Pensão para médicos

O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) está dando um importante passo para dotar a classe que representa de um fundo que pague, na aposentadoria, uma importância complementar aos ridículos proventos de inatividade oferecidos pela previdência pública. Os médicos brasileiros durante muito tempo figuraram na nata da nossa sociedade por seus méritos profissionais, o que é justo, e pelas elevadas remunerações, o que é discutível. Num país de grande número de analfabetos e iletrados, um título universitário de médico gerava uma espécie de temor reverencial; um endeusamento exagerado e o esquecimento – lamentável – de que médicos são profissionais especiais, mas raramente excepcionais. Usam a experiência, seus conhecimentos e a ciência. Não são milagreiros. E como não são, têm em suas vidas e de seus familiares necessidades como outras famílias, mesmo que se situem na chamada classe alta.

A socialização da medicina, que no Brasil se faz mais pela necessidade que por um plano coerente e organizado, e o fato de vivermos em um país de povo com enormes carências e, conseqüentemente, precária saúde, colocou os médicos numa condição de verdadeiros operários da medicina. Trabalham muito, têm de se sujeitar a diversos e mal-remunerados empregos, ficaram reféns dos planos de saúde e de pagamentos por consultas e procedimentos inadequados.

Enfim, passaram a ganhar pouco em relação ao que, no passado, a sociedade lhes reservava, guindando-os a uma posição de classe especial, privilegiada.

A entidade médica paranaense, em boa hora, olhando a realidade de seus associados, está em contato com a Petros, segundo maior fundo de pensão do País, para integrar a nossa classe médica em seu plano de previdência complementar, agora facilitado por nova legislação e estimulado pelas autoridades.

A motivação do governo é, antes de mais nada, justificar as baixas aposentadorias que seu sistema público oferece e as dificuldades do Tesouro, que tem de socorrer com muitos bilhões o INSS. A aposentadoria complementar sairá dos bolsos dos futuros beneficiários e existe em todos os países desenvolvidos. Será vantajosa para os médicos, como o será para todas as outras classes de trabalhadores que tomarem iniciativas da mesma natureza.

Mas o sistema de fundos de aposentadoria complementar tem outra e importante vantagem: gera ativos capazes de, dirigidos para o setor produtivo e em busca de lucros para sustentar as pensões que terá de pagar, ajudar a promover o desenvolvimento do País.

Os fundos de pensão atuaram com eficácia em muitas compras e privatizações de empresas e poderão integralizar capitais em novos e existentes empreendimentos e empresas que o progresso do Brasil reclama. É um instrumento de socialização do capitalismo, muito bem utilizado em países como, por exemplo, os Estados Unidos e a Alemanha. Nesses países, sindicatos de trabalhadores são sócios de grandes empresas, das quais seus associados são ou não empregados. E possuem, entre outras coisas, até bancos.

No Brasil, ainda estamos na fase incipiente de termos parte das empresas nas mãos de grupos, uma fase embrionária do sistema capitalista que a poucos aproveita e, não raro, depois de duas ou três gerações, acaba. Os fundos de pensão são um eficiente instrumento capaz de mudar esse quadro, dotando o País de capitais e, ao mesmo tempo, reservando para classes como a dos médicos paranaenses, uma aposentadoria merecida e condigna.

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