Universidades públicas podem parar em 2004

Falta de professores, perda de estrutura física, dívidas astronômicas e inexistência de verbas provenientes do governo federal podem retardar ou mesmo interromper as aulas nas universidades públicas no ano que vem. Professores advertem que o risco existe e a situação é muito grave. “Muitas estão em crise e desamparadas pelo governo federal, que não se compromete com a manutenção integral de suas instituições de ensino superior”, diz a professora aposentada e representante da Associação dos Professores da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Milena Martinez.

Na quinta-feira, às 10h, na Praça Santos Andrade, integrantes da associação, do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPR e do Sindicato dos Servidores do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), UFPR e Funpar (Fundação da UFPR) devem realizar um ato público em defesa da universidade pública de qualidade. No mesmo dia, o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, deve participar de uma audiência com o ministro da Educação, Cristovam Buarque, para discutir a situação da educação superior pública brasileira.

“A situação das universidades públicas não é mais de crise, é caótica”, declara Milena Martinez. “Nossa intenção é criar um movimento de luta nacional para sensibilizar o presidente Lula sobre a importância dessas instituições para o Brasil. Falta tudo, desde recursos financeiros a material didático e recursos humanos. Se algo não for feito, nós que já trabalhamos em situação precária ficaremos ainda pior.”

UFPR

Na UFPR, os problemas também são iminentes. A entidade está com uma dívida de R$ 2,7 milhões, grande parte dela com a Copel. “Tínhamos esperanças de, para o ano que vem, receber R$ 2,455 milhões de verba por meio da Emenda Andifes, o que permitiria que entrássemos no ano de 2004 com uma dívida considerada aceitável de cerca de R$ 380 mil”, conta o reitor. “Porém há informações de que o valor da emenda não virá na íntegra e isso nos deixa bastante preocupados. O governo não se preocupa em disponibilizar recursos para as universidades públicas.” No total, a previsão é que a emenda disponibilize R$ 62 milhões de verba federal às instituições públicas de ensino federal.

Devido à crise, os cursos de Comunicação Social, habilitações em Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas, e Artes correm o risco de ser despejados a partir do ano que vem. Ambos funcionam em prédios do INSS, respectivamente localizados nos bairros Juvevê e Batel. “Como a universidade não tem estrutura física para abrigar os cursos de comunicação e artes, eles funcionam em prédios alugados. O problema é que, por falta de verba, os aluguéis não estão sendo pagos e os cursos podem ser despejados”, explica a coordenadora-geral do DCE, Ana Patrícia de Oliveira Silva.

Professores

Outro problema que acomete a UFPR é a falta de professores. Segundo o reitor, em 2004 haverá uma carência de cerca de quinhentos docentes efetivos dentro da instituição. “A reforma previdenciária está nos atingindo em cheio e fazendo com que muitos professores peçam demissão”, comenta. “Só este ano, 88 se aposentaram. Outros 135 estão em vias de aposentadoria. De nosso quadro de 1.775 professores, 336 são substitutos.”

Os professores substitutos não permanecem na instituição por mais de dois anos, ganham salários mais baixos e não participam de programas de pesquisa e extensão. “Em 1993, eram 48.700 professores nas universidades públicas brasileiras”, lembra Moreira. “Hoje, são 41 mil. No ano 2001, fizemos greve e o governo Fernando Henrique Cardoso prometeu 4 mil vagas para as universidades, mas, até agora, apenas 250 foram liberadas. A abertura de concursos e liberação de verba para pagamento de novos professores é crucial.”

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