Presidente da Fiep morre aos 68 anos

Morreu às 9h50 de ontem, no Hospital Santa Cruz, em Curitiba, aos 68 anos, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), José Carlos Gomes Carvalho, o Carvalhinho. O corpo do empresário está sendo velado na Câmara Municipal de Curitiba, onde grande número de personalidades do mundo empresarial e político, além de familiares, foi prestar a última homenagem a Carvalho. Hoje às 10h, o corpo do empresário será cremado no Crematório Metropolitan, em Pinhais. O governador Roberto Requião (PMDB) decretou luto oficial de três dias em todo Paraná.

Carvalhinho, natural de Santo Antônio da Platina, deixou esposa e dois filhos. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Curitiba, ele também se especializou em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Além de presidente da Fiep, ele também era vice-presidente da Confederação Nacional a Indústria (CNI). Como político foi senador entre 1987 e 1995. Foi vice-prefeito de Curitiba, assumindo várias vezes o cargo de prefeito no período entre 1993 e 1997. Gomes Carvalho também foi secretário de Estado da Indústria e Comércio entre 1987 e 1989 e secretário de Estado do Emprego e Relações do Trabalho entre 1999 e 2001. Atualmente era suplente do senador Osmar Dias (PDT).

No final da tarde o governador Requião esteve no velório. “Em nome dos paranaenses, do governo do Estado, em meu nome e de minha família manifesto tristeza e emoção pelo falecimento de José Gomes Carvalho, o nosso Carvalhinho. Ele foi um dos mais insignes cidadãos da história contemporânea do Paraná. Profundamente integrado à comunidade, Carvalho foi um exemplo de trabalho e determinação, dedicando-se com entusiasmo e proverbial eficiência a múltiplas atividades”, dizia uma nota enviada à família.

As manifestações de pêsames apareceram de vários setores. O novo presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, que assumiu o cargo ontem, destacou que era um dia paradoxal. “Ao mesmo tempo que começa um novo ciclo na Fiep, perco um amigo que deixa para o Estado um legado de trabalho muito importante. Ele marcou por seu estilo de esforço pessoal”, disse.

O vice-governador, Orlando Pessuti (PMDB), lembrou que Carvalho sempre ocupou bem todos os espaços e desempenhou a contento seu papel. “Foi um companheiro e mesmo quando estávamos de lados opostos na política sempre mantivemos a amizade e o respeito”, afirmou.

O vice-prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), classificou a morte de Carvalho como um “perda irreparável”. “Era um amigo de todos. Marcou por suas inestimáveis contribuições ao Paraná e ao Brasil. Sempre esteve presente nas grandes discussões”, disse.

A morte

Carvalhinho foi internado às 8h da última segunda-feira. Segundo o diretor clínico do Hospital Santa Cruz, Daniel Russi Filho, o falecimento ocorreu devido a um choque séptico, onde a pressão arterial do paciente vai a zero em decorrência de infecção generalizada que produz alterações em vários órgãos.

A infecção teria sido causada por uma bactéria. Há suspeitas de que ela tivesse origem digestiva, devido à ingestão de alimento contaminado. “As manifestações do problema foram bem recentes. Tomamos todas as providências necessárias, mas infelizmente Carvalho não sobreviveu”, declarou o diretor clínico.

O discurso que não foi feito

A seguir a íntegra do discurso escrito por José Carlos Gomes Carvalho para a transmissão de cargo na Fiep:

“Meus amigos,

Ocupei por 8 anos a presidência da Fiep, a maior federação do Estado do Paraná. Seria de praxe fazer aqui um balanço das realizações neste período. Recebi, mesmo, um detalhado relatório da minha diretoria com alguns itens que, confesso, até já haviam se perdido na ingratidão da memória que nos atinge, a todos, depois de passados os anos.

Mas refleti muito e decidi que as realizações desta equipe que comandou o Sistema Fiep durante o período são, a partir de hoje, a forma mais eficiente de reconhecimento e de julgamento por parte dos sucessores. Não somos nós, os realizadores, que podemos falar sobre o que construímos.Tudo aquilo que está aqui servirá de base para o futuro, para os projetos e os planos do novo presidente, Rodrigo da Rocha Loures e sua equipe.

Serão os sucessores que vão vivenciar a realidade daquilo tudo que foi realizado. O que conquistamos, com esforço, muito trabalho, perseverança e dedicação, vai se refletir no dia-a-dia dos que chegam. Os números são frios, os edifícios, impessoais, os acordos e convênios, distantes. O que importa são as pessoas. Se eu tivesse proporcionado um futuro melhor para apenas um dos nossos trabalhadores, seria um homem vitorioso e feliz. Tenho a honra e a satisfação de dizer que, nesses oito anos milhares de trabalhadores do sistema Sesi e Senai, olharam o futuro com mais esperança. A grande maioria já chegou a esse futuro, com bom emprego e remuneração melhor.

