Violência crescente assusta o Boa Vista

Os moradores do bairro Boa Vista, em Curitiba, estão cada dia mais assustados com a violência e a criminalidade. Assaltos na rua, arrombamentos de residências, roubos de carros e furtos são as modalidades de crime mais comuns, de acordo com a população.

Nenhum dos entrevistados quis se identificar porque têm medo de represálias. Mas exemplos não faltam. Um comerciante conta que tem um estabelecimento próximo ao terminal de ônibus do Boa Vista há sete anos e já foi assaltado sete vezes. ?Fui assaltado uma vez por ano?, indigna-se. Ele já está tão atordoado que nem tem mais opinião formada sobre o que fazer para melhorar a segurança. ?Acho que a única solução é mais policiamento?, desabafa.

Outro comerciante – que foi assaltado duas vezes – também está amedrontado. Na primeira, três bandidos armados invadiram sua casa, amarraram ele e sua esposa e ainda ?limparam? o local. O carro da família foi encontrado todo desmontado. Na segunda vez, o carro foi levado novamente. Desta vez, o veículo foi encontrado, mas depois dos bandidos viajarem até Foz do Iguaçu (oeste do Estado) e voltarem para Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. ?A gente não tem mais segurança em lugar nenhum. Não sabemos se vamos sair de casa e voltar vivos?, diz.

Outra comerciante teve seu carro roubado do lado de fora do hipermercado Big, no mesmo bairro. Ela conta que os indivíduos armados a abordaram e rodaram com ela por quase uma hora. Aliás, é a segunda vez que a comerciante tem seu carro roubado. O veículo foi recuperado, mas todo desmontado também. Ela não foi ferida, mas passou momentos de terror. ?O problema de sofrer uma violência não é tanto o material, mas é a segurança que o ladrão nos tira que preocupa e deixa a gente doente?, afirma. Outro senhor de mais idade que também teria seu carro roubado no bairro Boa Vista não teve a mesma sorte da comerciante: ao tentar colocar o banco para trás para descer, levou um tiro dos assaltantes.

Polícia

O major Douglas Dabul, da Polícia Militar do Paraná (PM), informa que a maior parte dos crimes do Boa Vista, cujas vítimas ligam para o 190 (telefone de emergência da PM) são: perturbação do sossego, roubo e furto. Ele disse ainda que estes crimes ocorrem em maior número das 18h à uma da madrugada. A quantidade desses crimes não foi informada por Dabul e a assessoria de imprensa da PM alegou que não seria possível divulgar os dados. De acordo com a assessoria da PM, as estatísticas só podem ser divulgadas quando a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) autoriza e somente são tornadas públicas quando são desenvolvidas ações contra a criminalidade.

Dabul informa também que no bairro Boa Vista, assim como em outros, são realizadas abordagens para tentar conter a criminalidade. ?É uma das únicas formas de tirar de circulação um indivíduo armado ou portando drogas?, comenta. Na opinião do major, é muito importante que as vítimas avisem a polícia sobre a ocorrência, mas que não usem o 190 para passar trotes, o que vem ocorrendo muito, segundo ele. O major Dabul acredita que parte do descrédito da população na polícia se deve a fatos que não competem aos policiais militares. ?Às vezes, a pessoa chama a polícia para atender uma ocorrência que não é caso de polícia. Então o policial não vai e, com isso, gera o descrédito. É um ciclo?, afirma.

Dabul aconselha os moradores do Boa Vista e de toda a cidade a aprenderem a ter comportamento de segurança, como muros altos – principalmente na parte de trás das casas -, portas bem trancadas e, ao chegar em casa de carro, observar antes se não há pessoas suspeitas por perto. ?Se observar alguém estranho tem que chamar a polícia, não pensar duas vezes?, diz. A reportagem tentou conversar com o delegado da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba, Itiro Hashitani, por dois dias, mas ele não atendeu.

Vítimas podem sofrer transtorno

A violência e a criminalidade podem deixar as vítimas gravemente doentes. É o chamado Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Os médicos alertam para os sintomas dessa doença e aconselham procurar ajuda antes que o transtorno se transforme em uma depressão e os medicamentos sejam inevitáveis.

O médico e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Osmar Ratzke, explica que traumas de curta duração logo depois de um assalto ou seqüestro, por exemplo, são comuns. ?É o chamado estresse traumático, que traz desespero, angústia, taquicardia e até desmaios?, diz o especialista. Mas quando este estado perdura por mais de uma semana e dura meses, é possível que já haja uma doença instalada. ?É claro que tudo depende da gravidade do fato e da personalidade da pessoa. Mas há muitos casos em que ela não quer nem mais sair de casa, fica remoendo tudo que aconteceu com os chamados flash backs, tem pesadelos, sente muita angústia, etc. Nesse caso já há o TEPT?, explica.

O médico conta também que casos de TEPT têm aumentado muito em seu consultório e que pelo menos 70% das pessoas acabam desenvolvendo uma doença pós o TEPT: a depressão. ?Aí temos que utilizar medicamentos, desde tranqüilizantes até anti-depressivos?, cita. O médico recomenda procurar ajuda a partir do momento que esse trauma que já dura mais de uma semana começar a atrapalhar o curso normal da vida das pessoas. desde o trabalho até os estudos e as atividades de lazer. Quando se trata de crianças, o caso é mais grave ainda. ?Ela entende bem o que é uma ameaça. A criança é muito sensível e pode trazer os problemas até a adolescência?, ressalta.

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