Planalto pressiona relator para poupar Dirceu, Genoino e Pereira

A três dias da apresentação do relatório final da CPI dos Correios, o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) está sendo pressionado para abrandar o conteúdo de seu texto e poupar o ex-ministro José Dirceu e dois ex-dirigentes do PT: José Genoino e Sílvio Pereira. Além do ex-ministro Luiz Gushiken, que Serraglio desistiu de pedir o indiciamento, o relator pretendia enviar ao Ministério Público os nomes de Dirceu, Genoino e Sílvio para que fossem responsabilizados criminalmente por participação no escândalo de caixa dois operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para o PT.

Integrantes da cúpula da CPI dos Correios afirmaram que o Palácio do Planalto pressiona fortemente Serraglio para voltar atrás no pedido de indiciamento dos petistas. O governo quer que o relator peça o indiciamento apenas do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que assumiu toda a culpa sozinho do esquema de Marcos Valério com os petistas. Segundo parlamentares, a cúpula do PMDB entrou em campo e estaria tentado convencer Serraglio a suavizar seu relatório final.

Na semana passada, o relator anunciou que, entre as mais de cem pessoas que terão seu indiciamento pedido pela CPI dos Correios, estavam os ex-ministro Gushiken e José Dirceu. Ontem, Serraglio admitiu rever o pedido de indiciamento de Gushiken, envolvido em supostas irregularidades em contratos de publicidade com estatais na época em que comandava a Secretaria de Comunicação da Presidência da República.

O ministro Waldir Pires, da Controladoria Geral da União (CGU), pediu por telefone a Serraglio e ao presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a reconsideração do pedido de indiciamento de Gushiken. "Não posso interferir em nada da CPI, mas pedi atenção ao relatório feito pela CGU que não responsabiliza sequer administrativamente o Gushiken", disse hoje Waldir Pires, à Agência Estado. Ele negou ainda que tenha pressionado o relator para retirar o nome do ex-ministro da lista de pedidos de indiciamento.

O presidente Delcídio Amaral foi hoje à tribuna do Senado para rebater as informações de que a cúpula da CPI dos Correios está sendo pressionada para abrandar o relatório final com as conclusões das investigações do valerioduto. "Existem muitas versões, as mais variadas, de que estariam discutindo indiciamento, de que estariam tentando acomodar as coisas, abafar as questões, desaparecer com cruzamentos, principalmente associados a saques em agências de vários bancos que surgiram ao longo de todas essas denúncias ou cujos dirigentes foram ouvidos na CPI dos Correios", discursou o petista. "Mas o importante e fundamental é registrar que temos discutido com absoluta transparência todas essas questões, desde a origem dos recursos até a análise dos contratos", afirmou Delcídio.

Em seu discurso, o presidente da CPI aproveitou ainda para reclamar das críticas feitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que há abusos nas investigações parlamentares. As críticas do Supremo foram feitas durante julgamento de mandado de segurança contra requerimento da CPI dos Correios para quebra de sigilo bancário e telefônico de uma corretora que atua junto ao Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). "Fiquei surpreso com comentários feitos de que os requerimentos não tinham consistência ou substância. Além disso, nunca invadimos o sigilo das pessoas, principalmente causando danos, desobedecendo ou, mais do que nunca, ferindo direitos individuais", afirmou o senador.

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