No Centro-Oeste do Paraná, Campo Mourão se tornou palco de um marco inédito: a implementação do primeiro Caminho Iniciático de Santiago fora da Europa, inspirado na tradicional rota de peregrinação espanhola. A atração foi aberta em junho deste ano e possui 104 quilômetros de extensão. Nesta quarta-feira (24/09), a cidade realizou a cerimônia que empossou o governador em exercício, Darci Piana, como Cavaleiro da Ordem de Santiago — título concedido pela entidade criada no século XII e que, ainda hoje, promove e preserva o Caminho de Santiago de Compostela.
O trajeto paranaense está dividido em cinco etapas e atravessa os municípios de Campo Mourão, Corumbataí do Sul, Barbosa Ferraz e Fênix. O ponto final da jornada está nas ruínas históricas da Vila Rica do Espírito Santo, uma fundação jesuítica datada de 1569 e considerada uma das mais antigas do Cone Sul.
Quem percorre todo o percurso a pé ou faz a ida e volta de bicicleta recebe um passaporte que comprova o início da peregrinação, podendo ser utilizado para reduzir a jornada até Compostela, na Espanha, que pode chegar a 900 km dependendo da rota. Além do simbolismo religioso, a iniciativa busca fomentar o turismo e gerar novas oportunidades de renda nos municípios envolvidos.
Atrativo internacional
A rota paranaense foi oficialmente chancelada pela instituição que administra o Caminho de Santiago de Compostela, uma das peregrinações mais antigas e populares da Europa, criada no século XI e que deve reunir cerca de 500 mil peregrinos neste ano.
Com a inauguração da rota, a expectativa é consolidar o trajeto como rota de peregrinação permanente. “O peregrino que fizer esse percurso vai precisar pernoitar por quatro ou cinco noites, consumir alimentos, ficar em hospedagens”, explicou o chanceler da Ordem de Santiago, dom Alejandro Rubín Carballo.
O caminho cruza igrejas, capelas, santuários, catedrais, cachoeiras e propriedades da agricultura familiar. Além da experiência espiritual e cultural, os peregrinos contribuem diretamente para a economia local, ao consumir produtos e serviços da região. O projeto tem origem nas caminhadas da Rota da Fé, existentes desde 2006 em Campo Mourão.
A sinalização é outro ponto de destaque: são 238 placas direcionais para guiar os peregrinos de forma independente; 32 placas informativas, com explicações sobre monumentos, igrejas, estátuas, santuários e oratórios; e cinco marcos, que sinalizam o início e o fim de cada etapa.
Segundo o governador, a expectativa é de que a rota seja, no futuro, tão atrativa quanto a original, localizada na Espanha. “Eu participei da implantação da Rota da Fé, aqui em Campo Mourão, e mais tarde deste projeto do Caminho Iniciático de Santiago de Compostela. Por isso recebo essa homenagem com muita honra, por ter ajudado nosso Estado a ter essa rota, que esperamos, que no futuro, seja tão grande como a da Espanha”, disse Piana.
Ordem dos cavaleiros
Os cavaleiros e damas empossados na cerimônia apoiaram a implantação da rota paranaense. A Ordem de Santiago foi fundada em 1170 pelo rei espanhol Fernando II de León, com a missão de proteger a cidade de Cáceres contra invasores. Além disso, tinha a função de manter albergues e hospitais, oferecendo apoio aos peregrinos que seguiam até o túmulo do apóstolo Santiago.
“Na Idade Média, as pessoas viajavam até Santiago de Compostela para visitar a tumba do apóstolo, e muitas vezes tinham dificuldades nesse trajeto. Os cavaleiros eram responsáveis por prestar apoio a eles durante a peregrinação. Isso não é mais necessário, mas mantemos essa tradição até hoje a quem contribui com a promoção do Caminho de Santiago e fomenta a devoção ao apóstolo”, explicou o chanceler.
Extinta no século XIX, a Ordem foi reinstaurada como associação civil durante o reinado de Juan Carlos I, que governou a Espanha entre 1975 e 2014. Seu objetivo atual é fortalecer o Caminho de Santiago e a comunidade internacional que o mantém vivo.
Hoje, mais de 1,6 mil Cavaleiros e Damas integram a Ordem ao redor do mundo, incluindo o governador em exercício. O título é concedido a homens e mulheres maiores de 18 anos que, por suas qualidades humanas, prestígio e defesa dos valores do Apóstolo Santiago, contribuem para preservar essa tradição.
