Ele ainda é presidente do Grêmio Recreativo Vai na Rolha Quem Quer, o bloco carnavalesco que representa a Vila das Torres nos carnavais de Curitiba. Mas agora está à beira-mar. Desiludido com a violência, com o tráfico de drogas e com o envolvimento na criminalidade de garotos que viu crescer, Luiz Serafim Alves, 60 anos, o ?Índio?, como é mais conhecido, transferiu sua toca para a Praia de Leste, onde está morando há dois anos. Montou um pequeno bar – na verdade a imitação de um oca, coberta com palha e cheia de prateleiras rústicas – onde vende cachaça, cerveja e caldo de mocotó, entre outros petiscos. Dali tira o sustento e ainda luta para criar o novo Grêmio Recreativo Toca do Índio, em um barracão alugado pelo amigo Noel, à margem da rodovia que liga Praia de Leste à BR-277.
?Muita gente virou gente boa. Outros infelizmente preferiram seguir o mau caminho?, comenta.
Durante as campanhas políticas sempre era procurado para ajudar a eleger um ou outro. Prometiam um monte de coisas e depois, nada! Ao falar das promessas não cumpridas ?Índio? chora. Ele gostaria de retornar à Vila, prosseguir com seu trabalho junto às crianças, mas queria ter um emprego fixo, com carteira assinada, para garantir o sustento na velhice. Como nunca teve, decidiu tentar a sorte no litoral e começar tudo de novo.
Com alguns instrumentos e muita dedicação, ?Índio? está iniciando outro projeto. Reúne crianças carentes da periferia das praias e as convida para aprender a fazer batucadas no barracão. ?Pelo menos ali elas ficam fora da rua. Têm contato com a música e não têm tempo para pensar em bobagens?, diz. No local também instalou um karaokê, na esperança de ensinar a turma a cantar. Já tem pelo menos uma dúzia de garotos interessados, com idades a partir dos 7 anos. Os pais também podem participar dos ensaios e a idéia é colocar o bloco na rua, já neste Carnaval. ?Vamos encher um ônibus com crianças, levar os instrumentos e todo mundo vai desfilar no calçadão da Praia de Leste. Será o primeiro bloco carnavalesco desta praia?, garante. Depois de passadas as festas de Momo, ele quer continuar incentivando as crianças a tocar e também a jogar futebol, um esporte que sociabiliza e dá disciplina. Dentro de suas limitações, ?Índio? faz o que pode para ajudar crianças, sua grande paixão. Prova disso é que tem 12 filhos. A filha mais velha já está com 40 anos.