Peixe graúdo

A novela continua igual: todos juram inocência, como faziam desde o início, mas o inquérito da Polícia Federal, concluído, os aponta como partícipes ou envolvidos nas fraudes cometidas com recursos da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – Sudam. Lá estão os peixes graúdos Jader Barbalho, ex-governador do Pará, ex-senador e ex-presidente do Senado Federal, e a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney com seu marido Jorge Murad, a encabeçar uma grande lista de vinte e duas pessoas.

Quem está mais complicado é o primeiro. Contra a alegada inocência de Jader estão cinco cheques de R$ 550 mil cada um, trocados com um doleiro em Belém. Os recursos teriam ido parar na mão do então presidente do Senado que, usando de seus bons contatos, teria facilitado o andamento de papéis necessários à liberação de recursos. Roseana e Murad são acusados de formação de organização criminosa, tráfico de influências, peculato e lavagem de dinheiro. Embora os documentos apreendidos em janeiro na empresa Lunus Serviços e Participações, de propriedade do casal, estejam ainda lacrados por ordem do Tribunal Regional Federal, o relatório aponta indícios de que aqueles pacotes de dinheiro encontrados quando Roseana ainda sonhava com a Presidência da República podem ter origem nos malversados recursos da Sudam, conforme suspeita inicial.

“Nada foi provado”, reagiu de imediato a ex-governadora, enquanto seu advogado admitia acreditar que tenha havido, mesmo, irregularidade na liberação do dinheiro, mas que a culpa, segundo afirma, deve ser buscada no lombo do governo federal (onde agia com grande desenvoltura e influência o político Jader Barbalho). Na mesma vala dos suspeitos estão os ex-superintendentes do extinto órgão, José Artur Guedes Tourinho e Maurício Vasconcelos. O projeto Usimar, fantasma de tudo, continua assim a desafiar a capacidade investigativa da polícia, acusada pelos influentes – e até agora únicos – suspeitos de estar a serviço de diabólicas tramas políticas. Ninguém leva muita fé no que Roseana escreve em notas encaminhadas a órgãos da imprensa, tentando atingir a autoridade máxima do País ao afirmar que quem nomeia e libera os recursos é o próprio presidente da República…

Os desvios da Sudam, envolvendo pessoas do então primeiro time da política nacional, deixam pequenas as outras denúncias de que se ocupa a polícia atualmente em território paulista, que atiraram na mesma malha dos corruptos algumas lideranças políticas do Partido dos Trabalhadores. Cá como lá também juram inocência e formulam acusações de maquiavélicos envolvimentos da Polícia Federal, como se a investigação policial tivesse que seguir assépticos modelos de uma cirurgia. Os dois fatos – principalmente o primeiro – fazem-nos rir dos que pretendiam a intervenção do governo federal sobre o governo do Espírito Santo, ante o argumento de que ali o crime organizado teria contaminado de morte as instituições. Que dizer de um presidente do Senado envolvido numa operação de desvio de dinheiro público?

O indiciamento dos apontados no inquérito ainda não foi feito. Deverá acontecer nos próximos dias, caso algum recurso inesperado não obtenha sucesso ou alguma prerrogativa nova não seja invocada. Fossem eles ladrões de galinha e já estariam presos preventivamente. De qualquer forma, é imprescindível que as investigações desçam até o fundo de tudo. A nação exige.

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