Professores citam vitórias e lembram reivindicações

Os professores da rede estadual de educação estão aproveitando o Dia do Professor, comemorado hoje, para fazer o balanço sobre as políticas públicas na área da Educação. O primeiro encontro será às 9h no auditório do Colégio Estadual do Paraná e depois, às 14h, na Assembléia Legislativa. As escolas estaduais contam com 52 mil docentes. Hoje o Ministério da Educação também divulga pesquisa sobre a situação do professor no País.

O secretário-geral da APP-Sindicato, Luiz Carlos Paixão da Rocha, afirma que este ano os professores tiveram várias vitórias. O governo estadual resolveu vários problemas deixados pela administração anterior, como o pagamento de 1/3 das férias que estava atrasado e o aumento da hora-atividade de 10% para 20%.

No entanto, os docentes continuam cobrando a apresentação do Plano de Carreira que deveria ter sido apresentado no final de setembro. “Para a valorização profissional é necessário ter uma carreira bem organizada e salários dignos”, comenta Rocha. Hoje, o piso inicial da categoria está em R$ 253,00, abaixo da média nacional. Para complementar, os docentes recebem entre R$ 100,00 e R$ 200,00 de abono. “Esperamos que o governo substitua a política de abonos e incorpore os valores aos salários”, fala. Além disso, eles também exigem o fim das perdas salariais, que estariam em 95%.

A categoria também quer que os 12 mil professores que foram aprovados no concurso realizado em maio sejam nomeados. Outra reivindicação é a regulamentação da lei que já foi sancionada em julho pelo governador, permitindo que os que têm 20 horas de atividade possam ampliar a carga horária para 40 horas, como já ocorre em outros estados. Na assembléia, os professores vão lutar para que os 25% da arrecadação do Estado sejam usados efetivamente no ensino fundamental, como prevê a legislação federal.

No País

Entre os números que devem ser apresentados hoje pelo MEC está a redução na quantidade de professores leigos atuando na educação infantil e o aumento do percentual de professores da educação básica com formação superior. 57% dos professores desde a educação infantil até o ensino médio são graduados. O estudo sugere que o País precisa investir mais nesta área. Outro dado que revela os problemas da educação brasileira é a diferença entre a formação de professores que atuam na zona urbana e na rural. 38% dos que trabalham nas cidades e atuam na séries iniciais têm formação superior, já no campo o número cai para 10%. Os piores índices estão no Norte e Nordeste.

A pesquisa também mostra a desigualdade de salários entre docentes e outras carreiras com formação equivalente, a falta de bibliotecas e laboratórios. Metade dos professores atua em escolas sem laboratório de ciências e três em cada quatro estão em escolas onde não há laboratório de informática. No Brasil são 57,7 milhões de pessoas matriculadas desde a creche à graduação.

Programa pretende garantir saúde vocal

Os professores da rede estadual de ensino terão pela primeira vez um programa específico de cuidados com a saúde vocal. O projeto “Saúde Vocal Cuidando da Voz do Professor”, uma parceria entre as secretarias de Estado da Saúde e da Educação, foi lançado ontem, véspera do Dia do Professor, pelos secretários Cláudio Xavier e Maurício Requião.

Participaram professores e diretores dos núcleos regionais de Educação. “Esse é mais um grande programa que reforça a parceria entre as duas secretarias”, disse o secretário Xavier. De acordo com o secretário Maurício Requião, o objetivo do Projeto Saúde Vocal é prevenir os problemas associados ao mau uso da voz. “Em mais de 20 anos como médico otorrinolaringologista, atendi muitos casos de professores que estavam com problemas vocais porque não fizeram o tratamento preventivo”, diz o coordenador do projeto, Luiz Fernando Amarante, da área de Programas Especiais da Secretaria da Saúde.

Os principais problemas que podem atingir os professores são os calos (nódulos) nas cordas vocais e as laringites crônicas. Se descobertas em estágio avançado, estas doenças, além do tratamento clínico, precisam de intervenção cirúrgica.

Para Maurício Requião, o caráter preventivo é justamente a maior vantagem do programa. “Esse programa traz um conjunto de regras e atitudes para fazer o professor preservar a voz”, explicou.

Professora há 36 anos, a assistente técnica do Núcleo de Educação de Jaguariaíva, Vera Lúcia Mesquita Miranda, não chegou a precisar de cirurgia, mas enfrentou problemas sérios com as cordas vocais durante o período em que estava em sala de aula. “Tive calo nas cordas vocais e tive que reaprender a utilizar a voz, fazendo exercícios”, contou. “Agora, com essa iniciativa, tenho certeza que muitos colegas não vão precisar passar pelo mesmo problema que eu tive.”

