Vida simples de pescador atrai visitante à Ilha Rasa

A pequena Ilha Rasa, em Guaraqueçaba (litoral norte), é o retrato da simplicidade. Localizada a quase trinta minutos (barco a motor) da sede do município, a ilha é considerada área de proteção ambiental, mas nem por isso se enquadra como destino turístico. Sua fonte de renda está concentrada na pesca, atividade que mantém ocupada a grande maioria dos oitocentos habitantes. Existe água e energia elétrica, embora com alguma precariedade, mas as telecomunicações se resumem a um único telefone público. O ensino também é restrito: há turmas apenas para crianças da primeira a quarta série. Mas o que mais chama a atenção de quem visita a Ilha Rasa pela primeira vez é o modo de vida de seus moradores. Muitos deles, embora tenham vivido em outro lugar, preferiram voltar para Ilha Rasa e criar seus filhos por lá.

É o caso do professor Oromar Cordeiro Barbosa, de 34 anos. Durante sete anos, ele estudou num colégio interno em Curitiba. Concluiu o magistério em Guaraqueçaba e hoje é um dos três professores da ilha. “Nosso sonho, como educadores, é que, um dia, tenha na Ilha de quinta a oitava série”, revela. “O estudo tem que ter continuidade.” As duas escolas de Ilha Rasa reúnem juntas, quase cem alunos de primeira à quarta série.

Segundo José França, 47, presidente da Associação dos Moradores de Ilha Rasa, os problemas não se resumem à área de educação. “A situação aqui é calamitosa”, diz. Além de pescador, França também é funcionário da Prefeitura de Guaraqueçaba – ele é o responsável pelo pequeno cemitério da ilha.

A saúde, conta, é atendida por dois ou três médicos da Pontifícia Universidade Católica (PUC), que vão para Ilha Rasa de quinze em quinze dias. A Prefeitura também envia médicos e enfermeiros um vez por mês, que levam remédios e materiais de primeiros socorros aos moradores. O tratamento dentário é feito apenas em Guaraqueçaba. “Algumas operações, como a cesariana, têm de ser feitas em Paranaguá ou Curitiba”, explica França.

A questão do lixo é outro problema, segundo o presidente da Associação de Moradores. Enquanto o lixo orgânico acaba sendo transformado em adubo, o reciclável não tem destino certo. Conclusão: vidros e latas acabam também sendo enterrados. “O que a gente pode queimar, como papel e plástico, a gente queima. É um problema grave para o meio ambiente e a saúde, mas não há o que fazer”, afirma França. A falta de energia elétrica também é freqüente, conta. “Os técnicos da Copel vêm, fazem a manutenção, mas é só dar um ventinho que a luz acaba”, diz.

Ar puro

Apesar de todos os problemas, França diz que não deixaria Ilha Rasa, onde nasceu e hoje mora com a esposa e quatro filhos. “Aqui a gente respira o ar puro. A natureza encanta. Nas cidades, há marginalidade, drogas”, afirma. Segundo ele, brigas decorrentes de bebedeiras são raras e homicídios não existem. “Quando surge alguma briga, a gente tenta resolver por aqui. Mas quando o caso é mais grave, a gente manda para a delegacia de Guaraqueçaba”, conta França. Além da população adulta, vivem 200 crianças na Ilha Rasa.

Pesca enfrenta problemas

Quase 95% da população ativa da pequena Ilha Rasa sobrevivem da pesca. O restante são funcionários públicos, especialmente da Prefeitura de Guaraqueçaba. Ainda há aqueles que acumulam as duas funções, na tentativa de incrementar um pouco o orçamento familiar.

De acordo com o presidente da Associação dos Moradores de Ilha Rasa, José França, pescador e funcionário público, a situação para os pescadores locais está ficando cada vez mais difícil. “Na época dos meus pais, havia muito mais peixes no mar. O problema é que não existia um meio para colocação no mercado e os pescadores acabavam trocando peixes por mercadorias. Hoje há pouco peixe, mas ele vale mais”, analisa. Segundo ele, em período bom para a pesca – meados de setembro a dezembro – , a renda do pescador chega a R$ 400 por mês. Em junho e julho, no entanto, cai para quase R$ 150. “Esse período é difícil, sofrido. Quem tem, ajuda quem não tem”, diz.

No comércio de peixes, como se não bastasse, o pescador é quem fica com o menor lucro. O pescador Cristiano Mendes dos Santos, 25, por exemplo, pescou com seu pai quase 100 kg de cascudo, na quinta-feira passada. Foram cinco horas no mar, além de outras três limpando o peixe. A operação envolveu toda a família. “A cabeça e a pele, não têm valor”, explica. Eles venderam o quilo do cascudo por R$ 1,20 ao atravessador Armindo Alves, que embalou o peixe em saquinhos plásticos e os levou para o Mercado de Peixes em Paranaguá, onde o cascudo seria revendido por R$ 2,00. O mesmo peixe é vendido em Curitiba por R$ 6,00 o quilo em média. “Nossa vida é muito difícil”, comentou o pai de Cristiano, também pescador.

Voltar ao topo