Stédile suaviza discurso, mas confirma mês de luta

Brasília – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete realizar uma série de ações antes da manifestação marcada para 1.º de maio, Dia do Trabalho. Segundo o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, a promessa representa o verdadeiro sentido da ameaça de “infernizar” o País com ocupações em abril, conforme declarou recentemente em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. “De fato, foi uma palavra infeliz. O sentido principal era pressionar, azucrinar”, explicou.

Sobre o “abril vermelho”, que também havia citado, Stédile disse que a expressão tem o sentido de “recuperar as bandeiras vermelhas, fazendo manifestações para construir um grande 1.º de maio que recoloque, no debate da sociedade, o problema do desemprego”.

Durante audiência na CPI da Terra no Senado, João Pedro Stédile cobrou a reestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ele disse que enquanto houver desigualdades na divisão de terras no País, haverá conflitos no campo. O coordenador afirmou que no topo da pirâmide social rural estão apenas 23 mil proprietários que detêm 120,436 milhões de hectares, onde poderiam ser assentadas mais quatro milhões de famílias de sem-terra. “Essa é a essência do problema. Enquanto mantivermos essas propriedades improdutivas, enquanto houver essa polarização, haverá conflito”, acrescentou.

Stédile cobrou o assentamento de 115 mil famílias neste ano: até agora, afirmou, somente sete mil foram assentadas. Ele citou dados do Incra que revelam a existência de 54.781 imóveis classificados como propriedades improdutivas, concentradas em mais de 120 milhões de hectares. “O Brasil teve oportunidades históricas de resolver esse monopólio, que transformou milhares de brasileiros em párias da sociedade”, afirmou.

O líder sem-terra afirmou que é realista a meta do governo de assentar 400 mil famílias nos próximos três anos. Observou, por outro lado, que a meta é insuficiente e não vem sendo cumprida. “Chegamos a uma situação que, em vários estados do Brasil, o governo não conseguiu assentar, nestes 15 meses, nenhuma família, inclusive em São Paulo”, disse.

Sem-terra denunciam crime ambiental

Policiais militares passaram boa parte do dia de ontem na localidade de Rio Pequeno, em Antonina, verificando a situação próxima à Fazenda São Rafael, ocupada por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na quarta-feira. O proprietário do local, Pedro Paulo Pamplona, conseguiu o mandado de reintegração de posse e o enviou à Secretaria de Segurança Pública (Sesp), que repassou à PM local. O objetivo é elaborar um plano para que as famílias saiam da área de maneira pacífica.

Os sem-terra bloquearam a estrada do Rio Pequeno em dois pontos e construíram barracas já dentro da fazenda, segundo a PM. A direção do MST informou que o objetivo da ação é denunciar crimes ambientais praticados na fazenda, como o desvio de dois rios e a derrubada de mata nativa.

Agricultores do vale do Rio Pequeno estão sem acesso à água desde que o curso de dois rios foi desviado. Os rios Pequeno e Barbudo, que tiveram seus cursos desviados, não passavam pela Fazenda São Rafael, mas seus cursos foram desviados, deixando 12 produtores rurais sem acesso à água. Os rios passavam pelos seus sítios.

Segundo o produtor Avelino Marcos de Souza, 76 anos, a intenção do dono da fazenda é expulsar os pequenos proprietários da região. “Ele quer grilar as nossas terras”, acusou. Há 26 anos na região, produz farinha de mandioca, rapadura, açúcar mascavo, cachaça e cultiva mandioca, cana, palmeira e café. “Nesses 26 anos que estou aqui construí duas casas de alvenaria e criei meus filhos, tudo isso com a produção agrícola, mas sofrendo todo tipo de pressão e ameaças para deixar minha propriedade, de pouco mais de 12 alqueires”, contou.

Incra

O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, esteve ontem na sede do Incra, em Curitiba, onde garantiu a saída de 17 famílias de agricultores sem-terra que tinham ocupado o prédio na quarta-feira. As famílias eram oriundas de várias regiões do Paraná. Depois de negociações com líderes do movimento, os invasores aceitaram desocupar o prédio pacificamente. Numa reunião entre integrantes do movimento dos sem-terra e a Comissão de Conflitos Agrários da Secretaria da Segurança ficou decidido que as famílias serão cadastradas pelo Incra.

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