Profissional da educação tem baixa remuneração

Professor. Papel importante, mas desvalorizado pela sociedade. Quem segue a carreira vive esta dualidade o tempo todo. A quem cabe ajudar na formação em qualquer idade, de qualquer cidadão, nem sempre recebe um salário digno ou não tem tempo suficiente para se preparar e dar conta do recado. Profissão que desgasta física e mentalmente. Mas que também traz satisfação quando se consegue um bom trabalho, apesar das dificuldades.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Marlei Fernandes, ressalta que a profissão é uma carreira muito complicada diante das dificuldades do dia a dia, com a conjuntura salarial, de estrutura e de condições de trabalho. “Quando converso com os estudantes, sinto que eles sabem que vão para uma profissão que precisa de muita luta”, afirma.

Carreira

De acordo com Marlei, a realidade dos professores é um pouco diferente em relação ao cenário nacional, com um número significativo de profissionais com contratos temporários e a contratação de muitos estudantes de licenciatura para atuar já nas salas de aula. A necessidade de concursos públicos para a construção de uma carreira para os professores é um dos pontos reivindicados pela APP-Sindicato, com o objetivo de diminuir a quantidade de professores temporários. O número de alunos em sala de aula também precisa ser reduzido, na opinião de Marlei. “Sala com 20 alunos é uma situação e sala com 40 é outra”, opina.

Hora-atividade

Mas o grande gargalo neste momento está na hora-atividade, termo para o tempo que o professor necessita para a preparação de aulas, atualização, correção de provas e atendimento, entre outros. Pela lei do piso nacional dos professores, a hora-atividade precisa chegar aos 33% do total da carga horária. E nem sempre isto é cumprido.

Os próprios professores da rede estadual negociaram a aplicação do item neste ano, mas ficou para 2013. “O governo estadual se comprometeu a aplicar os 33% no início do ano letivo. Se isto não acontecer, os professores podem começar o ano com greve. A hora-atividade é uma questão complexa. É uma necessidade diante da sobrecarga de trabalho”, explica Marlei.

Avanço

Apesar disso, a lei do piso é considerada como um avanço significativo nos últimos tempos. Um professor não pode receber menos do que R$ 1.451. Mas o salário ainda não é uma unanimidade nacionalmente. Muitos governos estaduais e municípios ainda não aplicaram o piso. No entanto, apesar deste avanço, o piso dos professores está baixo em relação a outras profissões.

Piso nacional é considerado baixo

A lei nacional do piso para professores também é destacada por Rose Meri Trojan, da professora da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O piso nacional é um grande avanço, porque colocou a necessidade de uma base nacional para isso. Mas o piso é muito baixo e não atende as necessidades do professor”, avalia.

O aspecto salarial não é o único ponto de desvalorização do professor, na opinião de Rose Meri. Ela ressalta que a questão também passa pela desvalorização do próprio conhecimento e da escola. Os jovens, principalmente, não enxergam isso como garantia de um futuro.

Rose Meri Trojan lembra que os profissionais que atuam nas escolas enfrentam a insegurança na hora da própria formação e os problemas nas condições de trabalho, fatos que tornam a carreira muito desgastante. “E tem inclusive afastado os jovens por esta condição e também considerando o salário. Não existe um curso de formação que garanta tudo o que tem que fazer. Acaba aprendendo também durante o processo de trabalho”, opina.

A possibilidade de mais segurança no trabalho pode atrair os jovens para o magistério. “Isto aconteceria com mais concursos, com uma carreira. Mas por outro lado, o chamariz tem o aspecto negativo, de querer ser professor sem querer de verdade. Se tem uma carreira estável, com possibilidade de crescimento e um salário melhor, com certeza vai atrair mais”, indica a professora da UFPR.

Desafio

Cada vez mais os professores acumulam tarefas. Precisam, por exemplo, estar aptos a atender os alunos especiais ou com alguma dificuldade de aprendizagem na mesma sala de aula com outros 25, 30 alunos. “Acaba se tornando inviável. As atribuições vão aumentando e vão inchando os cursos de formação, que acabam sendo superficiais. Como formar um professor para trabalhar educação básica, séries iniciais e educação para jovens e adultos? E ainda tem a metodologia de cada área”, salienta Rose Meri.

Não há dúvida que um professor satisfeito impacta na qualidade das aulas, diante também de uma condição pessoal mais tranqüila e de um acesso para melhores condições de trabalho

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