Acordar todos os dias entre as 5h30 e as 6h por causa do barulho do trem que passa ao lado de casa fez com que moradores de alguns bairros de Curitiba, como Cristo Rei e Boa Vista, pedissem providências ao Ministério Público do Paraná (MP-PR). Assim como a passagem dos trens pela cidade não é novidade, as reclamações também não. Ação na Justiça que pede providências também está emperrada.

continua após a publicidade

Cansados dos incômodos provocados pelo barulho da locomotiva, que passa mais de uma vez ao dia, um grupo de moradores resolveu tentar acabar com esses transtornos. Atendendo à reclamação de populares, o MP-PR entendeu que a instalação de cancelas em todas as passagens de nível pela cidade poderia solucionar, além da poluição sonora (uma vez que evitaria o uso da buzina), acidentes envolvendo veículos que cruzam as vias férreas de Curitiba. Segundo o MP-PR, o barulho afeta inclusive áreas de atendimento hospitalar, como a que abriga o Hospital Cajuru.

Na ação, proposta contra a América Latina Logística do Brasil S/A (ALL) e contra o município de Curitiba, o MP-PR requereu que os trens não emitissem sons e ruídos acima dos níveis permitidos, sob pena de multa diária, e que instalassem cancelas em todas as passagens de nível, bem como que cessassem definitivamente sua atividade entre as 22h e as 6h.

Mas a ação proposta pelo MP-PR está aguardando decisão há oito anos. Segundo o MP, o processo está desde 20 de novembro de 2007 na 3.ª Vara da Fazenda Pública, aguardando sentença. Funcionários da 3.ª Vara informaram, no entanto, que a ação ainda deve estar no aguardo de algum ofício. Não há previsão para que seja julgada e a justificativa para a demora foi o grande volume de ações aguardando sentença, inclusive de 2006, de acordo com informações de pessoas que trabalham na Vara.

continua após a publicidade

Reclamações

A reportagem de O Estado percorreu alguns bairros para checar a quantas anda a paciência das pessoas com os trens e percebeu que as queixas existem, mas não são unanimidade. A moradora do bairro Boa Vista Claudia Carvalho confirmou que se sente incomodada com o barulho, assim como Denise Cordeiro, do São Lourenço. “Moro aqui há dez anos e, mesmo tendo acostumado, é um incômodo que persiste”, diz.

continua após a publicidade

No Alto da XV, Helena Vieira reclama que o barulho é mais difícil de aguentar no início da manhã. “Todo dia, às 5h ou 6h, é de tirar a paciência.” Opinião diferente é a da moradora do mesmo bairro Sandra Cordeiro de Oliveira. “Eu e minha família já acostumamos, não é problema nenhum. Fazer o quê? Por algum lugar o trem precisa passar, não?”, responde.

Meio Ambiente e ALL alegam que uso da buzina é necessário

O entendimento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da ALL, empresa que opera as locomotivas, sobre a instalação de cancelas e a exclusão das buzinas dos trens difere da interpretação do MP-PR. Responsável pela fiscalização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que inclui a poluição sonora, Ricardo Taborda Ribas afirma que a buzina do trem segue uma regulamentação federal.

“Existem níveis sonoros que devem ser seguidos, é claro, mas no caso do trem, há outro fator que também deve ser levado em consideração. O equipamento visa à segurança da população, então não tem como ter uma buzina mais baixa”, explica.

A ALL respondeu que colocar cancelas em pontos da cidade não vai fazer com que os trens deixem de buzinar, já que eles seguem normas internacionais de segurança e é considerado o procedimento mais eficaz. “A instalação de cancelas não dispensa o procedimento da buzina, uma vez que cancelas sofrem ações constantes de v&acir,c;ndalos, com furto e depredação dos equipamentos, provocando a sua não confiabilidade”, diz a nota da ALL.