Saúde de caminhoneiro deve ser levada a sério

Má alimentação, estresse, sedentarismo, poucas horas de sono e automedicação fazem parte da realidade da maioria dos caminhoneiros em atividade nas estradas brasileiras. Dirigindo por catorze, quinze ou até dezoito horas seguidas, longe da família e com raríssimos momentos de lazer, esses profissionais estão constantemente sujeitos a assaltos, acidentes e problemas de saúde.

Segundo o médico Rubens Skronski Ton, que ontem, das 8h às 12h, coordenou um trabalho educativo, voltado a caminhoneiros e realizado pela Polícia Federal, no quilômetro 56 da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116, trecho Curitiba-São Paulo), os principais males que atingem os motoristas de caminhão são estresse, hipertensão, obesidade e problemas circulatórios nos membros inferiores, por ficarem sentados grande parte do dia. “Eles são vítimas de excesso de trabalho e pressões constantes. Muitos não têm tempo para se cuidar, tendo a saúde bastante debilitada”, declara.

Os mais jovens, na tentativa de aumentarem a produção, acabam se tornando adeptos dos rebites, remédios à base de anfetaminas que fazem com que as pessoas não sintam sono. “Esses medicamentos geram sobrecarga cardíaca. Fazem com que os usuários ultrapassem o limite de fadiga e estresse, explica Rubens.

Diante de tanto problemas, os caminhoneiros acabam ficando mais sujeitos a acidentes. “É comum os caminhoneiros cochilarem no volante e causarem acidentes. Porém, na maioria das vezes, quando o acidente é inexplicável, como uma saída de pista sem razão, o caminhoneiro está sob os efeitos dos rebites”, conta o policial rodoviário Federal, Armando Obladen Filho, que também participou da operação na BR-116.

No lugar, além de médicos e policiais, estavam estudantes de enfermagem voluntárias da Uniandrade. A estimativa é de que cerca de cem motoristas de caminhão tenham participado das atividades, medindo a pressão arterial, verificando a taxa de diabetes e recebendo orientações sobre boa alimentação e doenças sexualmente transmissíveis. A operação foi realizada em todo Brasil e deve passar a se repetir de dois em dois meses.

Vida na estrada não é nada fácil

Os caminhoneiros, que enfrentam chuva e calor dentro da cabine para entregar suas cargas nos horários determinados, confirmam que a vida na estrada não é fácil. Muitos, passam até quinze dias viajando e apenas um ou dois em casa, ao lado da família.

É o caso de Antônio José Trantin, há 20 anos na profissão. Ele transporta arroz dos estados do Sul para o Rio e Belo Horizonte. Sua principal queixa é a pressão exercida pelas empresas contratantes. “As empresas ficam sempre em cima para que cheguemos no horário. Acaba sendo bastante cansativo e estressante”, afirma.

Segundo Vitor Antunes de Souza, que transporta arroz beneficiado do Paraná para Belo Horizonte e também está há 20 anos na atividade, além da pressão dos patrões, os caminhoneiros vivem inseguros devido aos assaltos e acidentes nas estradas. “Hoje em dia está tudo muito perigoso. Convivemos com o risco de sermos assaltados ou nos acidentarmos. A maioria das estradas está em péssimas condições”. Ele confessa que não tem muito tempo para cuidar da saúde. “Passo até quinze horas dirigindo. Procuro sempre parar para dormir, mas é bastante difícil eu me alimentar bem ou ter tempo para fazer exames preventivos”.

Já o motorista Gilberto Ferreira, que há treze anos viaja do Sul ao Nordeste do país, transportando produtos congelados, revela que já utilizou rebites para afastar o sono. “O medicamento corta o apetite e deixa a gente mais ligado, sem sono. Muitos motoristas, na incumbência de entregar a carga no horário certo, acabam utilizando”, conta. (CV)

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