Pinhão-manso é matéria-prima para biocombustível

O óleo produzido a partir da semente de pinhão-manso é semelhante ao do diesel extraído do petróleo. As propriedades encontradas no biocombustível atendem às especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para o petrodiesel. Esta qualidade destaca a espécie para integrar o time de plantas oleaginosas que irão compor o programa de produção de combustível vegetal na região seca do nordeste. É uma planta de grande potencial, assegura o pesquisador José Barbosa dos Anjos, da Embrapa Semi-Árido, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Diante do regime irregular de chuvas do sertão nordestino, o pinhão-manso tem uma vantagem dentre outras plantas oleaginosas: é a única com ciclo produtivo que se estende por mais de 40 anos. A mamona, que produz um óleo essencial com uso em mais de 400 produtos da indústria química, precisa ser replantada a cada um ou dois anos a depender da quantidade de chuvas.

O pinhão também se adapta bem a solos de pouca fertilidade, bastante comuns na região. O rendimento do óleo na semente do pinhão é de 30% a 40% – abaixo da mamona, que pode render algo entre 45% e 50%. No entanto, como o agricultor não terá necessidade de plantar novamente a cultura por mais de 40 anos, o custo de produção fica bastante reduzido. Estas características favorecem sua produção em escala de grande produção quanto a das pequenas propriedades dos agricultores familiares, ressalta o pesquisador Marcos Antônio Drumond, da Embrapa Semi-Árido.

Convivência e negócios

Atualmente, ao lado da mamona, há uma forte demanda da iniciativa privada e de instâncias dos governos federal, estadual e municipal por informações acerca do sistema de produção do pinhão nas condições de sequeiro do nordeste. Em Jacobina, 350 km de Salvador (BA), está em fase de instalação um projeto que prevê implantar mil ha desta oleaginosa para fins de produção de óleo combustível.

Em outro empreendimento privado, a empresa Biodiesel do Vale do São Francisco, sediada em Petrolina, a 750 km de Recife, irá processar biodiesel a partir de mamona e pinhão-manso. Esta empresa é recém-adquirida pelo grupo português, que atua no setor energético. Na área pública, a Petrobras estuda o uso da planta em usina que pretende instalar na cidade mineira de Montes Claros com capacidade de processar até 40 milhões de litros por ano.

Com um olho na convivência com o semi-árido e outro na participação dos agricultores familiares no programa do biodiesel do governo federal, a Prefeitura do município baiano de Andorinhas, cerca de 400 km de Salvador, também avalia seriamente o emprego do pinhão- manso num projeto de diversificação produtiva para pequenas propriedades de 2 ha. A oleaginosa deverá ser plantada em consórcio com uma forrageira (capim bufel) em áreas onde o solo não é adequado para o cultivo da mamona. A Prefeitura quer aumentar a capacidade suporte alimentar para os rebanhos caprinos, que são a base da economia do município, e estar em condições de integrar iniciativas de produção de biocombustíveis, afirma o técnico em Agropecuária Sivaldo da Silva Gomes, da Prefeitura.

Pesquisa

Para Marcos Drumond, se assiste hoje, de certa forma, uma corrida pelo cultivo de pinhão- manso no semi-árido. Ele, contudo, salienta que as pesquisas com a planta na região ainda são bem recentes e é preciso ser prudente e buscar as informações técnicas já disponíveis para que não se venha a montar sistemas de produção insustentáveis. Os pesquisadores da Embrapa estão realizando testes com a cultura em campos experimentais dos municípios de Petrolina (PE), Araripina (PE), Senhor do Bonfim (BA) e Nossa Senhora da Glória (SE).

Testes conduzidos em área do Escritório de Petrolina da Embrapa Transferência de Tecnologia apontam a possibilidade de uma safra de 200-250 kg por hectare já nos primeiros 6-7 meses após o plantio. É um resultado surpreendente, afirma Marcos. Em registros de produção de países como Índia e Tailândia, onde o pinhão-manso é utilizado para processamento de biodiesel, a colheita do pinhão se dá apenas um ano após o cultivo e alcança, no quarto ano a estabilidade de produção em torno de 1.000 a 2.000 kg/ha.

Marcos acredita que a produção no semi-árido deve atingir esta marca também. E, afirma, como o agricultor só vai precisar investir uma vez na implantação da cultura, é um índice de produtividade que pode ser considerada excelente nas condições do regime de chuvas irregular do semi-árido nordestino, destaca o pesquisador. Sob irrigação, o pesquisador estima que a safra por hectare pode chegar a dobrar (2.000 a 4.000 kg/ha).

Colza

O pesquisador José Barbosa dos Anjos destaca outra importante qualidade do pinhão-manso. Segundo ele, o óleo da semente desta planta é parecido com o da colza, uma variedade de couve e da mesma família da canola, e que é muito usado na indústria química da Europa.

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