Transporte coletivo gera críticas e exige inovações

Entre articulados, biarticulados, interbairros, expressos e ligeirinhos, os curitibanos se deslocam diariamente da casa para o trabalho, da escola para os parques, do bairro para o centro. Segundo estimativa da Urbs – empresa que gerencia o transporte coletivo de Curitiba e região -, cerca de 930 mil usuários pagantes utilizam o transporte coletivo na capital diariamente, 205 mil o metropolitano integrado e 141 mil o metropolitano não-integrado. São 285 linhas disponíveis na capital, com frota operante de 1.327 veículos. Pesquisa da Urbs indica que 55% do deslocamento em Curitiba é feito com transporte coletivo. Em 1972, o índice era de 72% da população e, na década de 80, reduziu para 68%.

Para o diretor de transportes da Urbs, Euclides Rovani, a redução do número de usuários no transporte coletivo está relacionado especialmente ao incentivo do governo federal. “O que vem acontecendo é a proteção do governo (federal) à indústria automobilística. A gasolina aumentou 44% no ano passado, enquanto o diesel, 99%”, justifica. Em 12 meses o vale- transporte subiu 25,93%. O último reajuste, de 13,33%, aconteceu no dia 22 de fevereiro, e hoje a tarifa é de R$ 1,70. Apesar das constantes reclamações da população, Rovani alega que é impossível cobrar menos pela tarifa. “Para reduzir, a gente teria que acabar com o sistema integrado. Como as viagens ao centro representam 43% da demanda, acabando com o sistema integrado, pelo menos 57% da população pagaria no mínimo duas tarifas”, defende ele.

Sobre a inexistência de licitação de empresas de ônibus – são dez que operam em Curitiba há muitos anos -, Rovani explica que, em 87, a Urbs passou a ser a concessionária do sistema, e as empresas de ônibus, subcontratadas. “Elas foram contratadas por prazo indeterminado e, para haver nova licitação, o contrato teria de ser rescindido, o que sairia caríssimo”, justifica.

Entre os problemas do sistema hoje, Rovani destaca a saturação da região sul da cidade, onde estão localizados bairros bastante populosos, como o Pinheirinho, Boqueirão, além de municípios como Mandirituba, Araucária e Fazenda Rio Grande. “A quantidade de pessoas é muito alta, quase 350 mil por dia”, diz. Segundo ele, a criação de um novo corredor na BR-116 – iniciativa do governo municipal, que deve ser concluído no final do ano que vem – deve amenizar o problema.

Ippuc

O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Luiz Hayakawa, concorda com Rovani quando o assunto é a urgência em resolver os problemas da demanda pesada da região sul. “A gente espera que a opção da BR dê uma sobrevida de quatro ou cinco anos para estudar uma outra alternativa”, afirma Hayakawa. “Se conseguirmos melhorar o transporte coletivo, conseguiremos também reduzir a pressão nas vias de automóveis.” Serão investidos US$ 40 milhões na adequação da BR-116, e o dinheiro será financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Outros US$ 40 milhões, também do BID, serão destinados à recuperação de vias como a Anita Garibaldi, Salgado Filho, e terminais como do Portão e da Santa Cândida.

Quais os principais problemas do transporte coletivo?

“A lotação é demais, e os roubos dentro dos coletivos não param. Já me roubaram R$ 180. Também o preço da passagem é alto. Gasto 50 VTs por mês” – Orlando Bohi, 52 anos, operador de máquinas. Mora em Araucária e trabalha em Curitiba.

“O pior para mim é o tempo de espera. O ônibus que pego demora cerca de uma hora e meia. O carro só uso para fazer compras ou caso de emergência” – Adáurio Leito, 37 anos, agente penitenciário. Pega dois ônibus para chegar ao trabalho.

“Várias linhas me servem, então tempo de espera não é o problema. Eu me preocupo com a falta de segurança. Já vi três ônibus sendo assaltados” – Rosana de Andrade, 30 anos, cabeleireira. Mora em Campina Grande do Sul e vem a Curitiba duas vezes por semana.

“Não gosto da falta de respeito de alguns motoristas e cobradores. Eles fecham a porta antes, tratam mal. Parece que a gente até anda de graça. A superlotação, outro problema” – Sandra Soares, 38 anos, auxiliar de portaria. Mora em Colombo e trabalha em Curitiba.

