Relatório da CPT aponta reforma agrária lenta

O ritmo da reforma agrária no Paraná está lento. É o que denuncia o relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os conflitos agrários no País, apresentado ontem em Brasília. O acordo firmado entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Ingra) no Paraná diminuiu consideravelmente a quantidade de conflitos no campo. Em 2001 foram apenas seis, incluindo quatro ocupações. Em 2000 foram dois assassinatos, 157 prisões, duas pessoas torturadas, 233 registros de lesões corporais contra trabalhadores, duas ameaças de morte e 39 despejos. Todavia os números positivos não contentam o secretário executivo da CPT no Paraná, Gelson Oliveira, que disse que a quantidade de famílias assentadas também não foi grande.

“Não aconteceram conflitos, sinal que os trabalhadores estão cumprindo sua parte no acordo. Contudo a velocidade com que a reforma agrária é feita no Estado continua muito lenta, prova do desinteresse do governo”, cobrou Oliveira. Ele destacou que no ano passado quase 48 mil famílias participaram de manifestações de luta pela terra. “Temos que continuar nos mostrando, pois ficou comprovado que a reforma agrária só sai com a pressão popular”, salientou.

O relatório da CPT é feito desde 1985, contando com dados desde 1964. Este ano, ganhou o reconhecimento de registro científico pelo Instituto Brasileiro de Informação e Ciência e Tecnologia (IBICT). “É mais uma prova de que os dados apresentados são sérios e estão aí para desmentir o presidente FHC, que afirma que os conflitos no campo acontecem dentro do próprio movimento”, alfinetou.

Assassinatos

No Brasil os problemas agrários são maiores. Segundo o relatório, o número de assassinatos no campo cresceu 40% em um ano. O Estado com mais problemas é Pará. As vítimas fatais foram 29 em 2001. O trabalho escravo, que cresceu 519% em um ano é a grande preocupação do vice-presidente nacional da CPT, dom Ladislau Biernaski. Em 2001 foram registrados 2.416 casos. “O pior é que no meio existem crianças. É um crime”, lamentou Biernaski.

No anos passado cerca de 500 mil pessoas participaram de manifestações pedindo a reforma agrária. Biernaski afirmou que a Campanha pela Limitação da Propriedade Rural promovida pelo Fórum da Reforma Agrária pode ser uma solução. “Em todos os países onde aconteceu uma reforma agrária séria houve essa limitação”, contou.

O superintendente regional do Incra, José Carlos de Araújo Viera, afirmou que o fato da redução no número de conflitos no Estado foi positivo. “Além das 1478 famílias assentadas no ano passado, mais 1200 receberam terras graças ao Banco da Terra, que também utiliza recursos do Ministério da Reforma Agrária”, lembrou.

Voltar ao topo