Se eu tivesse lutado para atender apenas uma reivindicação do menor de todos os Sindicatos que fazem parte da Fiep, já seria o mais realizado dos empresários. Trabalhamos com sindicatos de todos os ramos da economia, e lutamos juntos, em árduas e vitoriosas batalhas.

Os números da Federação das Indústrias do Paraná são extraordinários. Representam, Sr Governador, 37% do PIB do Paraná. E refletem, por si só, a força da nossa economia.

É com este orçamento que a nova equipe passará a trabalhar para realizar as tarefas que se impõem.

Mais do que apresentar aqui um rosário de realizações, prefiro falar daquilo que aprendi. Exerci a presidência do Sistema Fiep com plenitude e alegria. Todos os dias da minha vida que passei aqui terminaram , às vezes altas horas da noite, com a sensação de uma grande tarefa cumprida. Mais do que isso, até. Uma missão realizada que, afinal, é a marca incontestável da condição humana.

Tive um orgulho muito grande de ocupar a presidência da maior Federação do Estado. Foi, verdadeiramente, uma conquista profissional e pessoal, e um privilégio sem comparação. Cada um dos amigos que hoje estão aqui sabe disso. Este orgulho não se limita ao puro significado da palavra. Foi um orgulho abrangente, que poderia ser chamado também de oportunidade. Ou do privilégio de conhecer o funcionamento de um setor que representa a base da economia do meu Estado. E de levar para todos os cantos do Brasil e para o Exterior a imagem da indústria do Paraná, respeitada e valorizada por unanimidade.

Hoje, se me perguntarem o que fica desta experiência extraordinária, diria que praticamente tudo. Mas um elemento deve ser ressaltado. Aprendi, caros empresários e amigos, que ser presidente de uma federação como a Fiep nos coloca acima de divergências políticas, competitivas e até pessoais, se as tivermos, condição fundamental para sabermos a hora exata da ação unilateral em prol da categoria que representamos.

Durante as gestões que presidi, convivi com vários governadores, com prefeitos, participei ativamente do processo político mas jamais feri interesses da minha própria Casa, dos meus companheiros da Indústria e dos trabalhadores que constroem, todos os dias, a história da produção paranaense.

Aprendi, sim, que nós empresários, devemos amadurecer para entender que, sob qualquer Governo ou ideologia, a nossa responsabilidade maior será, sempre, com a garantia da produção, a qualidade e a inovação tecnológica, sem as quais nenhum Estado, nenhum País exercerá sua própria soberania.

É sob este prisma que, nós empresários, devemos participar da atividade política. Ao garantir que a matéria prima seja transformada e venha a promover o aumento do emprego, o desenvolvimento e o enriquecimento da sociedade como um todo, estaremos garantindo, também, os valores fundamentais do ser humano.

E a nossa atividade política pode ser exercida diretamente na ocupação de cargos legislativos ou executivos na esfera governamental ou nas entidades classistas, que tem papel de grande relevância por reproduzir o pensamento de determinada atividade. São atividades paralelas, correlatas e igualmente importantes.

Falo nisso porque quero falar de futuro. O bem-estar de hoje ao passar a presidência da Fiep para as mãos do empresário e amigo Rodrigo da Rocha Loures se devem a dois fatores: o primeiro, pela certeza da continuidade de um processo que visa apenas e somente os interesses da indústria do Paraná. Rodrigo, pelas qualidades de empresário, de homem do ramo, de defensor intransigente da ética e da responsabilidade social, pelo respeito que detém dos seus parceiros, aqui e fora do Paraná, certamente vai superar o que todos esperamos dele nesse desafio ao qual se impõe.

Em segundo lugar, porque ao deixar a presidência da Fiep, todo e qualquer resquício de perda sentimento comum quando nos afastamos daquilo que amamos é substituído pela intensa atividade que passo a exercer no plano nacional. Pela Fiep estarei no Conselho de Desenvolvimento Econômico.Sou um paranaense que conhece cada recanto deste Estado, que já visitou centenas de sindicatos patronais, empresas e entidades por este Paraná afora. Exerci atividade política como Senador e vice-prefeito de Curitiba. E, na minha gestão o Sistema Fiep passou de conceito a realidade palpável.