Cidade se destaca na alfabetização

Elizangela Wroniski

Curitiba completa 310 anos com o melhor índice de alfabetização das capitais brasileiras: 96,9%. No total, a cidade tem 160 escolas com cerca de 8 mil professores e 155 mil alunos. Há três anos foi implantado em quase toda a rede o sistema de aprendizagem em ciclos, que acabou gerando polêmica sobre sua eficiência. Agora, depois de três anos, o secretário municipal da Educação, Paulo Afonso Schmidt, avalia que experiências riquíssimas foram registradas, no entanto, sabe que o processo ainda está em construção e precisa se consolidar.

Quando o projeto começou, muitos pais foram contra, já que para eles os filhos estariam passando de ano sem estar preparados para a série seguinte. Mas o secretário explica que a vantagem do ciclo está em não reprovar o aluno, proporcionando a ele um tempo maior para que atinja seus objetivos. A diretora da Escola Municipal Professor Germano Paciornik, no bairro Boqueirão, Andréa Cássia Velho, concorda com a idéia. Mas ressalta que o novo processo ainda está em construção. “Estamos em fase de adaptação, caminhando e aprendendo. Muitas coisas ainda precisam ser melhoradas”, disse. O secretário diz ainda que a sociedade cobra que a escola acompanhe as inovações do mundo atual, mas tem uma visão conservadora. Quando um novo projeto é desenvolvido, fica com medo de que não dê certo.

Até a quarta série, os alunos passam por dois ciclos. O primeiro compreende o pré-escolar, que é chamada de etapa inicial, mais a primeira e segunda séries, que são conhecidas como etapas I e II do primeiro ciclo. As terceiras e quartas séries são chamadas de I e II etapas do ciclo II. Só de um ciclo para outro que o aluno pode ser retido.

Para o secretário, um dado positivo da educação é que agora todos os professores que ingressam na rede têm formação universitária e 10% dos docentes que já atuam estão participando de cursos de formação superior, promovidos pela própria Prefeitura. Outro avanço seriam as escolas que estão equipadas com laboratórios de informática e acesso à internet.

Creches

Com a extinção da Secretaria Municipal da Criança, as 215 creches, 135 oficiais e 80 comunitárias, passam a ser responsabilidade da SME. A idéia é fazer com que crianças de 0 a 3 anos continuem nestas unidades e as de 4 a 6 anos ingressem na educação infantil, como determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A mudança vai abrir mais 7 mil novas vagas até o final de 2004.

Mas a situação não têm agradado muita gente. Setenta e quatro entidades assinaram um documento onde afirmam ser contra a extinção da Secretaria da Criança. Segundo a procuradora do Ministério do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, as crianças que hoje ficam o dia todo nas unidades estariam correndo o risco de ser atendidas somente 4 horas na educação infantil. No entanto, o secretário ressaltou que isso não vai ocorrer. Mas turmas de meio período serão abertas para atender os pais que podem ficar com o filhos mais tempo. Para efetivar as mudanças está nos planos a construção de mais salas de aulas em escolas que possuem espaço e a construção de novos prédios.

Especialista diz que falta investimento para o setor

Lyrian Saiki

Para Garrone Reck, engenheiro civil com especialização em Engenharia do Transporte e professor do Departamento de Transportes do curso de Engenharia Civil da UFPR, o que existe em Curitiba é uma inversão de valores por parte do poder público. “Deveriam dar mais importância ao transporte coletivo”, diz ele. Reck reconhece que Curitiba, na década de 70, estabeleceu como prioridade as vias da cidade para uso exclusivo do transporte coletivo. Foi quando surgiu a canaleta ligando o bairro Pinheirinho ao Santa Cândida.

“O transporte coletivo foi muito importante na história e no processo de urbanização de outras cidades brasileiras. Mas na última década, o sistema chegou a um nível de saturação e não funciona mais da forma como foi concebido”, opina o engenheiro. Segundo ele, a perda da demanda do transporte coletivo em detrimento do particular, associado ao encarecimento do serviço, faz com que a pessoa opte pelo veículo próprio. “Há uma deficiência no modelo, como custo alto, poucas linhas, problemas nos terminais. Hoje, as linhas de ligeirinhos já competem com o fluxo de automóveis.”

Para Reck, o que falta é a implantação de novas tecnologias nos ônibus, aliada à reestruturação da infra-estrutura, com maior variedade de serviços de linhas. Ele defende ainda a criação de um novo plano diretor para Curitiba e Região Metropolitana. “Estamos remendando o que foi o plano diretor de 1966”, aponta. “Para desenhar uma solução para o transporte coletivo para os próximos vinte anos, é preciso identificar com mais clareza o perfil do usuário.”

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