Um país fazendo as pazes com sua cor

Os resultados definitivos do Censo Demográfico 2000, lançados ontem pelo IBGE, encerram a etapa de divulgações do maior e mais preciso recenseamento já realizado no Brasil. Com informações até o nível de municípios, o Censo revela, além de dados econômicos, importantes mudanças sociais e de comportamento.

A população que se declarou de cor preta aumentou quase duas vezes mais que a que se declarou branca e oito vezes mais que a parda, mas os brancos constituem 53,7% da população, sendo que, entre empregadores, os brancos são 80%. Sobre a religiosidade da população brasileira, os dados revelaram que o catolicismo manteve a maior penetração nos estados do Nordeste e que as maiores concentrações de evangélicos estão no Norte do País. Quanto ao nível educacional, os espíritas apresentam a maior média de anos de estudo e, quanto à cor ou raça, as religiões com maior proporção de pessoas brancas são: judaica, evangélica luterana e islâmica.

A mortalidade infantil cai de maneira generalizada e mais fortemente na região Nordeste. As taxas de fecundidade caem mais de 60% de 1940 a 2000, e o Brasil passa a ocupar a 69ª posição na comparação da ONU, com 2,38 filhos por mulher. Entre os estados, a maior queda foi na Paraíba e a menor, no Rio de Janeiro. No total, a idade média de fecundidade se reduz em 1 ano de 1991 a 2000.

Quanto à questão da deficiência, o Censo 2000 revelou que 9 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência estavam trabalhando na semana de referência do Censo. Na Paraíba, foi registrada a maior proporção de casos de deficiência e, em São Paulo, a menor.

Os dados de migração registraram queda no número de estrangeiros que vivem no Brasil e aumento de quase três vezes do número de brasileiros que voltam do exterior. Portugueses, japoneses, italianos e espanhóis mantêm-se como os maiores contingentes de estrangeiros no País.

Em relação ao trabalho, nos municípios de até 20 mil habitantes, as atividades de agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca absorveram 47,2% da população ocupada. O emprego com carteira mostrou-se mais difundido nos municípios com mais de 100 mil habitantes. O rendimento nominal mediano mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade variou de R$ 160,00 nos municípios com até 20 mil habitantes até R$ 401,00 naqueles com mais de 500 mil habitantes.

O Censo mostrou ainda que 51% dos domicílios brasileiros tinham, em média, de 1 a 2 moradores por dormitório em 2000. As taxas de analfabetismo são maiores nos municípios menos populosos. Em 2000, apesar da quase universalização do acesso à escola das crianças de 10 a 14 anos, quase 1 milhão delas (5,9%) ainda eram analfabetas e, destas, 77,8% residiam em municípios com até 100 mil habitantes. Os dados de educação revelam que, embora a média de anos de estudo tenha aumentado em geral, a população branca tinha 6,6 anos de estudo, enquanto a preta e a parda, 4,6 anos em média.

Número de pardos baixou

No confronto dos resultados censitários de 1991 e 2000, diminuiu a proporção de pessoas que se declararam pardas e aumentou a de pretos, o que pode ser um indicativo de mudança nos padrões de identificação e de autoclassificação do brasileiro. Nesse período, a taxa média de crescimento da população de cor branca foi de 2,12%, da preta 4,17% e da parda 0,53%.

Em 2000, 91.298.042 (53,7%) consideraram-se brancos, 10.554.336 (6,2%) pretos, 761.583 (0,5%) amarelos, 65.318.092 (38,4%) pardos e 734.127 (0,4%) indígenas. A proporção da população preta, que vinha caindo desde 1940 (14,6%), apresentou um crescimento na sua proporção, passando de 5%, em 1991, para 6,2% em 2000. Em contrapartida, a proporção da população de pardos, que vinha crescendo desde 1940 (21,2%), atinge, em 1991, a proporção de 42,4% e cai para 38,4% em 2000. A proporção da população indígena passou de 0,20%, em 1991, para 0,43% em 2000.

A proporção de pessoas com declaração de cor branca teve maior percentual em Santa Catarina (89,3%), e a de pretas e pardas, a Bahia (73,2%).

A maior proporção da categoria amarelos foi encontrada no município de Assaí (15%), no Paraná.

