Volkswagen acusada de desrespeitar funcionários

O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba acusa a Volkswagen do Brasil de desrespeito com seus trabalhadores. No início do ano passado, a pedido do sindicato, o Ministério Público do Trabalho realizou uma investigação na empresa e descobriu 159 casos de funcionários vítimas de lesões por esforços repetitivos (LERs) e outras doenças de trabalho só na fábrica de São José dos Pinhais.

Segundo o diretor de saúde da entidade, Núncio Mannala, a empresa está deixando de fazer a emissão de diversas comunicações de acidente de trabalho (CAT), que deveriam ser encaminhadas ao INSS. “Muitas vezes, o médico da empresa está descaracterizando os problemas de saúde dos funcionários, não os identificando como sendo causados pela atividade profissional”, afirma. “Se a doença de trabalho for caracterizada, o funcionário precisa ser afastado por quinze dias e, ao retornar, tem direito a um ano de estabilidade garantida.”

Núncio revela que a montadora vem demitindo com grande intensidade trabalhadores doentes, que já não são mais capazes de trabalhar nas linhas de produção. “A Volkswagen sobrecarrega seus funcionários e, quando eles ficam doentes e não servem mais para o trabalho, os demitem sem dó”, denuncia. “Desempregados, em condições precárias de saúde para arrumar outro serviço e com problemas familiares e psicológicos, os trabalhadores procuram a Justiça, porém levam vários anos para conseguirem que seus direitos sejam respeitados pela empresa.”

Sobrecarga de trabalho e intensidade de horas extras fazem parte, na opinião de Núncio, do cotidiano dos trabalhadores. Segundo o sindicalista, muitas vezes, a empresa aumenta a produção além da capacidade física do funcionário. “Já ouvi relatos de pessoas que trabalharam até quatorze horas seguidas, dormiram três ou quatro horas e retornaram ao trabalho”, conta.

Funcionária

Uma funcionária, que não quis se identificar com medo de não mais ser aceita no mercado de trabalho, confirma as acusações. Ela foi contratada pela empresa em 12 de junho de 2000. No mês de novembro do mesmo ano, começou a sentir dores no braço direito e no ombro. Em fevereiro de 2001, procurou a empresa com um atestado médico que autorizava seu afastamento por quinze dias devido aos problemas de saúde relacionados ao trabalho. “Cheguei na empresa para comunicar que seria afastada, mas o ambulatório não quis receber meu atestado e fui demitida”, revela. “Tive tendinite no braço e problemas de coluna.” Com 35 anos de idade, ela diz que está inutilizada para o mercado de trabalho.

A funcionária está na Justiça e tenta um acordo com a Volkswagen. No fim do ano passado, em função dos problemas adquiridos no trabalho, ela precisou passar por uma cirurgia, na qual teve que retirar um pedaço de espinha dorsal inflamada, que ela conserva em formol como prova de que está realmente doente.

Empresa

A Volkswagen, por intermédio da assessoria de imprensa, nega que as acusações do sindicato sejam verdadeiras. A empresa afirma que emite a CAT sempre que reconhece que uma doença foi originada pelo trabalho. “Quando o INSS comprova que o problema de saúde foi causado por esforços no trabalho, sempre afastamos o funcionário e garantimos a estabilidade”, informa a assessoria.

Quanto à acusação de que os funcionários estão sendo sobrecarregados, a empresa alega que as horas-extras não fazem parte do dia-a-dia e de que os equipamentos utilizados na fábrica são modernos, evitando a sobrecarga de trabalho. “Nossa produção está diminuindo: em 2001, foi de 98 mil veículos; em 2002, foi de 97 mil”, informa a assessoria. “Não temos motivos para sobrecarregar os funcionários.”

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