Quase 4 mil picados pela aranha-marrom neste ano

Com a chegada do calor aumentam os casos de acidentes com a aranha- marrom em todo o Estado. Durante o inverno, com a pouca oferta de alimento, o aracnídeo baixa seu metabolismo e quase não se movimenta para não gastar energia. No calor, com a abundância de comida aliada à proliferação, a aranha têm mais contato com as pessoas. Neste ano, até o dia 16 deste mês a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) já notificou 3.907 casos, sendo 3.138 só em Curitiba.

A aranha-marrom sai durante à noite para caçar insetos. No caminho de volta pode encontrar abrigo dentro de uma roupa ou calçado. Vários acidentes ocorrem assim que a pessoa veste a roupa ou calça o sapato. A chefe da Divisão de Zoonoses e intoxicações da Secretária Estadual de Saúde, Gisélia Rúbio, recomenda cuidados com as roupas, além de não deixar cobertores alcançando o chão, principalmente o véu que cobre o berço de crianças. O ideal é que ele seja preso embaixo do colchão. O estrado da cama também é um lugar que o animal gosta de ficar.

Gisélia explica que com prevenção é possível expulsar a aranha de dentro de casa. Para isso, é necessário quebrar a combinação dos mecanismos favoráveis a sua adaptação. Um deles é o acesso, deve-se dificultar a entrada dela na casa. Telas em portas e janelas são de grande valia. Outro ítem são os abrigos que podem ser desde uma fresta até uma roupa. Uma limpeza mais cuidadosa atrás de móveis, quadros e além de evitar o acúmulo de papéis ajudam. Outro ponto importante é o controle de insetos na casa. E, por último, a água, que não é tão importante para a aranha, mas para os insetos dos quais se alimenta. “Quebrando qualquer um destes elos não vai haver problema”, afirma.

Segundo Gisélia, o uso de inseticidas não é recomendável. Os estudos realizados até hoje foram feitos em laboratório e não testados em campo. Além disso, muitos têm efeitos repelentes: se passados no forro podem fazer com o animal vá para outros lugares da casa.

A picada

A aranha não é agressiva: ela pica para se defender, geralmente quando pressionada contra o corpo. A picada é indolor e só vai apresentar algum indício entre 8 e 10 horas depois, como ardor, coceira e uma pequena feridinha no local. Em mais algum tempo a pessoa começa a sentir febre, mal estar, cansaço e irritação. O ideal é procurar ajuda médica, se possível levando o aracnídeo. Em Curitiba, são recomendadas as Unidades de Saúde 24 horas. Qualquer dúvida pode ser esclarecida pelo telefone do Centro de Controle de Envenenamento da Sesa – 0800-41-0148. Desde 1997, o Paraná produz o soro de três espécies diferentes de aranhas, que são comuns no Estado.

UFPR descobre base para a vacina

Este ano a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Minas (UFMG) descobriram a base experimental da vacina contra o veneno da aranha-marrom (Loxosceles intermedia). O professor Oldemir Carlos Mangili, coordenador do Projeto Aranha-Marrom da UFPR, explica que foi transferido material genético extraído da glândula de veneno da aranha para uma bactéria chamada Eschirichia coli. A bactéria se reproduz com rapidez e pode elaborar uma proteína chamada de LI-rec (Loxosceles intermedia), que é semelhante ao veneno, só que bem mais fraco. Durante a pesquisa, a substância foi injetada no corpo de um coelho e não provocou lesões na pele, além de estimular a produção de uma grande quantidade anticorpos para neutralizar o veneno. O veneno da aranha pode provocar a necrose nos tecidos e também pode causar insuficiência renal.

Vários outras pesquisas sobre a aranha estão sendo realizadas na UFPR. Em estudos durante a tese de doutorado da médica Cristina Monteiro, em 35% das aranhas pesquisadas foi encontrada a presença da bactéria Clostridium perfringes nas quelíeceras (órgão da boca que injeta o veneno) da aranha. A bactéria produz uma lesão semelhante ao tétano, potencializando a gravidade da que é provocada pelo veneno da aranha.

Aumento de casos

Em 1987 ocorreram 131 casos de picada em Curitiba. Desde então os números vem aumentando. O professor Oldemir explica que o aumento da temperatura, o desmatamento e a ausência de predadores naturais como a lagartixa, o sapo e a galinha, fizeram os números de aranhas multiplicar. Desde 1992 quatro pessoas morreram devido ao veneno da aranha.

As aranhas-marrons chegam a viver 6 anos de idade. Ficam adultas em 1 ano e meio, em média. Elas chegam a desovar até seis vezes com a mesma cópula, que pode durar 1 hora e meia, resultando cerca de setenta filhotes em cada uma.

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