O início da Marcha Nacional pela Reforma Agrária foi marcado ontem no Paraná pela ocupação de nove das 27 praças de pedágio que formam o Anel de Integração no Estado. As invasões partiram de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que após a desocupação das praças, entre o final da tarde e início da noite de ontem, seguiram para Londrina e de lá devem se deslocar a Goiânia, hoje, para uma caminhada de 17 dias que reunirá integrantes do movimento de todo o País rumo a Brasília.
As praças ocupadas sob concessão da Rodonorte foram as de São Luiz do Purunã e Mauá da Serra (BR-277). Nessa última, cerca de 80 sem terra chegaram pela manhã e cortaram o sistema de comunicação. De acordo com a assessoria de imprensa da concessionária, alguns estavam encapuzados, ?provavelmente por causa das câmeras?. Um dos gerentes ficou retido no local, já que os manifestantes não permitiam a passagem para deixar a praça. Os funcionários foram expulsos e, ainda de acordo com a assessoria, a polícia apenas observava de longe a manifestação. Segundo a empresa, usuários contaram que os sem terra apenas estavam pedindo contribuições em dinheiro.
Havia informações de que as dispensas da praça tinham sido saqueadas e que catracas estariam quebradas, já que, ao serem abertas manualmente, os dispositivos eletrônicos são comprometidos. Por volta das 16h, manifestantes seguiram para a praça de pedágio de São Luiz do Purunã, onde liberaram a passagem dos veículos.
As praças de São Miguel do Iguaçu e Cascavel, sob responsabilidade da Rodovia das Cataratas, também foram ocupadas. Em São Miguel, no início da tarde de ontem, cerca de 300 manifestantes abriram as cancelas e os usuários estavam passando sem pagar, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal. Já na praça de Cascavel, a manifestação contou com cerca de 400 participantes e durou até as 14h.
Entre as praças sob concessão da Viapar, as de Castelo Branco (BR-376), nas proximidades de Maringá, Arapongas e Mandaguari foram ocupadas. Essa última, porém, por bem pouco tempo. A assessoria da Viapar informou que os manifestantes não cobravam pedágios nem pediam contribuições, somente liberaram as catracas.
Bonés
Na Lapa, a praça sob administração da concessionária Caminhos do Paraná ficou tomada por cerca de 80 manifestantes entre às 9h e meio-dia de ontem. Lá, os sem terra não cobraram pedágio, mas estavam vendendo bonés a R$ 10. ?Como os caminhoneiros ficavam acuados, acabaram comprando?, informou a assessoria de imprensa da concessionária, relatando que os manifestantes mexeram no sistema de computadores e quebraram cancelas. A Caminhos do Paraná calcula que 700 carros passaram pela praça de pedágio da Lapa sem pagar. Da concessionária Econorte, a única praça tomada pelos sem terra foi a de Jataizinho, na BR-369.
As últimas informações emitidas no início da noite de ontem pela Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR) foram que os sem terra deixaram a praça de São Luiz do Purunã e seguiram até a de Witmarsum, onde mantiveram as cancelas abertas por cerca de 15 minutos. Em ambas a situação estava normalizada por volta das 18h30. A praça de Mauá da Serra também já havia sido deixada pelos manifestantes, mas não havia informações sobre o funcionamento do pedágio, já que prováveis danos materiais foram causados. Saindo da praça de Castelo Branco, de domínio da Viapar, os sem terra passaram pelos pedágios de Corbélia e Campo Mourão rapidamente, por volta das 18h. Em Jataizinho, última praça a ser liberada, a informação era de que o movimento seguia rumo a Londrina com cerca de uma hora de atraso. Apesar dos danos materiais alegados, não houve qualquer acusação de atos violentos por parte dos manifestantes.
ABCR vê conotação política na ação
A assessoria de imprensa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná justificou as ocupações das praças de pedágio como alternativa para ?chamar a atenção da população paranaense para a largada da Marcha Nacional pela Reforma Agrária?. O coordenador estadual do MST, José Damasceno, afirmou que os cerca de mil participantes em todo o Paraná pretendiam ?envolver a sociedade local, para que todo o Estado se mobilize em prol da marcha durante os 17 dias de caminhada?.
Já o diretor da Associação Brasileira das Concessionárias de Pedágio (ABCR), João Chiminazzo, informou que a associação entrou com pedido de reintegração de posse das praças tomadas, apesar de haver promessa por parte dos manifestantes que todas seriam deixadas até o início da noite, como efetivamente aconteceu. ?Mas é estranho que façam invasões nos pedágios sem que tenham uma motivação clara para isso. As praças são propriedade do governo, não das concessionárias?, disse o diretor, que acredita ter se transformado a questão do pedágio em ?ícone de batalha política com esse tipo de manifestação?. Mais uma vez, de acordo com o diretor, quem vai bancar os prejuízos é a população do Paraná. ?Ao serem apurados os prejuízos, pediremos o reequilíbrio econômico por meio dos contratos?, concluiu.
O diretor da ABCR questionou ainda a ação da polícia no local, informando que policiais rodoviários apenas observavam de longe as ocupações. A Polícia Rodoviária Federal confirmou que não interferiu nas ações porque tratava-se de manifestação pacífica, já que ?não houve confrontos nem interdições da pista?. Quanto aos prejuízos alegados pelas concessionárias, a central da Polícia Rodoviária Federal afirmou que ?não foi comunicada sobre qualquer prejuízo material? pelas mesmas. (LM)


