O combate à violência, em especial dentro das escolas, é tema costumeiro nos debates nas diferentes esferas da sociedade. O problema é que limitar a violência aos espaços de ensino é ignorar a sociedade na qual está inserida. Educadores e sociólogos são unânimes em afirmar que o problema nas escolas é fruto da sociedade, ou seja, começa em casa, na outra ponta.
A saída encontrada pelas políticas educacionais atuais é cercar as escolas com muros e grades, muitas vezes coroados com arames farpados. A pergunta mais frequente dos educadores é se isso resolve o problema.
A resposta, segundo Janisley Aparecida Albuquerque, secretária educacional da APP-Sindicato, é taxativa. “O Estado oferece a polícia e não políticas sociais”, afirma.
Com a falta de políticas sociais eficientes, os alunos, que muitas vezes, sofrem com abusos e ameaças dentro da própria casa, acabam por descarregar suas frustrações na escola. “As redes de proteção não são eficientes”, diz Janisley.
A criminalização do comportamento juvenil é outro fator preocupante para a secretária. Prova disso são as ações tomadas para “reprimir o impulso” dos adolescentes. Como no caso do município de Ponta Grossa, onde 48 escolas estaduais possuem sistema de monitoramento.
A violência, no entanto, está longe dos corredores e pátios das escolas, a espreita dos mais vulneráveis. Exemplo é o caso ocorrido na Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, onde duas adolescentes foram abordadas a caminho da escola e estupradas por aproximadamente 15 jovens e adolescentes.
A escola proporciona o encontro de diferentes ideias, tornando-se um espaço propício para o debate de diferentes posicionamentos. Porém, não é o que ocorre. As saídas das escolas se tornaram pontos de encontro dos mais diferentes tipos. De pais e responsáveis que vão buscar aluno até pessoas sem vínculos com a escola, que enxergam ali uma oportunidade para “negócios”. As rixas são resolvidas no portão em frente à escola.
Para contornar a situação, Janisley afirma que é necessário um investimento não só na escola, mas também na sociedade que a cerca. “Cerca de 80% dos agressores sofreram violência em casa. Esses alunos convivem diariamente com isso, para eles é normal agir dessa forma”, relata a educadora. As escolas que mais sofrem com a violência são justamente aquelas que estão nos bairros mais violentos da capital e região metropolitana.
O investimento na educação deixa claro por que as estruturas educacionais estão em franca decadência. Enquanto uma escola particular investe cerca de R$ 8 mil ao ano por aluno, as escolas públicas investem R$ 2,4 mil. Menos do que é investido ao mês por detento. Ou seja, o Estado prefere investir na “recuperação” do delinquente ao invés de investir na educação, e evitar que eles precisem ser “recuperados”.


