Em recente pesquisa realizada pela empresa Foco Pesquisas, a qual já trabalhou para o PMDB na campanha ao governo do Estado, foram ouvidos 252 eleitores filiados ao PMDB, e contatou-se que mais de 75% destes são favoráveis à candidatura própria. A margem de erro estimada pela Foco é de 5%.

Isto posto, entendo legítima e necessária a candidatura própria do PMDB no primeiro turno das eleições de 2004, sob pena de soçobrar o maior partido do Brasil, desintegrando-se em Curitiba e ficando no Paraná refém de pseudoalianças, com as salvaguardas importantes e necessárias.

Este será o meu voto, e como tal, concito todos peemedebistas lúcidos de Curitiba, que façam a coerência imperar, votando pela candidatura própria, deixando para um segundo momento a política de alianças e aliados ainda que no primeiro turno. Em Curitiba, o PMDB sobreviverá, em que pesem alguns de seus altos dirigentes trabalharem por outras legendas partidárias que não as suas próprias.

Parafraseando o legendário Ulysses, saúdo sua excelência, o militante peemedebista!

Paulo Salamuni, procurador municipal, vereador de Curitiba no seu 4º mandato, líder do PMDB na Câmara Municipal de Curitiba

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