13º vai pra dívidas

Presentes no Natal devem virar ‘só uma lembrancinha’ com a crise

Ao que tudo indica, o bom velhinho vai deixar de presentear muitas pessoas neste ano em função do mau comportamento da economia brasileira. Faltando menos de uma semana para o depósito da 1.ª parcela do 13.º salário, o movimento do comércio em Curitiba segue deixando os comerciantes desanimados.

Para a cozinheira Leonice de Souza, 54 anos, a razão das sacolas vazias é uma só, “muita conta pra pagar. Nem dá para arriscar fazer outra coisa, tudo subiu e todo mundo está cheio de dívidas e com medo do que pode acontecer”, desabafa.
Este comportamento deve ser imitado por muitos consumidores. De acordo com pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio-PR), em outubro o Paraná contava com 518 mil pessoas endividadas. Dessas, 165 mil admitia que tinha contas em atraso e 66 mil estava com as dívidas fora de controle.

A filha de Leonice, a tatuadora e artesã Rayssa Marlier, 22 anos, apoia a decisão da mãe. “Quem é autônomo como eu, nem tem 13.º e ainda sofre com a queda no faturamento. Até na Feira do Largo da Ordem, as vendas desta época do ano estão bem abaixo do que foi 2014”, constata. Ela explica que, se os ganhos dela continuarem fracos, apenas as crianças da família devem receber lembrancinhas no Natal.

Intenção menor

A decisão de mãe e filha confirma o que foi revelado em outra sondagem Fecomércio sobre a intenção de compras natalinas. O valor total a ser gasto com presentes que era de R$ 295, em 2014, baixou pra R$ 256 (veja o quadro).

Ainda, de acordo com a Fecomércio-PR, novos levantamentos da instituição já apontaram que em relação ao destino do 13º salário, enquanto a maior parte dos consumidores paranaenses (27%) vai usar para quitar dívidas, existe uma outra parte significativa (20%) que nem receberá essa renda extra por estar desempregada. Isso explica porque dobrou (cresceu de 9%, em 2014, para 23%) o número de pessoas que não pretende presentear no Natal de 2015.

Segurando o dinheiro

Até mesmo em lojas de aparelhos celulares, acessórios e consertos, setor que sempre puxou as vendas de final de ano, os comerciantes se ressentem da retração. O técnico eletrônico Gustavo Azevedo da Costa (foto), 26 anos, acredita que caiu em 45% o faturamento da loja. “Algumas capas e películas estão mais baratas que em 2014 e, mesmo assim, o pessoal está segurando o dinheiro”, constata.

BlackFriday

Para aqueles que querem fazer o dinheiro render nas compras de final de ano, uma saída pode ser o BlackFriday, que acontecerá no próximo dia 27. Organizado pelo Busca Descontos, o evento está em sua 6ª edição e já tem grandes varejistas e empresas confirmadas, como Americanas.com.br, Submarino, Hotel Urbano, Saraiva e Quem Disse Berenice? Mas toda atenção é fundamental para avaliar se os descontos ofertados em determinado produtos correspondem a redução real do valor médio praticado pelo mercado.

Indo na contramão

O advogado João Capelotti, 27 anos, afirma que vai manter a mesma lista de presentes de 2014. “Devo repetir o padrão de 2014 e presentear amigos e parentes próximos”, afirmou. Já a esteticista e terapeuta holística Eliana Aristides (foto), 46 anos, diz que não deve gastar com presentes no Natal, mas o motivo disso, não é a falta de confiança nos rumos do país. “Já faz algum tempo que deixei de ser escrava da mídia e dessas datas de hiperconsumo. Mas não posso me queixar desse ano, meus clientes continuam lotando minha agenda e o dinheiro que estou juntando já tem destino, a casa própria”.