A burocracia e algumas mudanças sociais estão fazendo com que a cada dia as universidades paranaenses tenham mais dificuldade em conseguir corpos para estudo. Segundo o diretor-geral do Instituto Médico-Legal do Paraná (IML-PR), Hélio Galileu Bonetto, o processo de doação de um corpo é demorado pela burocracia. “Também entra a questão da responsabilidade. Não posso sair por ainda entregando os corpos”, explicou.
A supervisora do necrotério do IML-PR, Adalzira Aparecida dos Santos, explicou como é o processo de doação. Quando ele não é identificado, fica numa câmara frigorífica por trinta dias até que alguém reclame por ele. Nesse período ele é fotografado, passa por um exame de arcada dentária e tem sua existência divulgada nos jornais. “Se em trinta dias ninguém o reclama, pedimos autorização judicial para enterrá-lo. Após a autorização, o Serviço Funerário Municipal o sepulta com número e lote no cemitério, para, caso após esse período alguém reclame, poder haver a conferência”, explicou.
Quando alguém solicita o corpo para doação é necessária a autorização judicial. Esse corpo só pode ser doado depois de todo processo burocrático inicial. Somente podem ser doados corpos resultantes de morte não violenta, que são minoria no IML, outro fator que dificulta a doação. “Quando um corpo é doado, ele precisa passar por uma preparação. Deve receber formol na câmara frigorífica. Isso é caro. As universidades não se dispõem a pagar, já que o corpo pode ser reclamado e elas perderem o dinheiro. O IML também não pode fazer isso”, explicou Bonetto.
Mudança social
Conforme o diretor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Emílio José Scheer Neto, o País passou por mudanças sociais e hoje existem menos indigentes. Ele destacou que realmente é difícil conseguir um corpo para estudo. O último recebido pela PUCPR foi há seis meses, mas o penúltimo já faz quatro anos. A universidade fica responsável pelo sepultamento do corpo após os estudos. “Hoje há uma tendência mundial de se utilizar peças artificiais. Essas peças ainda não chegaram ao Brasil, mas é claro que nada substitui o corpo humano”, afirmou Scheer.
A legislação brasileira permite a doação de corpos apenas para faculdades de Medicina. Bonetto destacou que cumpre rigorosamente a lei e não doa corpos para outras faculdades da área da saúde. Scheer destacou que na PUCPR os alunos das outras disciplinas têm acesso aos corpos, mas a responsabilidade é da Medicina.


