Skate leva jovens a um modo de vida peculiar

Altas manobras que emocionam o público, som pesado e um estilo todo peculiar. À primeira vista, revoltados e contra o sistema, mas na verdade tímidos, simpáticos e bons meninos. Alguns são mais aventureiros e optam por não usar os equipamentos de segurança nas manobras realizadas nas ruas e nas pistas de competição. Outros apenas acompanham a turma. A tribo dos skatistas ganha, a cada ano, uma grande quantidade de adeptos, que praticam o esporte radical, frequentam a “comunidade”, criam moda, expressões e até ritmos musicais.

Hoje, o skate é o esporte que mais cresce no Brasil, de acordo com dados divulgados por uma pesquisa recente realizada por uma agência de propaganda de São Paulo. Em Curitiba, a tribo dos skatistas é formada por adolescentes e até mesmo crianças, que variam de 5 a 20 anos. Alguns campeões nacionais e um campeão mundial, Ferrugem, são de Curitiba, cidade que está se tornando referência para skatistas.

Parte dessa garotada já participa de competições amadoras e começa a mostrar que podem pensar em uma carreira promissora no esporte. Termina hoje no Paraná Clube, o Campeonato Pop Internet de Skate Amador – final do Circuito Paranaense 2003. As provas finais da competição serão realizadas a partir das 9h, com a premiação acontecendo às 19h. 220 skatistas amadores estão participando do evento, em várias categorias.

No mundo do skate, ou melhor, quando um garoto se torna skatista, ele muda seu modo de vida e passa a usar roupas, ouvir músicas e falar a língua do skate – até mesmo os apelidos da galera são bizarros. Eles vestem roupas largadas – calças e bermudas enormes cheias de bolsos -, tênis grandes com aspecto desleixado, e o indispensável boné. “É um estilo normal. Cada um se veste do jeito que quer. Alguns acabam ficando parecidos, mas a escolha de cada um varia muito”, explica Eduardo Aves, de 19 anos. O estudante pratica o esporte desde os 14, por influência dos primos mais velhos.

Outra característica dos skatistas são as preferências musicais, que vão desde o hardcore (rock pesado), passa pelo punk-rock, dá uma volta pelo rap e termina com algo nacional, da preferência pela banda santista Charlie Brown Jr – cujo líder, Chorão, também é skatista. “Na verdade, os estilos de cada grupo variam. Todos gostam dos mesmos sons, usam algo parecido e o mais importante é que gostam do mesmo esporte. Todo mundo está aqui por causa do skate”, destaca outro estudante, Jean Carlo, de 16 anos. Ele pratica o esporte há três anos e antes de começar a competir em campeonatos amadores, pegava skate emprestado dos amigos. “Eu pedia emprestado um skate para aprender. Depois, consegui andar e fazer algumas manobras, até chegar nas competições”, diz.

Vocabulário do skate

Assim como outras tribos, o pessoal do skate também possui gírias próprias, utilizadas em competições e nas conversas entre os amigos. Algumas são conhecidas, como tá ligado (presta atenção), ou fica esperto (cuidado). Outras são inimagináveis. O que seria uma vaca? Totalmente diferente do uso normal da palavra, ela é usada nas competições de skate para distinguir um tombo no meio de uma manobra. “Se um cara que está competindo, vai fazer uma manobra, se desequilibra e cai, ele é um vaca, um vacilão”, diz Cristina Souza, de 20 anos. E o que é vacilão? “É um cara desligado, distraído, que comete erros durante a apresentação da prova. E, ainda tem muitas outras gírias que nós criamos no ato. Nós pensamos em algo e no meio de uma conversa, acaba saindo. Não importa se está certo ou errado, se está no dicionário ou não. Se a turma entendeu, já está valendo”, completa a estudante, que faz parte de uma turma de meninas skatistas de Pinhais. Segundo ela, a diversão nos finais de semana continua envolvendo o skate. “Mesmo à noite nós nos reunimos e vamos procurar algum obstáculo que sirva para fazer manobras. Meninos e meninas, todos juntos, atrás de algo que sirva para praticar o skate”, afirma.

Proteção

A possibilidade de um tombo e de uma contusão é uma adrenalina a mais para os praticantes de skate. Em grande parte, eles preferem deixar de lado os equipamentos de segurança, joelheiras, cotoveleiras e capacetes, para praticar os estilos “free style” (livre) ou o street (com obstáculos naturais, calçadas, degraus, pequenas rampas), mas sempre arriscando e desafiando os perigos nas ruas da cidade. Diferente das competições profissionais em half pipe (aquela rampa que parece um grande tubo cortado no meio), os competidores do campeonato amador nessa modalidade street, não costumam utilizar as proteções convencionais na prática do skate.

“Nós andamos na rua, e nunca usamos nada para proteger contra alguns machucados. Você acaba ralando o joelho e o cotovelo, mas mesmo assim, não tem importância e nós continuamos fazendo manobras. Nas competições é a mesma coisa. Muito pouca gente acaba usando o equipamento”, afirma Anderson William, de 14 anos.

Voltar ao topo