Pinhão com macaxeira

Esta é para os adeptos do “Sul é o meu País” e outras baboseiras do gênero, como o pânico infantil de que, com a alardeada “qualidade de vida” da capital paranaense, os abomináveis nordestinos despenquem para cá, transformando a nossa bela Curitiba numa São Paulo em miniatura: você sabia que o Nordeste, tido como o grande “ralo” das verbas federais, dá por ano US$ 3 bilhões, a mais do que recebe da União? E que os investimentos do governo federal na região caíram para menos da metade do que era nos anos 70?

Os números são de um detalhado estudo encomendado pelo governador de Sergipe, João Alves, e estão na revista Veja desta semana. Logo, a tese separatista de que o Sul Maravilha carrega o Nordeste nas costas virou conto da carochinha. É evidente que o marketing da terra prometida, com indústrias multinacionais, empregos diretos e indiretos, campo farto e cidades arborizadas e tranqüilas tende a atrair um grande número de brasileiros (e não só nordestinos) fustigados pela crise, e que o mercado paranaense, já reduzido, não tem condições de absorver essa gente.

Até porque esse eldorado é uma miragem. Do paraíso das montadoras, a Chrysler fechou, a Audi quebra a cabeça para manter os funcionários e a Renault começa a achar que deu com os burros n?água no Brasil. A agroindústria vai bem, obrigado, mas normalmente não é o tipo de emprego que se busca nessas aventuras.

Quanto à tranqüilidade, quem mora em Curitiba sabe que não é bem assim. Assaltos mirabolantes em edifícios, seqüestros-relâmpago, roubo de automóveis, tiroteios, atentados, acertos de conta e outras modalidades de crimes vêm crescendo numa velocidade espantosa. Sem falar no clima, tão glacial quanto a recepção que costumam ter os forasteiros, particularmente os oriundos da boa e quente terra nordestina.

Como se não bastasse, a praia mais próxima está a 100 km, e é capaz de matar de depressão quem está acostumado com Porto de Galinhas (PE), Praia do Gunga (AL) ou a Praia do Futuro (CE), só para citar algumas. E o carnaval? Tão animado quanto o Dia de Finados em São Petersburgo, apesar dos esforços de migrantes ilustres e empedernidos, como o Ceará e seu Forró Calamengau, que vem operando milagres com os curitibanos.

Não fosse por isso, pela sacanagem com nossos irmãos lá de cima, o melhor que poderia acontecer por aqui seria uma invasão “cabeça-chata”. Que venham os pernambucanos com seus mamulengos e seu maracatu, que venham os maranhenses com o bumba-meu-boi, os cearenses com o artesanato, os baianos com suas iguarias e seus santos, os potiguares com sua simpatia, os alagoanos com sua alegria de viver, os paraibanos com sua fibra, e mais os cariocas, goianos, mato-grossenses, acreanos, paulistas e todos os brasileiros, para que Curitiba se assuma como Brasil e deixe de invejar a Europa. De uma vez por todas.

Luigi Poniwass  (luigi@pron.com.br) é editor do Almanaque em O Estado

Voltar ao topo