Renault vai indenizar ex-funcionário por LER

O ex-funcionário da Renault do Brasil, montadora localizada em São José dos Pinhais, Josué Antonio da Silva, entrará para a história. Ele é o primeiro a ter uma doença de trabalho reconhecida por uma montadora de veículos e será indenizado. Ontem, representantes do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba se reuniram com representantes da Renault, na Delegacia Regional de Trabalho, em Curitiba, na tentativa de que outros casos de LER (lesão por esforço repetitivo) e Dort (doença osteomuscular relacionada ao trabalho) sejam reconhecidos.

O Sindicato alega que pelo menos 25 funcionários da Renault foram demitidos porque apresentavam a doença, mas ainda não existem confirmações por parte da perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Em treze anos que estou no Sindicato, é a primeira vez que vejo uma montadora admite a doença. É um grande avanço”, reconhece o diretor de saúde Nuncio Manalla. Ele ressalva, no entanto, que os demais casos precisam ser analisados, como o de Alcione Romualdo da Silva, de 30 anos, que foi demitido em junho de 2001. A perícia médica do INSS, segundo Núncio, já reconheceu que o problema de Silva teve início enquanto trabalhava na montadora. “Depois de oito meses de trabalho, já comecei a sentir amortecimento no braço esquerdo, formigamento”, relata Alcione. Segundo o ex-funcionário, o fato foi comunicado à empresa e ele imediatamente iniciou o tratamento. “Fui despedido mesmo em tratamento”, conta.

O caso de Josué Antonio da Silva, 37, que deverá ser indenizado pela Renault – as cláusulas do acordo ainda não foram definidas -, não é diferente. Admitido na empresa em julho de 99, começou a sentir fortes dores no ombro e nas costas um ano e meio depois. Em novembro do ano passado, veio a demissão. “No começo, a montadora não quis reconhecer o meu problema, me mandou embora. Mas com a perícia do INSS, ficou comprovado que a doença apareceu enquanto eu trabalhava”, conta. Desempregado e pai de família, Josué revela que, mesmo com as conseqüências do trabalho pesado, gostaria de ser recontratado. “A minha doença é de nível quatro, sem cura. Eu gostaria de voltar a trabalhar”, lamenta.

O gerente de relações trabalhistas da montadora, Ediel Tirado Barci, presente na reunião de ontem, informou que a empresa tem tratado o assunto com muita seriedade. Acrescentou ainda que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reconheceu a posição da montadora no que se refere ao acordo e que tal atitude será recomendada à toda América Latina pela própria Organização. Na reunião de ontem, foi sugerida ainda a criação de uma comissão para discutir os casos de demissões e de doenças do trabalho. Representantes da Renault solicitaram prazo de quinze dias para responder formalmente se participarão ou não da comissão.

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