Sustentação financeira é tabu entre sindicalistas

A Reforma Sindical nem começou a ser discutida no Congresso e já está gerando polêmicas. Entre as diversas mudanças trazidas pela proposta, a alteração na forma de sustentação financeira dos sindicatos é a que está provocando mais discussões.

Hoje, um sindicato é quase como uma mina de ouro. Com a unicidade sindical prevista em lei – só pode existir um sindicato por categoria de trabalho e por cidade – e com o imposto compulsório descontado de todos os trabalhadores da categoria representada, os sindicatos têm receitas altíssimas. E agora, quando se cogita acabar com essa sistemática, a confusão começa a ser formada.

Hoje não há transparência nem controle das contas dos sindicatos. O dinheiro que entra vem por quatro formas, sendo três delas compulsórias: desconto assistencial, imposto sindical (3,33% do salário, descontado uma vez ao ano), taxa confederativa ou negocial e mensalidades.

A taxa de negociação é a que dá maior margem para os ganhos ?extras?. Em todo acordo coletivo firmado com as empresas, o sindicato cobra uma taxa dos trabalhadores. Hoje não existe um limite de percentual e esse é um dos fatores que a reforma sindical pretende mudar. Como não há transparência, também fica difícil saber quanto cada sindicato cobra.

Quase ninguém aceita falar sobre o assunto. Entre os dirigentes sindicais, o tema sustentação financeira parece ser tabu. Só aceitam esclarecer alguma coisa aqueles que estão sendo apontados como beneficiários do sistema.

É o caso do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (Simec), Sérgio Butka. Há 20 anos na carreira, Butka era encarregado administrativo antes de se tornar líder sindical. Hoje, com 46 anos de idade e 13 anos presidindo o Simec, ele acumula um patrimônio representativo, avaliado em R$ 350 mil.

Quem trabalha no setor e vê de perto o funcionamento do sindicato tem medo de falar. Represálias e ameaças fazem com que as pessoas se calem. De acordo com trabalhadores que preferem não se identificar, o Simec já chegou a cobrar 13% de taxa negocial. Isso quer dizer que foi cobrado 13% do salário-base de todos da categoria.

Considerando que o Simec representa cerca de 40 mil pessoas, só em uma negociação – cogitando-se que toda categoria receba um salário médio de R$ 800 – o sindicato embolsou R$ 4,16 milhões. ?E fora isso eles recebem as mensalidades, o imposto sindical. A arrecadação deles é enorme, bem maior do que eles anunciam. Assim fica fácil de tirar jetons?, dizem os metalúrgicos.

Além da taxação abusiva, pesam sobre o sindicato acusações de benefícios pós-greve. ?Depois do fim de uma longa greve numa grande montadora aqui na Região Metropolitana de Curitiba, o Butka foi visto circulando, no Norte do Paraná, com um carro esportivo importado.?

Butka nega as acusações e afirma possuir seis imóveis: o apartamento onde mora, o apartamento onde vive sua ex-mulher, um outro apartamento – adquirido ainda na época de solteiro – e três terrenos em Matinhos. Disse ter ainda um barco pequeno, com motor de 40 HP e que valeria entre R$ 8 e R$ 10 mil. ?É o meu lazer. Sempre pesquei e sempre tive um barco para pescar nos fins de semana?, afirma. Butka disse que todo seu patrimônio está avaliado em cerca de R$ 250 mil.

Mas não é isso o que mostra a lista de bens declarados ao TRE em 2002, quando Butka foi candidato a deputado estadual. Lá, estão declarados 5 apartamentos, uma casa e um terreno no nome do sindicalista, patrimônio este com valor de R$ 350 mil. Não estão incluídos aí a caminhonete, a moto e o barco que Butka possui. 

?Remuneração não é diferente?, diz Butka

Quando questionado se um metalúrgico que não esteja nos sindicatos conseguiria acumular patrimônio igual, Butka afirma que sim. ?Nós recebemos aqui exatamente o mesmo salário que ganharíamos se estivéssemos desenvolvendo nossas funções em alguma empresa. Eu era encarregado administrativo e ganho, presidindo o sindicato, o salário médio de um encarregado administrativo com meu tempo de carreira?, disse.

Butka afirmou que a profissão de metalúrgico exige qualificação e existem muitos cargos bem-remunerados no setor. ?A média salarial de um operador varia entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil. Um encarregado administrativo ganha de R$ 1,2 mil a R$ 5 mil. Realmente, quem ganha salário mínimo não consegue acumular um patrimônio como o meu. Mas qualquer outro metalúrgico pode?, afirma. Butka disse que seu salário hoje é de R$ 5 mil mensais.

Até dezembro do ano passado, a renda do sindicalista era mais alta. De 2001 a 2004 ele foi vereador por São José dos Pinhais. Entrou na Câmara recebendo R$ 4.500,00 e saiu com um salário de R$ 5.445,00. ?Não tenho nada a esconder. Todo meu patrimônio está declarado no Imposto de Renda?, diz.

Jogo político

Butka disse que toda essa polêmica sobre seu patrimônio é um jogo político, que está tentando enfraquecer os dirigentes sindicais. ?O que se quer é desmoralizar dirigentes fortes para que, com a reforma sindical, só fiquem os sindicatos mais fracos. Assim, quando vier a reforma trabalhista e houver a necessidade dos sindicatos brigarem pelos direitos do trabalhador, os sindicatos estariam fracos?, afirmou.

Hoje, a receita anual do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba é de R$ 8 milhões. Segundo Butka, R$ 5 milhões são provenientes do imposto compulsório e de taxas de negociações trabalhistas. Os outros R$ 3 milhões vêm das mensalidades pagas pelos 20.424 associados do Sindicato. (SR)

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