Brasília (AE) – O PSDB, embora ainda descarte assumir uma palavra de ordem pró-cassação, decidiu elevar o tom dos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao governo. É um movimento articulado da cúpula tucana, do qual está fora apenas o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em reação ao que considera um tom abertamente eleitoral e de confrontação assumido por Lula. No fim de semana, os cardeais tucanos emitiram vários sinais da nova postura do partido.
Num artigo publicado ontem (07) pelo "Estado", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou o presidente de "gabola (quem se gaba a si mesmo) e desafiante" e disse que o Brasil é governado por "um bando de gente irresponsável". No texto, Fernando Henrique deixou claro também que a legenda, abandonando o comportamento adotado no início da crise, não se preocupará mais em preservar Lula ou estabelecer alguma espécie de diálogo. "Se crime de responsabilidade houver ou quebra de decoro parlamentar, sigam-se as regras estabelecidas na Constituição com todas as conseqüências", escreveu.
Num encontro em Florianópolis, realizado no sábado (06) pelo Instituto Teotônio Vilela, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin, também fizeram pesados ataques ao presidente e ao PT. Serra acusou a agremiação de virar "a legenda da transgressão à ética" e fez uma crítica ao "autismo" da administração federal no enfrentamento da atual fase.
"Há os governos que fazem acontecer e os que só ficam olhando o que só acontece. O governo Lula é do tipo que quer não saber o que está acontecendo", disse. Alckmin também partiu para o ataque ao dizer que Lula criou a "PPP do propinoduto", referindo-se às Parcerias Público-Privadas.
Segundo o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Alberto Goldman (SP), o aumento da agressividade dos tucanos é uma reação proporcional aos últimos pronunciamentos de Lula – em especial, o discurso feito por ele em Garanhuns (PE), na semana passada, em que praticamente assumiu uma candidatura à reeleição e disse que a oposição terá de engoli-lo porque sairá das urnas vitorioso.
"Está cada vez mais claro que a crise é muito ligada à figura do presidente, seja pelo seu envolvimento, seja pela agressividade com que ele passou a se comportar. Isso é uma democracia e ninguém tem de engolir nada", disse Goldman.
"Como o presidente parte para a confrontação, nós também respondemos no mesmo tom. É a lei da física: para cada ação, há uma reação", acrescenta o deputado Sebastião Madeira (MA), presidente do Instituto Tetônio Vilela Filho.
Entre os atos belicosos originários da administração federal, os tucanos incluem a última resolução tomada pelo Diretório Nacional do PT, no sábado, em que o partido fez uma autocrítica branda das próprias responsabilidades na crise e preferiu partir para o ataque às "estratégias oportunistas da direita", identificadas na oposição e na imprensa.
"Eles agem como se o presidente não tivesse nada a ver com nada e ainda pudesse sair incólume como grande estadista", afirma o vereador José Anibal, da capital paulista.
De acordo com os tucanos, embora o PSDB não partirá para o "Fora, Lula", não há possibilidade de acordo ou interlocução com o Poder Executivo. A senha foi dada pelo ex-presidente no artigo: investigue-se tudo até o fim.
