Presidente da CNBB defende o fim dos bingos

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e cardeal arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, defendeu ontem o fechamento dos bingos e o fim da exploração de outros jogos de azar em todo o País. Para Majella, o argumento que as casas de jogos geram empregos não pode justificar o mal que elas causam à população, como o empobrecimento do homem, o aumento do vício e a dilaceração e a destruição de milhares de famílias.

“Os traficantes do Rio, por exemplo, usam parte do dinheiro do tráfico em benefício das comunidades, mas isso não é justificativa para legalizarmos o tráfico, que não é um coisa boa nem para os moradores dessas comunidades nem para a sociedade”, compara. “Os empregos que os jogos podem gerar não apagam o mal maior que causa o vício pelo jogo. E é por isso que a Igreja Católica defende o fim dos jogos de azar em todo o país, seja no Paraná, no Rio ou na Bahia.”

A opinião de Majella é semelhante à postura do governador Roberto Requião para o fechamento dos bingos no Estado e também é compartilhada por líderes religiosos, como o bispo auxiliar de Curitiba, dom Ladislau Bienaski e o pastor e deputado Edson Praczyk. “As igrejas e as pessoas decentes querem o fim dos jogos porque sabem que os bingos estão viciando e destruindo as famílias paranaenses”, afirma o governador.

O psicólogo Celso Maçaneiro, especialista no tratamentos do vício do jogo, também defende o fim dos bingos e caça-níqueis. Ele compara o vício do jogo à dependência da cocaína e do álcool. “A patologia, a doença, são semelhantes porque ambas dão ao viciado a sensação de poder e têm um custo emocional muito grande”, explicou. O curitibano L.C., de 58 anos, pai de três filhos, foi um jogador compulsivo durante 30 anos e há quatro conseguiu abandonar o vício. L.C. contou que chegou a vender o carro, a casa e o telefone da família para quitar dívidas contraídas com agiotas. Só conseguiu abandonar o vício depois que passou a freqüentar os encontros da irmandade do Jogadores Anônimos (JA). O grupo se reúne às terças-feiras, às 19h30, no antigo prédido do INSS, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 250.

Liminar autoriza reabertura

Cinco meses, muitas liminares cassadas, ações policias e do Ministério Público, sanções de leis, publicações de decretos e a novela do funcionamento das casas de bingo no Paraná continua. A queda de braço entre o governo do Estado e os bingueiros teve continuidade ontem. Um dia após uma operações policial que fechou os bingos Las Vegas, Kennedy, Palácio e Carlos Gomes, em Curitiba, e o Roma, em São José dos Pinhais, a Justiça concedeu ontem novas liminares autorizando o funcionamento do jogo. Utilizando dos argumentos de uma liminar concedida (já cassada) ao Bingo Carlos Gomes, o juiz da 2.ª Vara da Fazenda Pública, Luiz Osório Panza, fez dois despachos autorizando ao Bingo Kennedy, em Curitiba, e aos bingos Las Vegas e Palácio, na capital, e Golden Bingo, em Ponta Grossa, a reabrirem suas portas.

Segundo os advogados dos bingos, Eldes Martinho Rodrigues (Kennedy) e Valéria Estorillio (Golden, Palácio e Las Vegas), as casas deveriam reabrir já na noite de ontem.

Conexão

O procurador-geral do Estado, Sérgio Botto de Lacerda, caracterizou como lamentável a atuação do titular da 2.ª Vara, “que concede liminares e alimenta a falsa expectativa dos funcionários de que as casas reabrirão em definitivo”. Ele explicou que todas as liminares concedidas por Panza baseiam-se no princípio da conexão, que atrai competência quando há identidade de pedido. “Nesse caso isso não existe mais. A primeira liminar, do Carlos Gomes, já foi cassada”, disse o procurador-geral.

Lacerda lembrou que o Estado tenta cassar todas as liminares que garantem o funcionamento de bingos no Paraná. Ele confirmou que a posição do Estado quanto ao jogo continua imutável.

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