Planejamento é o caminho

O título de capitalização, infelizmente como ferramenta de formação de capital, é pouco conhecido até mesmo por profissionais de seguros e finanças pessoais. Na verdade, poucos compreendem sua eficácia no aspecto do planejamento pessoal. Muito foi dito e falado sobre a suprema importância do planejamento para o sucesso financeiro dos indivíduos, aliás, essa organização é uma das poucas unanimidades entre os especialistas como meio de controlar o impulso consumista de nós brasileiros. É igualmente importante registrar que é um equívoco comparar a capitalização com qualquer outro tipo de investimento, pois o propósito do título não é tão-somente proporcionar ao titular a capitalização das suas contribuições, mas principalmente a disciplina na conquista da educação financeira. Sob a ótica da rentabilidade, está longe de ser um investimento que proporcione ganhos altos (na verdade são bem modestos), contudo, ele é de suma importância para o desenvolvimento na formação de poupança individual, principalmente para aqueles indivíduos que nunca conseguem poupar.

A educação financeira proporcionou o salutar hábito que os europeus, japoneses e, sobretudo, a população do Norte do continente americano desenvolveram, ao longo de décadas, na formação da poupança interna de seus países. Reparem que alguns desses representam na atualidade a parte mais rica do globo terrestre. E tudo começa da mesma forma como o personagem tão simpático e hilário do mundo das histórias em quadrinhos de Walt Disney, que iniciou sua fortuna juntando, ou melhor, poupando a sua primeira moedinha. O Tio Patinhas com toda certeza não pediu um empréstimo ao banco para iniciar seu meganegócio, tampouco investiu em um fundo de investimento para dobrar seu império. Essa historinha infantil deixou de ser ficção do mundo dos quadrinhos, para se tornar realidade para muitos que através de depósitos regulares juntaram dinheiro suficiente para investir em algo mais rentável.

Faço questão de registrar que não sou contra fundos de investimentos, ações, “commodities” ou qualquer outro tipo de aplicação, ao contrário, alguns são seguros e desfrutam de boa rentabilidade, entretanto, não se pode argumentar como se cada brasileiro tivesse disponíveis R$ 5 mil ou R$ 30 mil para investimento imediato. A nossa realidade é completamente adversa: os poupadores são cada vez mais raros e, quando digo poupadores, não estou me referindo àqueles que ganharam uma bolada de um dia para outro como dinheiro de herança, jogo do bicho, loto, sena ou em qualquer jogo de azar. O poupador é aquele que periodicamente constitui uma parte de seus ganhos com o objetivo de constituir reservas para investimentos futuros. Li algum tempo atrás (para minha tristeza, mas não para minha surpresa) que a maior parte daqueles ganhadores de prêmios da antiga Loteria Esportiva e alguns até da Loto, saíram gastando tudo que receberam e até perderam todo o patrimônio ganho no jogo. A grande questão é por que isso aconteceu? Porque ganharam o peixe de mão beijada, mas não aprenderam a pescar.

Para cada indivíduo, não importando a qual classe econômica pertença, que tenha um sonho material, é bem provável que o título de capitalização possa ser o único, ou um dos poucos instrumentos de formação de capital que lhe ajude na realização do seu sonho. Como? A regularidade das contribuições mensais cria algo fundamental no êxito e triunfo financeiro: formam o hábito. Muitos me perguntam por que a poupança não substitui o título? A resposta é simples: na poupança a qualquer momento você pode parar de depositar e até sacar tudo que depositou, não há uma medida de restrição que iniba o resgate, e este ponto é fundamental no processo do aprendizado da educação financeira. Quem tem filhos pequenos sabe como é chato ter de convencer todos os dias os pequenos a escovar os dentes, mas, passado algum tempo, cria-se ou desperta-se a necessidade da higiene bucal, e de tanto repetir a mesma rotina (de escovar os dentes), desenvolve-se o hábito.

Se perguntarmos a alguém que tenha chegado ao final das contribuições de um plano de capitalização, se ele, em algum momento, pensou em desistir, haverá quase uma unanimidade no sentido de que, por diversas vezes, sentiu-se tentado ao resgate, principalmente no início, mas se houvesse a desistência no meio do percurso, haveria algum tipo de perda financeira. Este pequeno detalhe (que para muitos é algo negativo) na verdade é o que faz a diferença entre o sucesso e o fracasso na capacidade de acumular dinheiro. Se o saque fosse liberado sem qualquer ônus para retirada integral dos valores poupados, apenas uma minoria muito seleta chegaria ao final de um título de capitalização.

Hoje podemos programar: a troca do carro, a viagem dos filhos para o exterior, a compra da televisão, da moto, a compra da casa e até mesmo a garantia do aluguel investindo em um título de capitalização, com a mínima burocracia possível. Precisamos, como indivíduos e como povo, quebrar paradigmas que só têm contribuído para a manutenção da escravidão financeira que atinge um número cada vez maior de brasileiros. A quem interessa a nossa dependência econômica? Esta pergunta formulo a cada leitor. O propósito do título de capitalização é dos mais nobres e, desde a sua origem, na França, pelos idos de 1850, ajudou milhares de pessoas no planeta a aprenderem a poupar. Se realmente entendermos a que se destina o investimento em um título de capitalização, no futuro (quem sabe próximo) deveremos aos bancos e financeiras muito menos do que devemos hoje.

Albano Costa Gonçalves

é consultor especializado em seguros e professor da Funenseg (Fundação Escola Nacional de Seguros).

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