O acidente com um ônibus da linha CIC-Capão Raso, na semana passada, chamou a atenção pra questão da vida útil e a manutenção da frota do sistema de transporte coletivo em Curitiba. Porém, enquanto os motoristas reclamam dos riscos, as empresas garantem que o sistema é seguro e os veículos são constantemente vistoriados.
De acordo com o Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc), a situação foi causada por um problema no freio, fazendo com que o motorista batesse contra um poste na Rua Pedro Gusso, quando seguia pro terminal da CIC. Este, no entanto, não é o único caso recente envolvendo falha mecânica.
Outro motorista, que não quis se identificar, também passou por situações em que o freio do ônibus que dirigia não funcionou. Há algumas semanas, ele se envolveu em um acidente sem gravidade, quando não conseguiu frear e acabou batendo em outro veículo. “Uma semana depois outro motorista teve o mesmo problema com o mesmo carro. Ele passou o sinal vermelho porque o ônibus não freou. A manutenção é precária, já trabalhei com para-choque solto, sem para-brisa e até com vidro estourado”, lamenta.
Este problema foi um dos motivos que levaram a categoria à paralisação de ontem, na Praça Rui Barbosa, durante uma hora, e que pode provocar assembleias nas garagens das empresas na madrugada de hoje. Segundo o Sindimoc, os motoristas reclamam pras empresas de problemas mecânicos nos veículos, mas a companhia obriga o funcionário a continuar operando sem que o conserto seja feito.
Manutenção reforçada?
“Avalio a situação com preocupação e lamento que isso esteja ocorrendo, pois a tarifa supre qualquer custo no sistema. Cada centavo que as empresas gastam a tarifa remunera, então teríamos ônibus perfeitos, em bom estado e uma frota nova, dentro do prazo estabelecido”, comenta o vereador Bruno Pessuti (foto), que foi o relator da CPI do Transporte Coletivo.
A renovação da frota está em negociação entre a Urbs e as empresas, que em 2013 conseguiram na Justiça uma liminar que desobriga a compra de novos ônibus pra promover, desta forma, o reequilíbrio econômico e financeiro dos contratos. A assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de ânibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) informou que ainda não há um prazo pra que esta renovação seja retomada, mas que, pra garantir a segurança, passou de duas pra quatro vezes ao ano as vistorias nos veículos com mais de dez anos.
R$ 5,5 milhões por mês
Em resposta ao pedido de informações de Bruno Pessuti, recentemente a prefeitura de Curitiba informou que, dos três consórcios licitados pra administrar a Rede Integrada de Transporte (RIT), o Pioneiro é o que tem o maior índice de ônibus com a vida útil, de dez anos, vencida. Dos 562 veículos da frota, 90 (16,01%) já têm mais de uma década de uso. De acordo com a Urbs, o índice de ônibus vencidos no consórcio Pontual é de 3,29% (17 dos 516 veículos da frota operacional). No Transbus, a porcentagem é de 2,87% (14 dos 487).
O ofício à Câmara aponta que a idade média dos ônibus dos consórcios Pontual, Pioneiro e Transbus é, respectivamente, de 5,84, 7,46 e 5,82 anos. O vereador vai apresentar um novo pedido de informações ao Executivo, sobre a possível cobrança da amortização dos ônibus vencidos. Ele estima que o item custe ao sistema R$ 5,5 milhões por mês.
Além da vida útil
Em maio, a Câmara de Vereadores solicitou às empresas de ônibus informações sobra a vida útil da frota que opera o sistema de transporte coletivo d,e Curitiba. Na época, foi divulgado que 121 dos 1.368 ônibus da frota operante (em circulação) estão com mais de 10 anos de uso, extrapolando, portanto, o limite estabelecido no regulamento do transporte coletivo de Curitiba.
No entanto, procurada pela Tribuna, a Urbs, via assessoria de imprensa, disse que os 121 veículos com vida útil vencida fazem parte da frota total, que é de 1.632 ônibus, incluindo os veículos da reserva (pra esses ônibus, o limite de utilização sobre pra 12 ou 15 anos, dependendo do modelo).
Independente disso, de acordo com o edital licitação do transporte coletivo, a idade média da frota não deve ultrapassar cinco anos, limite que também já foi descumprido. A principal discussão é que a idade média da frota está aumentando, descumprindo obrigações contratuais de que novos veículos devem ser colocados em circulação. Os vereadores afirmam que em 2013 e 2014 nenhum novo ônibus foi às ruas, deixando de substituir 200 veículos.
Distantes
“Com a vida útil dos ônibus ultrapassada, aumentam os problemas com manutenção e os riscos de acidentes”, afirma o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira (foto). Ele pondera que a situação não é generalizada e ocorre principalmente em linhas que operam distante do centro da capital. “São várias empresas, não podemos generalizar, mas temos alguns casos mais graves de carros ultrapassados, sim”, diz.
Desde 2011 o sindicato mantém uma equipe exclusiva pra acompanhar os motoristas que se acidentaram durante o trabalho, mas não tem dados precisos de quantos casos foram motivados por falta de manutenção. “O que mais ocorre é falta de freio”, comenta Ricardo Ribeiro, da diretoria da entidade.
É o seguinte
Faz dois anos que a frota de ônibus do transporte coletivo não recebe a injeção de veículos novos. Uma decisão judicial desobriga as empresas a colocarem carros novos em circulação. Em compensação, dizem elas, em vez de duas, são feitas quatro revisões por ano. Tudo bem, desde que o usuário não seja prejudicado e que não fique a pé. Mas que preocupa, preocupa!