Esta bagagem é que abre o caminho para o grande trabalho que tenho em mente para realizar aqui, junto aos poderes constituídos e em Brasília, São Paulo ou qualquer outra cidade do mundo. Onde um empresário paranaense precisar de apoio, estarei lá. Todos os amigos que fiz ao longo deste tempo, em federações, sindicatos e nos vários escalões de governo, em todo o Brasil e no Exterior, me fortalecem sobremaneira. São, sem dúvida nenhuma, o maior patrimônio que carrego.

E quando falo de amigos quero dizer: a minha equipe, sem a qual nada disso que estamos vendo aqui hoje, seria realidade. Não existe, entre nós, o homem só, o herói solitário, o vencedor absoluto. Existe uma força única, resultado de todas as outras, compartilhada em todas as ações, pequenas ou grandes. Com esta equipe divido a mais humana das condições: a memória dos bons e maus momentos, das derrotas e vitórias e, principalmente, da parcela mais significativa da minha vida profissional até hoje.

Nesta equipe estão meus assessores, presidentes dos sindicatos, do Sesi e do Senai.

Um agradecimento especial aos presidentes de federações e associações contemporâneos, e que vejo aqui hoje. Nunca, nenhum deles, recusou apoio para as lutas que empreendemos ao longo deste período. E é nesta união, meu caro Rodrigo, que reside a força das causas paranaenses.

Este é um dia especial. Como na música, prefiro não dizer adeus porque é palavra triste e definitiva. Mas quero dizer outras palavras, de amplos significados: sucesso, felicidades, coragem, força, alegria, responsabilidade, fé, união e trabalho.

MUITO OBRIGADO A TODOS??.

Líderes de vários setores se despedem

Faciap

“São raras as pessoas no mundo que possuem o dom, brilho e carisma como o Carvalho. A afirmação é do presidente da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná (Faciap), Jefferson Nogaroli, ao receber a notícia do falecimento de José Carlos Gomes Carvalho. “Carvalhinho era um líder de porte internacional e exímio empreendedor.Ele era um dínamo, como diziam os companheiros de trabalho, sobre a velocidade com que efetuava suas ações e comandava seus empreendimentos”.

Assembléia

A mesa executiva da Assembléia Legislativa do Paraná suspendeu a sessão plenária de ontem em razão do falecimento do ex-senador, ex-secretário de Estado, ex-vice-prefeito de Curitiba, José Carlos Gomes Carvalho. Em nota oficial, o poder legislativo manifestou seu pesar e apresentou as condolências aos familiares e amigos.

Acifi

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi), Arnaldo Bortoli, lamentou a morte do empresário José Carlos Gomes Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). “Ele sempre lutou pela classe empresarial e sem dúvida era uma das lideranças mais expressivas do Estado e do Brasil”. Ele era um homem bem-sucedido nos negócios e trabalhou muito pela industrialização do Paraná. Infelizmente, partiu cedo demais”.

PGJ

A procuradora-geral de Justiça, Maria Tereza Uille Gomes, lamentou a morte do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, José Carlos Gomes Carvalho: “Carvalhinho sempre se mostrou um homem dinâmico e empreendedor, contribuindo de maneira decisiva para o desenvolvimento econômico do Estado e para as causas do Paraná. Sem dúvida, perdemos uma liderança empresarial e política importante”.

Itaipu

O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, lamentou ontem a morte do empresário José Carlos Gomes Carvalho, o Carvalhinho. “Vai o homem, fica o exemplo”, afirmou. Samek disse que o dinamismo do empresário sempre o impressionou. “Ele era uma pessoa sempre disposta. Tinha uma energia incrível. Seu entusiasmo contagiava a todos. Era um exemplo de homem realizador”.

Cássio

O prefeito Cassio Taniguchi decretou luto oficial por três dias pela morte do ex-vice-prefeito de Curitiba. “Carvalho sempre manifestou profundo carinho e apego a Curitiba, cidade que escolheu para viver e trabalhar quando saiu de sua terra natal, no interior do Paraná”, disse Cassio. O prefeito visitou Carvalho na noite de terça-feira, passando longo tempo junto aos familiares do amigo no Hospital Santa Cruz.

Greca

“Perdi um grande amigo, que foi um notável companheiro na condição de meu vice-prefeito de Curitiba. Jamais faltou ao seu dever para com a nossa Curitiba, tendo me ajudado a decidir questões cruciais. Era solidário, sensível e vibrante”, afirmou o deputado Rafael Greca, em nota divulgada ontem.

PMDB

Os deputados da bancada do PMDB na Assembléia Legislativa apresentaram requerimento manifestando votos de profundo pesar pela morte de Carvalhinho.

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