Uso de embriões em pesquisas é tema de debate

O Projeto de Lei de Biossegurança, que diz respeito à liberação de embriões humanos para pesquisa e está para ser votado no Congresso Nacional, vem gerando uma série de polêmicas e discussões. Ontem, a Pontíficia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) reuniu no campus de Curitiba profissionais de diferentes áreas para se posicionarem sobre o assunto.

O projeto prevê a realização de pesquisas a partir de células-tronco (aquelas que dão origem a todas as outras do corpo), retiradas de embriões. Com a captação dessas células, o embrião inevitavelmente é destruído. O geneticista Salmo Raskin, que participou da reunião, diz que ainda tem dúvidas se os embriões humanos podem ser considerados seres humanos ou apenas um conglomerado de células. Ele se diz a favor das pesquisas: “As células-tronco também podem ser retiradas do organismo de pessoas adultas. Porém, acredita-se que as presentes em embriões tenham um potencial muito maior”, comenta. “Acredito que a liberação das pesquisas promoveria a troca de embriões que foram produzidos para reprodução assistida e estão sem utilidade, por um potencial de cura de diversas doenças que hoje estão sem solução.”

Atualmente, no Brasil, segundo Salmo, existem centenas de milhões de embriões congelados em laboratórios que não foram implantados no útero de suas mães. O doutor em Teologia Mário Sanches, autor de um trabalho de doutorado em Bioética, é contra a produção de embriões para pesquisa, mas a favor da utilização dos embriões já existentes, desde que vinculada à criação de uma lei que controlasse a reprodução assistida. “Acho que, se a opção for entre jogar fora os embriões ou utilizá-los para pesquisa, a melhor opção seria usá-los para pesquisa. Assim, eles teriam uma finalidade mais digna”, opina. “Entretanto, uma lei de controle da reprodução assistida deveria impedir a produção de embriões excedentes (que não fossem implantados no útero). Dessa forma, as pesquisas seriam realizadas por tempo limitado (até que não houvesse mais embriões congelados), e a lei seria temporária.”

Na opinião da advogada Jussara Meirelles, que se diz contra a utilização dos embriões, mesmo daqueles já existentes e que se mantêm congelados, também existe polêmica sobre a titularidade dos embriões, isto é, se eles seriam de responsabilidade e propriedade da mulher e do homem doadores dos gametas. “Acho que os doadores não têm legitimidade para dizer o que fazer ou não com os embriões. Todos nós um dia fomos embriões e por isso somos embriões, assim como o serão os que nascerem depois de nós. Por isso, acredito que a questão é de vida e que a dignidade deve ser estendida a todos os embriões.”

Atualmente, no Paraná, as pesquisas com células-tronco (retiradas do organismo de indivíduos adultos) são praticamente nulas. As células tiradas de adultos, de acordo com Salmo, costumam ser de difícil localização e cultivadas em laboratório.

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