Preço e raridades são os atrativos dos brechós

Em tempos de crise e de dinheiro curto, a solução para muitas pessoas é recorrer às lojas de artigos usados para comprar roupas, livros, discos, móveis, artigos de decoração e eletrodomésticos. Segundo os proprietários de brechós e sebos de Curitiba, os compradores não ligam para o fato de outras pessoas já terem usado a mercadoria. O que vale mesmo é o preço.

A dona do Brechó Ígor, no centro da cidade, Edmara Noventa, conta que os clientes vão até a loja atraídos pelo preço. Mas, depois que compram, viram consumidores fiéis. Provavelmente, isso acontecerá com a promoter Bárbara Lima. Ontem, ela foi pela primeira vez em um brexó por curiosidade. Gostou do que viu e levou para casa várias peças. “Por causa do meu trabalho, preciso estar sempre com roupas sociais. Encontrei um terninho de uma marca famosa, de boa qualidade, por R$ 35. Se fosse nessa loja no shopping, pagaria pelo menos R$ 200”, conta. Bárbara não levou tudo o que gostaria na primeira visita em um brechó. Deixou várias mercadorias reservadas com Edmara para buscar no começo do mês que vem.

Segundo a proprietária, o preço baixo atrai pessoas de diversas classes sociais. A maior parcela da clientela, porém, continua sendo de classe mais baixa. A explicação: são calças, saias e camisas vendidas a partir de R$ 1. “Normalmente os clientes compram aos poucos. Passam aqui, dão uma olhadinha e levam alguma coisa”, explica Edmara. As vendas são regulares, mas aumentam muito no inverno. “Roupa de frio é muito cara e o brechó se torna uma opção”, afirma Edmara. “Normalmente as peças de verão têm um preço mais acessível nas lojas, com muitas promoções”, aponta.

O antigo e raro

Marco Antônio Noventa, irmão de Edmara e dono do Brechó 2000, conta que muitas pessoas vão até a loja procurando roupas diferentes e antigas. “O que eles não acham em lojas de roupas novas, encontram aqui. Talvez queiram seguir a tendência a que estão acostumados”, diz. “O pessoal que produz peças de teatro e aqueles com estilo próprio, diferente do que está na moda, também procuram a gente”, esclarece.

Nos sebos, o atrativo também é o preço, mas discos e livros com edições esgotadas fazem a alegria dos colecionadores e apreciadores da literatura e da música. “Nós ainda trabalhamos com o disco de vinil. Nele, todos os sons saem perfeitos, sem a masterização dos discos atuais. É uma pena que a indústria não fabrica mais o toca-discos, porque muitas pessoas ainda preferem o LP”, comenta Daniele Lima, funcionária do sebo Sons e Letras, no centro de Curitiba.

Mas alguns desses estabelecimentos já estão se modernizando e seguindo a revolução tecnológica dos últimos tempos. “Nós deixamos de vender disco de vinil. Atualmente só dispomos de CD e estamos começando a oferecer DVD”, afirma Irajá de Souza Reis, proprietário do sebo Feira dos Livros Usados.

Mercado das pulgas

A evolução também chegou no Mercado das Pulgas, especializado em móveis e objetos de decoração, principalmente os mais antigos. O estabelecimento dispõe um site na internet no qual é possível fazer compras. Além disso, possui um programa 24 horas em um canal de TV fechada.

Com oito mil metros quadrados de área, o Mercado faz a mistura entre o novo e o velho em todo esse espaço. “Os clientes procuram produtos pelo preço mais acessível e também as coisas antigas. É muito equilibrado”, aponta José Antônio da Silva, proprietário da loja.

Gosto pessoal define a compra

Apesar dos preços acessíveis, a procura por livros e discos está muito ligada com os gostos pessoais, os ídolos e o prazer que a leitura e a música proporcionam. Segundo Daniele, do sebo Sons e Letras, as pessoas interessadas em discos antigos são de todas as idades. A preferência musical, porém, muda um pouco. “Os mais jovens, até 30 anos, gostam de rock. Acima disso, a procura maior é por música popular brasileira”, conta. A clientela sempre vai atrás de um exemplar específico, seja de uma banda, uma época ou canção. “São mais colecionadores, que também não querem pagar muito”, justifica.

Esse segmento não tem grandes variações de venda conforme a situação econômica do País. “Mesmo com pouco dinheiro, eles procuram a música, que serve como escapatória dessa correria de hoje em dia”, acredita Daniele. Com os preços atrativos, os consumidores acabam comprando mais itens do que estavam dispostos antes de entrar na loja.

Quanto aos livros, a falta de dinheiro da população afeta as vendas. A melhor época é no começo de ano, quando são comprados os livros didáticos e técnicos para a escola e cursos. “Esses livros custam muito. O sebo oferece até 50% de redução no valor de um novo”, afirma Reis, da Feira dos Livros Usados. O ambiente do estabelecimento também propõe a compra de outros tipos de livros, o que acontece com muitos clientes.

Um “garimpo” pela loja

Quando as pessoas vão a sebos, brechós e lojas de móveis usados, elas gostam de garimpar, olhar por toda a loja até encontrar algo que lhes agrade. A afirmação é do proprietário do Mercado das Pulgas, José Antônio da Silva. Tentar achar algo no meio de sete mil itens no estabelecimento (faqueiros, vasos, lustres, quadros, tapetes, aparelhos de chá, móveis, objetos de arte, esculturas) é trabalho para um dia inteiro. O que se imagina tem no Mercado. “Há uma variedade muito grande. Além de ter raridades, tem muita coisa contemporânea”, comenta Silva. De acordo com ele, a loja é o maior mercado de pulgas do mundo, controlado por uma única família.

Mas as atrações principais são as peças antigas, com desenhos, texturas e formas não mais encontradas facilmente. “As pessoas procuram esse clima de recordação. São coisas que remetem à infância e aqui elas revivem um pouco isso. Cada peça tem um sentimento”, explica.

Silva conta que dentro do Mercado há vários móveis que pertenciam aos escritórios Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em Ponta Grossa, Curitiba e Paranaguá. “A empresa trocou por peças mais modernas e deixou as outras aqui. Imagina quanta história está presente nesses móveis”, aponta. As peças mais raras de Silva são duas esculturas africanas. Estima-se que tenham 500 anos de história.

A preferência por objetos antigos não era um hábito dos curitibanos, segundo o dono do Mercado. “Curitiba tinha aversão às coisas antigas. Mas estamos mudando esse pensamento”, avalia Silva.

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