Perejil e Stilton

O reinado de Marrocos e a peninsular Espanha quase chegaram a um conflito armado por causa da ilha das Salsinhas. Dias depois, um novo conflito internacional se armou, pois um súdito da rainha da Grã-Bretanha, com pretensões de representar o Reino Unido, invadiu uma ilha nas proximidades de Ibiza, Ilhas Baleares, dando-lhe o nome de Stilton, um conhecido queijo inglês. Collin Powel, que só não foi candidato a presidente dos Estados Unidos por ser negro, mas é o todo-poderoso secretário de Estado, teve de intervir para restabelecer a paz entre espanhóis e marroquinos. Diga-se de passagem que não foi candidato a presidente porque sua esposa, também negra, considerou que sua cor e raça poderiam significar um perigo, num país em que faz parte dos usos e costumes assassinar presidentes.

A ilha das Salsinhas (ou Perejil, em espanhol, e Leila, em árabe), é um minúsculo rochedo desabitado e inabitável, no Estreito de Gibraltar, a poucos metros da costa marroquina. Entenderam os árabes que era sua, e embora não saibam o que fazer com ela, mandaram uns soldados para lá e tomaram posse. O sangue quente espanhol ferveu. Mandaram de imediato soldados armados até os dentes para expulsar os marroquinos. O que foi feito, sem derramamento de sangue. A ilha voltou ao seu estado desértico, sem outra serventia senão a de ser motivo para uma guerra. Tipo Malvinas ou Falklands, se bem que aqui se tratam de ilhas maiores, quase inóspitas, geladas e que não justificariam um conflito com tantas perdas de vidas. Mas a raça humana não consegue passar muito tempo sem uma rinha e sempre haverá orgulhos feridos, direitos a serem afirmados e conquistas a lustrar medalhas nos peitos de heróis.

Depois da implosão da União Soviética e da demolição da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim, renasceram nacionalismos que se encontravam dormentes sob ferozes ditaduras. Os chechenos lutam por sua independência da Rússia ou do que restou da gigantesca e poderosa União Soviética. A antiga Iugoslávia, sem Tito e sem o comunismo, esfarelou-se e recrudesceram as rivalidades entre várias nações, a ponto de o mundo assistir, estarrecido, a genocídios. Repetiram-se inúmeras guerras onde fracassou o diálogo político. Mas com Powel, que não conseguiu resolver o conflito maior do Oriente Médio entre israelenses e palestinos, resolveu-se o problema das Salsinhas. Decidiu-se que fica tudo como está, para ver como é que fica.

Mas um novo conflito começou com um ato audacioso e bem-humorado de um jornalista britânico, Stephen Moss, que, se não resultar em tiros, por certo se esvairá em gostosas risadas mundo afora. Stephen vestiu-se como o famoso navegador inglês do século XVI sir Walter Raleigh, pegou um pedalinho na ilha de Ibiza, em Baleares, Espanha, e invadiu uma ilhota deserta e pedregosa, Las Ratas. Nela, plantou a bandeira britânica e avisou seu governo que a conquistara em nome da coroa britânica. Comunicou-se com as autoridades de Ibiza, mas ninguém falava inglês. O jornalista, depois de seu ato heróico, ridicularizando o caso de Perejil, deixou a ilhota que integrou ao império britânico. Mas teve o cuidado de, antes, lá colocar um soldadinho de chumbo, Gordon, para garantir a posse daquela pedreira para o Reino Unido. Sua atitude quixotesca merece aplausos. Foi um herói, capaz de rir e fazer rir num mundo tão idiotizado que é possível guerrear por um inútil rochedo chamado Salsinhas.

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