Sobrevivente narra drama da queda do avião

Até a tarde de ontem, a sobrevivente Haislana Batista Lima, de 9 anos, ainda não sabia que sua mãe, Maria Cristina Batista Lima, 32, foi uma das vítimas fatais do acidente ocorrido na manhã de anteontem, em São José dos Pinhais, onde caiu o avião Bandeirante C-95, da Força Aérea Brasileira (FAB), que tentou um pouso forçado quando os dois motores pararam de funcionar.

“Era a primeira vez que a gente estava viajando de avião e minha mãe estava com medo”, conta a menina. “Então começamos a brincar com um joguinho que levei, para nos distrair. Mas o avião começou a baixar muito rapidamente e minha mãe teve uma crise nervosa. Ficou apavorada. Depois só me lembro que acordei aqui no hospital, toda suja de lama.” A menina sofreu fratura de fêmur, foi submetida a cirurgia e passa bem, de acordo com os médicos.

A aeronave, que saiu de São Paulo com destino a Canoas (RS) e com pouso previsto em Florianópolis (SC), para reabastecimento, transportava dezesseis pessoas, sendo três tripulantes e treze passageiros. Morreu no local do acidente a mulher do comandante do avião, Cláudia Stangarelli. Horas depois, o subcomandante Tôni Gonzaga de Brito, 47, morreu no Hospital São José, em São José dos Pinhais, e a passageira Maria Cristina morreu no Hospital Evangélico de Curitiba.

Internados

Outros vítimas permanecem hospitalizadas na Região Metropolitana de Curitiba. No Cajuru estão Haislana, William Toshiaki, a esposa dele Valdecir Marques Mishubi e a filha do casal, Amanda Marques Mishubi, 17. Os três estão na unidade de terapia intensiva (UTI), em estado que inspira cuidados.

O comandante da aeronave, capitão Gláucio Octaviano Guerra, que estava no Evangélico, sofreu cirurgias e ontem foi transferido para a UTI do Hospital do Exército. Seu estado também é grave. Ele deverá ainda se submeter a novas cirurgias, porém deverá optar se quer ser operado em Curitiba ou levado para um hospital do Rio, onde mora sua família.

No Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, ainda estão Gionei de Almeida Lima, Odair Silva de Almeida e Lucas Gutierrez Correia, 9. Os pais de Lucas ? Roselaine Correia e o sargento José Mário Ribeiro Correia – estão na UTI do Hospital São José, juntamente com o sargento Maurício Guimarães de Carvalho. No Hospital do Trabalhador ainda se encontra Almir Alves de Melo.

Corpos

Os corpos de três vítimas foram transferidos ontem para as cidades onde moram seus parentes, por aviões da FAB, disponibilizados pelo 2.º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), com sede em Curitiba.

O corpo do subcomandante da aeronave ? um Bandeirante pertencente ao Esquadrão Curinga da FAB ?, Tôni Gonzaga de Brito, foi transferido no início da tarde para Brasília. Por volta do meio-dia os corpos de Maria Cristina Batista Lima, 32, e de Cláudia Stangarelli seguiram para Canoas (RS) e São Paulo, respectivamente, de acordo com o desejo das famílias.

Especialistas iniciam perícia

Uma equipe composta por dezesseis especialistas da Aeronáutica, vindos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio, membros do Centro Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) iniciou ontem os trabalhos de perícia e levantamento de dados no local aconteceu a queda do avião Bandeirante da FAB, que matou três pessoas e feriu outras treze. O grupo deve recolher, examinar e periciar peças da aeronave, buscando descobrir a causa do acidente, para prevenir a ocorrência de outras panes.

“Dentro de 30 dias deve sair um relatório não conclusivo, mas somente com hipóteses do que pode ter acontecido. E em 90 dias é entregue o relatório oficial, com as conclusões”, informou ontem o coronel Silvestre Coelho, comandante do Cindacta II. Segundo ele, a Polícia Civil deverá instaurar inquérito para apuração de responsabilidades civis, uma vez que os levantamentos do Cenipa servirão apenas para prevenção de novos acidentes.

A aeronave fazia um võo rotineiro para a base aérea de Canoas (RS) e não estava previsto pouso em Curitiba. No entanto, ao sobrevoar a cidade ocorreu uma pane em um dos motores. O comandante, capitão Gláucio Guerra, avisou a torre de controle do Afonso Pena, pedindo permissão para descer. Quando uma das pistas foi liberada o segundo motor do avião também parou, impedindo que a aeronave alcançasse o destino. O comandante poderia ter tentado descer no asfalto do recém-inaugurado Contorno Leste, mas preferiu levar o avião até um terreno baldio, para evitar uma tragédia maior.

Ao chocar-se no chão, o Bandeirante teve a frente destruída e seus ocupantes foram lançados a vários metros de distância. Moradores da região ajudaram a socorrê-los, impedindo que morressem afogados no banhado ali existente.

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