O projeto prevê a realização de um diagnóstico da saúde vocal dos professores. Para isso, todos eles receberão um questionário com 64 perguntas sobre o uso da voz. A partir das respostas, o comportamento vocal de cada um será classificado em quatro níveis: bom comportamento vocal, candidato a ter problemas de voz, risco sério e abuso . Para cada um dos tipos vocais será entregue documento com dicas específicas para melhorar o uso da voz. As pessoas com risco sério e abuso vocal serão orientadas para procurarem atendimento de fonoaudiólogos e médicos pelo Sistema Único de Saúde.

Como não há fonoaudiólogos no quadro próprio da Saúde, Cláudio Xavier anunciou que eles serão contratados e remunerados com recursos que a Secretaria da Saúde está repassando mensalmente aos consórcios intermunicipais de saúde, responsáveis em todo o Estado pela marcação de consultas e exames especializados. “Os professores terão profissionais disponíveis para o atendimento”, afirmou.

O projeto ainda prevê o treinamento de um professor multiplicador em todas as mais de 2 mil escolas da rede estadual. Esse professor poderá ajudar os colegas a realizarem exercícios de aquecimento vocal. O indicado é, no mínimo, 10 minutos de exercícios por dia. Cada escola também vai receber um manual sobre o assunto e um vídeo explicativo, que mostra os perigos do mau uso da voz e também mostra os exercícios para a voz. “Quem ensina usa a voz, por isso, a Saúde tem que estar orientando o professor sobre como utilizar melhor seu instrumento de trabalho”, completou Amarante.

Diva, 75 anos dedicados à educação

A edição extra do Dia-a-Dia Educação, informativo da Secretaria da Educação que é distribuído entre diretores de escolas, chefes de núcleos e professores da rede estadual, lembra a passagem do Dia do Professor com uma reportagem sobre a mestra mais antiga do Paraná: Diva Vidal, de 92 anos, dos quais 75 dedicados à educação. Diva Vidal levanta religiosamente às 7h todos os dias. Toma café no Hotel Sol, onde mora, pega um táxi e segue para a Secretaria da Educação para mais um dia de trabalho. As colegas do Departamento de Ensino Especial recomendam que ela fique em casa nesses dias. Mas não adianta: nada demove dona Diva de cumprir sua missão. Ela é vista por todos como um exemplo de vida, disposição e força de vontade. Caçula da família, dona Diva teve quatro irmãos homens. Começou a lecionar matemática aos 17 anos, em Paranaguá, sua cidade natal, no Colégio Estadual José Bonifácio. Naquela cidade, também foi professora no Instituto Estadual de Educação Doutor Caetano Munhoz da Rocha.

Dona Diva formou-se professora pela Escola Normal de Paranaguá e não chegou a ter nenhuma formação superior, mas recebeu, em 1957, em Londrina, o título de professor honoris causa da Faculdade Norte do Paraná. “Não tive curso superior de nada: fui formada na escola da vida ? e, para mim, essa é a formação mais importante”, argumenta.

Já em Curitiba, ela lecionou no Instituto de Educação e no Colégio Estadual do Paraná, do qual foi diretora em 1986 e 1987. Viajou por todo o Estado, fazendo inspeção nas escolas. “Comi muito barro e muita poeira no interior, viajando para locais sem estrada, nem hospedagem. Tomava banho fora, não tinha nem chuveiro. E como foi bom”, diz.

Dona Diva se aposentou, em 1983 mas nunca parou de trabalhar. Parar de trabalhar, para ela, “só quando faltar a saúde”. “Não tenho condições físicas de ficar em casa sem fazer nada”, argumenta.

Dona Diva não se assusta com as novas tecnologias. “Procuro me adaptar às coisas novas. Sempre aproveitei e fui a favor das novidades”, confessa ela, dizendo gostar de trabalhar no computador.

Solteira, sem filhos, ela diz que é uma pessoa realizada e feliz. Muito lúcida, bem-humorada, disposta sempre a sair com suas tiradas engraçadas. “Para quem Deus não dá filhos, o diabo enche de sobrinhos”, diz, às gargalhadas.

Arrependimentos, nenhum. “Nasci para ser professora e sempre trabalhei com prazer. Tive muita sorte. Acho que minha vida foi muito bem preenchida. Passei uma vida, para meu gosto, excelente”, acredita.

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