Dívidas de R$ 97 milhões

Saúde pública de Curitiba está em situação delicada

A saúde pública em Curitiba passará por uma reformulação, mas a passos mais lentos do que o novo secretário municipal, Adriano Massuda, esperava. Com R$ 97 milhões a serem pagos na praça, sendo R$ 71 milhões deles sem previsão no orçamento, a alternativa para não deixar a saúde perecer é dividir os investimentos entre pagamentos de dividendos e investimentos em melhorias. Os recursos federais devem ser a saída para estabilizar o setor. Mas de qualquer maneira, o impacto será sentido, impedindo um avanço na proporção necessária.

“Sem dúvida terá impacto orçamentário, não tem jeito. Mas estamos indo atrás de novas fontes para que isso não impeça de fazer os avanços que precisamos. Já tive uma agenda com o ministro Padilha (Saúde) e com a ministra Gleisi (Casa Civil) e discutimos projetos de investimentos para as redes de urgência, mental e da mulher”, explicou Massuda.

Além de administrar a dívida, a secretaria está se preparando para solucionar problemas emergenciais, que foram detectados ainda na fase de transição das gestões e que assustaram os novos diretores. A “recuperação” da saúde começou por serviços simples, como roçada dos terrenos das unidades, mas é preciso mais que um terreno limpo para que Curitiba volte a ter excelência no setor.

“Os problemas emergenciais nos surpreenderam negativamente, como o abastecimento de insumos, paralisação de serviços e as dívidas”, conta o secretário, que ainda em dezembro precisou pedir que a gestão responsável à época fizesse um pedido emergencial para não deixar faltar medicamentos na rede.

Com prioridades e pouca margem de investimento em razão das dívidas, a conversa franca com os servidores foi o primeiro passo para tentar renovar os serviços e atendimentos. A recepção dos funcionários foi a surpresa positiva para Massuda. A abertura dos diretores dos hospitais conveniados também chamou a atenção. “Não dá para dizer que só tem problemas, tem que exaltar as coisas boas para não ficar esta síndrome de vira-lata”, enfatiza o secretário.

Laboratório de rua pra atender usuários de crack

Marcos Borges
Massuda: combater uso da droga é o grande desafio.

Combater o crack será uma das grandes ações e desafios da Secretaria Municipal da Saúde. Este é o planejamento do novo responsável pela pasta, Adriano Massuda. Com a nova equipe, ele está preparando projetos para ampliar o atendimento aos usuários de crack, o grande mal que assola os dirigentes da saúde hoje. A dependência do crack e suas consequências são elevadas à gravidade do impacto que a aids causou ainda na década de 1980, quando começou a se propagar.

Combater o uso desta droga, para Massuda, é o grande desafio da modernidade. Mas a estratégia é fazer o combate consciente e não apenas repressivo, por isso ele quer uma ação diferenciada. Além de aderir ao plano nacional de enfrentamento, o secretário já tem outras estratégias planejadas. Uma delas é a criação de um laboratório de rua, para aproximar o sistema de saúde do usuário, antes que ele precise ir atrás do atendimento, já em estado mais preocupante.

O projeto é mudar a realidade mascarada de hoje. Os usuários têm sido atendidos em grande número na rede pública de saúde. Mas depois de terem a crise tratada, são liberados. Com a nova política de combate, o secretário quer fazer o tratamento do dependente para que ele deixe de ser “um doente”. “A expectativa é que Curitiba construa uma, capacidade melhor de trabalho com o crack que não seja só pela repressão e sim de trabalhar com ele. Quem é usuário de crack não é criminoso, ele está doente e precisa ser tratado”, ressalta Massuda.

Usuários criticam longa espera

A demora nos atendimentos, seja rotineiro ou de especialidades, domina as reclamações e fazem inchar ainda mais os Centros Municipais de Urgências Médicas (CMUMs). “No posto de saúde do Abaeté não consigo ser atendida, tenho que vir para o 24 horas. Precisa melhorar isso. Na minha gravidez mesmo só tive quatro consultas e apenas uma ecografia. Precisa de mais médicos em tudo”, reclama Thalita Camargo Estevam da Rocha, que recorre ao CMUM do Boa Vista sempre que precisa de atendimento.

Sem atendimento perto de casa, ela precisa da companhia do marido Jonatan Soares da Rocha, que também precisa fazer sacrifícios. “Estou perdendo um dia de trabalho, mas não posso deixar ela sozinha”, conta o jovem, que também estava com o filho de um ano enquanto esperava meia hora por atendimento.

Ampliar e melhorar os atendimentos nas unidades de saúde são o ponto principal para mudar a rotina de quem precisa do SUS em Curitiba. “Tem baixa produtividade do que está sendo ofertado hoje e insuficiência de oferta para algumas áreas e tempos que ampliar estas ofertas. Isso estamos estudando. Há encaminhamentos desnecessários e o que se produz hoje tem baixa resolutividade e insuficiência”, destaca Massuda.

Solução está nas parcerias

O sistema público de saúde de Curitiba não é restrito apenas aos moradores da capital e isso acaba aumentando a demanda dos serviços. Há casos em que o atendimento a pacientes de outras cidades representa metade da capacidade total. Um exemplo é o Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Boa Vista, onde as pessoas representam 50% dos pacientes. A solução pode ser uma parceria com os municípios vizinhos. O secretario municipal da Saúde, Adriano Massuda, quer ampliar as conversas com os colegas destas cidades. Ainda que isso aumente a demanda na capital, Massuda é contrario a restringir os atendimentos. “Não vou fechar a porta de jeito nenhum. O que precisa é organizar. O foco não é fechar a porta aqui, mas melhorar a porta de lá”, explica o secretário.

Marcos Borges
Jonatan.e Thalita: precisa de mais médicos em tudo.