Uma data especial para os pais adotivos

Hoje é o Dia Nacional da Adoção e uma data especial para muita gente que passou por essa experiência. O casal Dante Luiz Zanetti e Miriã Zanetti adotou Beatriz quando ela ainda era um bebê e agora quer aumentar a família, com mais duas crianças.

Miriã já carregava o sonho de adotar uma criança quando era solteira. Casou e dividiu o pensamento com o marido. Depois de um ano e meio a Beatriz chegou.

Miriã conta que naquela época não havia nenhum apoio e orientação sobre como agir com as crianças. Mas eles seguiram o instinto e resolveram contar desde cedo a história para a menina. A mãe chegou até a fazer um álbum com desenhos mostrando para ela todos os passos do processo de adoção. Hoje, ela e toda a família sabem da situação, que é encarada com naturalidade. Quando a menina pergunta da mãe biológica, falam bem dela por lhes ter dado um presente.

Mas o começo não foi fácil, como acontece com todos os pais, surgiu o medo e a insegurança de não saber como educar a menina. O que aos poucos foi sendo vencido. Dante ficou impressionado com o instinto de mãe que aflorou na mulher assim que o bebê chegou em casa.

Agora que Beatriz está com seis anos pretendem adotar mais dois filhos. Já deram entrada com processo na Vara da Infância e Juventude. A menina não dá sinais de ter ciúme dos irmãos que estão para chegar. Quando a mãe perguntou o que ela faria se eles não desgrudassem do pescoço do pai, disse que ainda tinha o da mãe.

Ela conta também que é comum as outras pessoas comentarem que eles foram corajosos com a adoção. Mas para eles, não existe diferença nas alegrias e dificuldades de se criar um filho biológico ou adotado. Eles também aconselham outros casais a fazer o mesmo. “Não precisa ter medo, os filhos só trazem felicidade”, diz Miriã.

Agora o casal se sente mais seguro para enfrentar nova adoção, o Juizado tem prestado assistência psicológica e as principais dúvidas sobre a relação entre pais e filhos vai aos poucos sendo respondidas.

Mil moram em abrigos em Curitiba

Só em Curitiba existem cerca de mil meninas e meninos morando em abrigos. No entanto, deste total apenas 10% estão habilitados para adoção. O restante não pode ter uma nova família porque os pais ainda são legalmente responsáveis por eles.

Segundo a psicóloga e professora da Universidade Federal do Paraná, Lídia Natália Dobrianki Weber, que realiza pesquisas na área desde 1998, o mais preocupante é que geralmente as crianças são levadas para as instituições pela própria família ou encaminhadas por meio de denúncias e, no ano passado, apenas 5% das famílias abriram mão do pátrio poder.

Na instituição, a criança não recebe mais a visita da família e o longo tempo de permanência acaba criando problemas psicológicos, além de dificultar o processo de adoção. Quanto mais velhas, menos chances têm de encontrar uma nova família. (EW)

Processo de adoção depende mais do casal

A ONG Recriar: Família e Adoção, fundada há seis anos, orienta os futuros pais no processo de adoção e também faz um trabalho de conscientização sobre o assunto. Um dos problemas é que ainda existem muitos preconceitos na sociedade. Segundo a vice-presidente da ONG , Halia Pauliv de Souza, muitos pessoas acham que as crianças podem ter defeitos de caráter devido à herança genética. “Já foi comprovado que isto não existe, e a influência do meio tem uma grande responsabilidade na formação de qualquer pessoa”, explica.

Ela explica que para se adotar uma criança basta se cadastrar no Juizado da Infância e Adolescência e apresentar a documentação exigida para verificação. Pode ser homem ou mulher, solteiro ou casado, e não depende das condições financeiras. “Temos desde professores universitários a empregadas domésticas fazendo nossos cursos. Basta ter o desejo de ter um filho”, explica.

O processo de adoção pode ser concluído em até seis meses se as pessoas não tiverem muitas exigências quanto a idade ou as características da criança. “Adotar crianças maiores dá certo, o maior desejo deles é ter uma família”, diz Hália. Para ela, a adaptação depende mais do casal que da própria criança.

Orientações

Durante o processo de adoção, o juizado encaminha os pais para participarem de reuniões na ONG, onde recebem orientações. Todo mês dez casais passam pela experiência. Segundo Halia, a principal dúvida é sobre a hora e como contar a verdade. Ela explica que quanto mais cedo a situação for conhecida pelas crianças, melhor. Se isso for revelado somente na fase adulta ou na adolescência, eles podem se sentir enganados. (EW)

“Para mim, ter uma família é um sonho”

Pesquisa realizada pela professora de psicologia da Universidade Federal do Paraná, Lídia Natália Dobrianski Weber, em 1998, em uma instituição particular em Curitiba, mostrou que 37% das crianças estavam na instituição há mais de um ano. 64% dos casos de internamento foram motivados devido a maus tratos e negligência. Em 8% a situação econômica precária foi o motivo principal e em 58% foi motivo relevante para o internamento, 16% dos casos as famílias não possuíam residência fixa e 23% moravam em casas precárias. Outros índices levantados com a pesquisa: em 43% dos casos a criança não era bem alimentada.

Em 32% os pais deixavam a criança sozinha. 45% das crianças apresentavam algum problema de saúde por omissão. 45% delas vieram de mães solteiras e em 21% as mães eram separadas. Em 68% dos casos a família nunca visitou a criança ou a visitou poucas vezes.Somente 8% dos pais tinham sido destituídos do pátrio poder .

As crianças abrigadas falam…

A gente quase não tinha o que comer em casa, ah, a gente também ficava um monte de dias sozinhos, sem minha mãe voltar para casa (menina de 11 anos).

Um dia minha mãe saiu e deixou a gente na calçada, ela nunca mais voltou (menino 11 anos).

Meu pai e minha mãe não brigavam, mas batiam na gente…(menino 10 anos).

Tenho 7 anos e faz tempo que eu vim para cá porque minha mãe foi comprar coisas…aí ela não podia mais cuidar de mim… e vim para cá. Eu queria ficar com minha mãe, mas eu não sei onde ela mora (menino de 7 anos).

Para mim ter uma família é um sonho (menino de 15 anos).

Não fui adotado porque não está no dia. O Juiz tem que ver os papel ainda (menino de 11 anos).

Eu vim para cá com um ano. Não conheço nem meu pais nem minha mãe. Não sei como vim parar aqui. Acho que estava na rua antes. Eu queria ter uma família. Acho que vou ser adotado (menino de 10 anos).

Acho que não vou ser adotado porque já passei da idade, só adotam até 14 anos (menino de 15 anos).

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