Seminário em Foz discute exploração de aqüífero

A exploração do Aqüífero Guarani continua gerando debates entre as entidades públicas, privadas e organizações da sociedade. O próximo acontece nos dias 14 e 15 de outubro, em Foz do Iguaçu, em um seminário internacional que vai tratar da gestão e controle desse reservatório de água subterrânea, cuja extensão é de 1,2 milhões de quilômetros quadrados.

O aqüífero, considerado o maior do mundo, se estende pelo Brasil (que abriga 840 mil quilômetros quadrados), Paraguai (58,5 mil), Uruguai (58 mil) e Argentina (255 mil), representando uma área equivalente ao conjunto dos territórios de Inglaterra, França e Espanha.

Para Laura Jesus de Mora e Costa, coordenadora executiva da União de Entidades Ambientalistas do Paraná (Uneap), ainda existem várias questões pendentes sobre o aqüífero. Em primeiro lugar, ela cita que é preciso compreender que o reservatório não é 100% próprio para o abastecimento humano, pois as águas estão em temperaturas que variam entre 45ºC e 60ºC, com alta salinidade, principalmente na parte sob o Paraná (131,1 mil quilômetros quadrados). “Somente foram realizados estudos geológicos do aqüífero, mas outras pesquisas ainda estão sendo desenvolvidas para verificar as propriedades dessa água, que ninguém conhece. Assim, será possível saber quais serão as suas funções futuras”, afirma Laura.

Outro ponto abordado por ela é o financiamento de bancos internacionais para a exploração do Aqüífero Guarani. Segundo a coordenadora, as instituições financeiras excluíram as entidades públicas brasileiras do processo: “Esta é uma questão de soberania nacional, pois a água é patrimônio natural limitado e dotado de valores econômicos, sociais, culturais e ambientais. A água não pode ser simplesmente comercializada por empresas estrangeiras”, considera.

Irreversível

A exploração incorreta do aqüífero pode gerar conseqüências irreversíveis. A principal delas é a contaminação do reservatório subterrâneo por agrotóxicos e falta de tratamento de saneamento básico. “Isso pode acontecer nos locais onde o aqüífero aflora na terra ou pela permeabilidade do solo”, conta. Além disso, a salinidade da água pode aumentar em função do desmatamento e da erosão do solo. “A exploração inadequada cria impacto socioeconômico muito grande, pois será possível criar empregos com o surgimento de termas e segmentos em sua volta, como comércio e restaurantes”, completa.

Lençol abastece 23 municípios

A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) explora o Aqüífero Guarani há vinte anos, segundo o gerente de hidrogeologia da empresa, João Horácio Pereira. Vinte e três municípios são abastecidos com águas do reservatório. Ele explica que, seguindo a lei estadual de exploração de recursos hídricos subterrâneos, a Sanepar faz estudos da viabilidade para a atividade, que são encaminhados para a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa). Se estiver de acordo com a lei, o órgão fornece a autorização para a perfuração do poço, onde são feitos outros testes. Depois disso, a Sanepar pede a outorga do uso da água.

Para Pereira, o Aqüífero Guarani possui água de ótima qualidade, mas não em toda sua extensão. “O aqüífero está entre 500 e 1,2 mil metros de profundidade. Por causa disso, a água já vem com uma quantidade de sais e elementos químicos imprópria para o consumo humano”, comenta. As soluções para esse caso são um pré-tratamento ou a diluição da água do reservatório com a proveniente do rio.

O gerente da Sanepar avisa que, em pouco tempo, a água proveniente do aqüífero estará abastecendo a cidade de Londrina, região Norte do Estado. “Lá, a água é de excelente qualidade. Já foram perfurados poços grandes com volume de 100 litros de água por segundo. Eles estarão interligados no sistema de abastecimento, que atualmente é feito apenas pelo Rio Tibagi”, informa Pereira. Já em Cascavel, Oeste do Paraná, nem sempre será possível usar a água do Guarani. “Neste município, a água já não tem a mesma qualidade da extraída em Londrina. Será preciso aplicar o pré-tratamento ou a diluição”, acredita. (JC)

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