Pedra sobre pedra

É conhecida a incontinência verbal do presidente Lula. Aplaudida por muitos, é criticada por analistas mais exigentes, pois lhes parece que, fugindo ao ?script? dos discursos, o chefe da nação tenha por vezes acrescentado impropriedades que poderiam ser evitadas. Populista ou popularesco, ele costuma, mesmo nas piores horas e quando tratando de assuntos de importância vital para o governo e o País, falar de futebol e do seu Corinthians, garantindo assim pelo menos o aplauso de uma torcida, embora possa estar provocando a distorção da análise dos problemas brasileiros e de suas soluções. Mas é um estilo e, embora pudesse ser evitado, não compromete sua atuação.

Na fala semanal que faz no rádio, ele abordou o atualíssimo problema da epidemia de negociatas que assola o País. Escusou-se e escusou o governo didaticamente, explicando que há atos de punição que cabem ao Executivo, mas outros são de obrigação da polícia ou do Judiciário. Aí, um equívoco, pois a polícia é parte do Executivo. Mas deixou claro àqueles do povo que esperam que Lula mande prender e arrebentar (lembrem-se do presidente general Figueiredo!), que o seu governo nem tudo pode. Neste País há uma Constituição e todo um arcabouço legal e é indispensável obedecê-lo. Assim, ele não tem poderes para prender quem quer que seja, a menos que haja condenação pela Justiça.

Com tais limitações e para satisfazer a justa ira do povo, que quer ver os ladrões na cadeia, disse que seu governo, para desmontar a corrupção, não deixará ?pedra sobre pedra?. Mas, até lá, não mexe no governo, pois ninguém foi julgado e condenado.

Está certo, mas em termos.

O governo é, antes de mais nada, um instrumento político. Este, mais que muitos outros, porque formado de vários partidos e com uma base de sustentação que teria sido formada na base da compra de apoios com malas de dinheiro. Nada provado, mas o senador Tião Viana, do próprio PT, primeiro vice-presidente do Senado, pediu que todos os ministros petistas coloquem seus cargos à disposição do presidente Lula. Também que o façam os petistas filiados que ocupam cargos de confiança do governo. O Planalto não deu a mínima para a proposta e houve quem a achou ridícula. Entretanto, é uma proposta séria e oportuna.

Se é para não deixar pedra sobre pedra na luta contra a corrupção, nada melhor do que demolir o edifício governamental, já que há quem o considere balouçante e cheio de corruptos. Sem ?a turma? ao seu redor, através de um pedido de demissão que não significa confissão, mas oferecimento de liberdade para que o presidente remonte o governo, será muito mais fácil reconstruir ou construir um novo que esteja vacinado contra a epidemia de corrupção.

Lula precisa se convencer que não há nenhum ?companheiro? acima de qualquer suspeita.

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