Senac dá chance para detentas

Durante um mês, elas colocaram uniforme e sapatos brancos e foram todas às tardes ao prédio do Senac-Curitiba aprender técnicas de manicure e pedicure. Ao fim de cada dia, voltavam para a Penitenciária Feminina de Regime Semi-Aberto, no Ahu, onde cumpriam e cumprem pena. Jussara Gonçalves e Priscila Costa foram duas das cinco beneficiadas com bolsas de estudo cedidas pelo Senac e viabilizadas pelo governo estadual.

Ambas estão prestes a obter a liberdade e se emocionaram com a experiência, que terminou nesta semana. “Depois de tanto tempo a gente se sentiu normal de novo”, resume Priscila, que cumpre pena até o fim do ano. Para a coordenadora do Programa de Profissionalização do Departamento Penitenciário, Sônia Virmond, os objetivos do curso foram atingidos. “As presas ganharam uma nova profissão e tiveram uma experiência de transição entre o ambiente penitenciário e o mundo externo. Elas viram que, para ser respeitadas, precisam respeitar os outros”, disse Sônia.

Adaptação

No começo, somente os professores do Senac sabiam que as duas eram detentas. Depois de algumas tardes, elas ficaram amigas das alunas e não tinham mais desculpas para recusar os convites para tomar um chope ou “pegar um cinema”. Outro fator determinante para que elas contassem a verdade foi o modo como chegavam e iam embora do curso: com um carro oficial. “As meninas perguntavam quem era o moço que vinha buscar a gente e eu dizia que era um tio, só que cada dia a gente aparecia com um tio diferente”, conta Jussara, rindo.

A solução que as próprias presas encontraram foi reunir todo mundo da sala e contar a verdade. “Dissemos que tínhamos uma revelação a fazer, mas que esperávamos que o nosso relacionamento não fosse mudar por causa daquilo”, conta Priscila. “E dissemos que, se a forma como éramos tratadas mudasse, entenderíamos”, diz Jussara. Apesar da insegurança das duas, as outras alunas abraçaram-nas e agradeceram a confiança por estarem expondo uma situação que devia ser difícil para elas.

Respeito

O mesmo carinho elas receberam da instrutora e dos funcionários do Senac, que ofereceu as bolsas para o curso de manicure no valor de R$ 420 cada. “Queremos acabar com esse conceito de que você tem que dar esmola para ser solidário”, disse a superintendente do Senac, Maria Augusta Araújo. A experiência é resultado do plano estratégico para o terceiro setor e de responsabilidade social, desenvolvido pela Diretoria de Relações com o Mercado.

Jussara, que cumpre pena até julho, já começou a ganhar dinheiro com a nova profissão. Quando foi para a casa, na visita mensal a que tem direito, fez as unhas das colegas do bairro e faturou R$ 60 em três dias de trabalho. Priscila compartilha da mesma empolgação. “Quando a gente está lá dentro (da prisão) não tem muita expectativa, mas agora não precisamos mais nos desesperar, porque estamos prontas para sair da unidade e trabalhar”, diz.

Uma experiência semelhante estão tendo outras três moças da penitenciária, que ganharam bolsas para o curso de confeiteiro, cada uma delas no valor de R$ 800. As presas, que preferiram não se identificar, têm entre 20 e 25 anos e vão aprender a fazer doces e salgados até o começo de maio, numa turma com outros 10 alunos. J. C. , a mais velha das presas, é quem resume a experiência: “Estamos conhecendo pessoas de boa índole e isso é o mais importante, porque a última coisa que queremos é voltar para o lugar de onde saímos”, conta.

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