Pátria de chuteiras

O Brasil foi escolhido pela Fifa (era o único candidato) para sediar a Copa do Mundo de 2014. Em meio a manifestações de euforia e patriotismo incontido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deitou falação para perorar com uma afirmação, no mínimo, antipática: ?Vamos fazer uma Copa para argentino nenhum botar defeito?.

A conquista brasileira, mais que o tácito reconhecimento da extraordinária qualidade de seu futebol, tem tudo para significar o elo restante da grande corrente pelo desenvolvimento econômico com paz e justiça social, que a população aguarda há tanto tempo. O Brasil é hoje uma potência emergente já preparada para integrar o seletíssimo grupo das economias mais pujantes do planeta, e a Copa passa a ser sua principal vitrine.

É natural supor que a responsabilidade é gigantesca e que o poder público estará obrigado a realizar investimentos de vulto na adequação da infra-estrutura e de muitos estádios, embora para um evento dessa magnitude se reserve à iniciativa privada a maior parte das intervenções recomendadas pelo caderno de encargos que deverá ser cumprido rigorosamente até o início das competições.

Como não podia deixar de acontecer, a chiadeira já começou. Os importantes jornais londrinos, Financial Times e The Independent, declaram que a Copa no Brasil pode se transformar num vexame. O FT chegou a usar o termo ?caos?, por conta da ?corrupção e da falta de infra-estrutura?. Dezoito cidades lutam para estar entre as 12 sedes dos jogos, mas o FT assinala que ?nenhuma delas tem um estádio que faça jus à tarefa?. Com as reformas preconizadas pela Fifa não é possível imaginar que Maracanã, Morumbi, Mineirão e Beira-Rio, entre outros, não tenham condições ideais para sediar jogos da maior competição mundial do futebol.

A preocupação dos editores londrinos logo se espalhou e o fantasma dos elevados índices de criminalidade nas maiores cidades passou a ser invocado.

A discussão terá desdobramentos inevitáveis, mas a pergunta do Independent encerra a questão com proverbial fleuma britânica: Se a Copa não puder ser realizada no país cinco vezes vencedor, onde mais poderá?

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