Raça dita o analfabetismo

O Censo 2000 mostrou que a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais varia de acordo com cor ou raça. Enquanto na população de cor branca era de 8,3%, na que se declarou de cor preta, atingiu 21,5%. A população indígena tinha a maior taxa de analfabetismo ( 26,1%) e a de cor amarela ( asiáticos e descendentes), a menor ( 4,9%). Entre a população parda, a taxa era de 18,2% e para o total do País, 12,9%.

As taxas de analfabetismo são maiores nos municípios menos populosos. Isto ocorre para todas as categorias de cor ou raça. Nas cidades com até 20 mil habitantes, a taxa de analfabetos entre brancos era de 14,8%, para as pessoas de cor preta alcançava 37,5% e as pardas, 28,9%.

Em 2000, apesar da quase universalização do acesso à escola das crianças de 10 a 14 anos, 5,9% ( mais de um milhão) ainda eram analfabetas, e 77,8% delas residiam em municípios com até 100 mil habitantes. Embora tenham caído para todos os grupos de cor, as taxas de analfabetismo ainda são duas vezes mais elevadas para as crianças pretas ou pardas ( 9,9% e 8,5%) do que para as brancas ( 3,0%).

PR reduz perda populacional

Utilizando a informação sobre o lugar de residência 5 anos antes do censo, as mudanças mais importantes no saldo migratório2 dos Estados são observadas no Ceará, Paraná, Pará, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O Ceará e o Paraná diminuíram suas perdas populacionais entre os dois últimos censos. No período 1986/1991, ambos caracterizavam-se como Estados expulsores de população. As saídas do Ceará caíram 23,8%, e as entradas cresceram 33,9%. Assim, seu saldo migratório passou de -123.512 indivíduos em 1991, para -23.785 em 2000.

No Paraná, as saídas se reduziram 29,1%, e as entradas aumentaram 10,5%. Com isso, seu saldo migratório passou de -206.113, em 1991, para -39.686, em 2000.

No Pará, houve reversão de tendência. Em 1991, o saldo migratório havia sido positivo, de 29.240 indivíduos. Em 2000, o saldo tornou-se negativo em 52.195 indivíduos.

24,6 milhões de deficientes

O Censo revelou existirem 24,6 milhões de pessoas portadoras de pelo menos uma das deficiências investigadas, o que corresponde a 14,5% da população brasileira, que era de 169,8 milhões em 2000. Esta proporção é maior nos municípios de até 100 mil habitantes. Para o conjunto dos municípios de menor porte, com até 20 mil habitantes, o percentual chega a 16,3%, caindo para 13% nos grandes municípios. Também há diferenças quanto à cor ou raça. As populações indígena e preta apresentam proporções de 17,1% e 17,5%, respectivamente. Já as populações branca e amarela apresentam proporções inferiores a 14%.

Entre as deficiências pesquisadas, a dificuldade permanente para enxergar, mesmo com o uso de óculos, foi relatada por 16,6 milhões de pessoas, atingindo mais as mulheres. A proporção de pessoas portadoras de deficiência aumenta com a idade.

Cai mortalidade infantil

A mortalidade infantil cai de maneira generalizada em todos os estados brasileiros e mais fortemente nos estados da região Nordeste. Enquanto no Brasil a queda foi de 37,50%, no Nordeste atingiu quase 40% (39,03%) de 1990 a 2000. Entre os estados da região Nordeste, o Ceará registrou a maior queda (45,1%), seguido do Piauí (43,1%).

Apesar da forte queda, a região Nordeste ainda registra níveis elevados de mortalidade infantil, que são praticamente o dobro dos encontrados nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Em 2000, a taxa de mortalidade infantil na região Nordeste era de 44,73 por mil nascidos vivos, enquanto no Sudeste foi de 21,28, no Sul de 18,87, e no Centro-Oeste de 21,61.

De um modo geral, estas três regiões (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) exibem as menores taxas de mortalidade infantil, próximas de 20 por mil nascidos vivos, sendo que o Rio Grande do Sul é o estado com a taxa mais baixa, de 16 por mil. Na região Sudeste, São Paulo tem a menor taxa, de 18,6 por mil, seguido do Rio de Janeiro, com 20,61.

Entre os estados do Nordeste, Alagoas tem a maior taxa, com 62,54 mortes por mil nascidos vivos. Roraima foi o estado que mais reduziu sua taxa, em 56,1% de 1990 a 2000.

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