Tranqüilidade é a receita para quem fará vestibular

Enquanto muitos se preparam para as festas de final de ano ou programam as viagens de férias, um grande número de jovens e adolescentes está concentrado em apenas uma coisa: o concurso vestibular. Com a divulgação da concorrência às vagas oferecidas pelas principais universidades do Estado, aumenta a ansiedade e preocupação dos candidatos. Alguns acreditam que já fizeram tudo o que era possível, outros aproveitam cada segundo para colocar o conteúdo em dia. Mas, especialistas e professores são unânimes em afirmar que o importante é manter a “cuca fresca”.

Controlar a ansiedade é o melhor conselho que a psicóloga, pedagoga e mestre em Engenharia da Produção do Conhecimento, Carmem Rodrigues da Costa dá aos vestibulandos. “Eu já vi aluno surtar nesse período, sem se desligar do processo seletivo”, comenta. Esse concentração excessiva acaba atrapalhando a convivência no meio, e pode gerar conflitos sociais. Segundo ela, os pais precisam estar atentos a isso, “e mostrar para eles o que já conseguiram produzir e deixar que a cabeça funcione”.

E essa interpretação do papel dos pais no processo foi absorvida por Gilcemeri Lovato Ribeiro, mãe de Suellen, de 17 anos. Candidata a uma vaga no curso de Medicina Veterinária, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Suellen tinha uma rotina diária de oito horas de estudo, fora o período que passava no colégio Divina Providência, onde está concluindo o ensino médio. “Eu me preocupava muito com isso, e às vezes tirava ela de casa para espairecer um pouco”, disse Gilcemeri.

No primeiro vestibular, Suellen tentou a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no meio do ano. Ela conseguiu aprovação no curso de Zootecnia, e diz que agora está muito mais tranqüila. “Um dia antes da prova eu tive uma crise de choro e fui consolada pelos meus pais que afirmavam que isso seria apenas uma experiência. Com a aprovação, a pressão que sentia passou, e qualquer resultado que tiver pela frente será bom”, afirmou a adolescente.

Na ponta da língua

Para o gerente escolar do Grupo Expoente, Francisco Johnscher Neto esse período que antecede o concurso é o mais tenso para os estudantes. “Depois que as universidades, e principalmente a Federal – que é a mais concorrida do Estado – divulgaram a relação de candidatos/por vaga eles começam a fazer cálculos e analisar quais são as chances de aprovação”, disse. Ele afirma que quem se preparou ao longo do ano está mais seguro, porém o aluno “franco atirador” está mais preocupado e tenta recuperar o tempo perdido.

O gerente escolar acredita que com a ampliação das universidades particulares -36 somente em Curitiba e Região – a frustração de ser derrotado no concurso principal acaba sendo menor. “Ele sabe que se não passar em uma universidade pública poderá ingressar em uma universidade particular com mais facilidade, o que acaba compensando”, disse.

O professor de História e diretor pedagógico do Colégio Dom Bosco, Ari Herculano de Souza, não entende dessa forma. Ele acredita que somente os alunos que possuem uma condição financeira melhor avaliam a situação com essa tranqüilidade, os demais, ponderam todas as possibilidades. “Eles pensam na questão financeira, social e principalmente na qualidade do curso oferecido”, afirmou.

Candidatos sofrem com a escolha da profissão

Engenharia Química foi o curso escolhido por Alessandra Leal, 17 anos. Esse será o primeiro vestibular da candidata, que confessa estar muito nervosa nesse período que antecede o concurso. Mais tranqüilo está Rômulo Fabrício Corna, 18 anos, que já foi aprovado em Eletrotécnica. Agora ele vai tentar Engenharia Elétrica, mas admite também gostar de Direito. Os dois afirmam que as escolhas não tiveram influências.

A professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e autora do livro “Vida e Profissão”, Sônia Regina Vargas Mansano afirma que escolha profissional não é livre, principalmente na fase da adolescência, quando eles são “atravessados” por diferentes relações. “São influências da família, mercado de trabalho, mídia ou salário”, disse. Ela acrescenta que é preciso ter em mente que o vestibular não é o fim, mas o começo da criação de um vínculo com a profissão.

Outra posição defendida por Sônia Mansano é que a escolha não precisa ser definitiva, e que a mudança não é sinônimo de fracasso. No livro, Sônia conta a história de um médico que virou músico. “Ele não se arrependeu da primeira escolha, e diz que entrou na medicina para ser um bom pianista”, comenta. O curso superior também não é garantia de sucesso profissional, diz a professora, que afirma que o grande desafio das pessoas não deve ser a escolha correta, “mas investir em novas formas de se relacionar com o trabalho e com a criação “.

As profissões ditas de sucesso também não estão ligadas com classe social. Outro exemplo citado no livro é de um caminhoneiro, que se tornou técnico de uma hidrelétrica, e mais tarde, um grande advogado. Sônia ressalta que nem todos os jovens precisam passar pela universidade, já que alguns conseguem boa remuneração sem um curso superior. Para ela, o ingresso na universidade é uma exigência do mercado, “mas às vezes um jovem tem um curso superior e não sabe o que fazer com ele”, finalizou.

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