Apesar do mote “capital ecológica”, é alto e preocupante o índice de poluição do ar em Curitiba. É o que revela o projeto ProAr, desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com escolas de Curitiba. Segundo a coordenadora do projeto e consultora da Unesco para o Desenvolvimento Sustentável, Zióle Zanotto Malhadas, os resultados de 95 a 2002 indicam o índice de ozônio – o mais agressivo para a saúde humana – variando de 80 a 400 microgramas por metro cúbico, em determinados horários e locais da capital. O índice tolerável disposto pela legislação brasileira, lembra Zióle, é de 160 microgramas por metro cúbico.

“É uma iniciativa maravilhosa da prefeitura em realizar o “Dia sem carro.” É uma oportunidade para as pessoas pensarem sobre o problema, pelo menos nesse dia”, comentou a professora, referindo-se à campanha promovida pela prefeitura municipal que acontece na próxima segunda-feira. “As pessoas com certeza não vão gostar de deixar o veículo em casa para ir trabalhar. Mas o que é ficar um dia sem carro? Essa é uma campanha de solidariedade”, aponta.

Desde quinta-feira, está instalada na esquina das ruas XV de Novembro e Marechal Floriano, centro de Curitiba, uma Estação de Monitoramento do Ar. O equipamento, cedido pela Refinaria Getúlio Vargas (Repar) vai medir a qualidade do ar até a próxima terça-feira. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba, a meta é reduzir em 30% o índice de monóxido de carbono na segunda-feira, dia da campanha, mas a assessoria não informou os índices atuais da qualidade do ar.

“O objetivo principal da campanha tem que ser a divulgação oficial dos índices de poluição. Ter resultados e não divulgá-los também é um crime, porque a população pensa que está tudo bem e vai continuar poluindo o meio ambiente”, acredita Zióle. Segundo ela, o resultado pela média anual – método divulgado por alguns órgãos ligados ao meio ambiente – é um recurso errado de medir a qualidade do ar. “A medição tem de ser feita diariamente, senão nem adianta estação de monitoramento”, acrescenta.

ProAr

Desde 1995, cerca de trinta escolas de diversos pontos de Curitiba recebem material, treinamento e esclarecimentos sobre o monitoramento, que acontece geralmente no mês de agosto. Segundo Zióle, o ozônio foi escolhido para medição porque ele é o resultado da união de vários poluentes, como os emitidos pelas chaminés das indústrias e pela queima do combustível. Além disso, é o mais agressivo para a saúde humana. “Ele destrói as defesas naturais do ser humano. À medida que respiramos, ele entra no sangue e ficamos sujeitos a contrair doenças, ter problemas respiratórios. O ozônio também causa envelhecimento”, cita Zióle.

Pela análise do ProAR, os bairros de Curitiba mais afetados pela poluição são aqueles que ficam entre o centro e a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), como o Campo Comprido, São Braz, Portão e Água Verde. “Bairros como o Atuba, por exemplo, apresentaram índice menor.” Os que sofrem mais com os altos índices de poluição são sobretudo as crianças e as pessoas idosas.

A coordenadora do projeto lembra que as pessoas podem tentar controlar a poluição do ar com medidas simples como manter o carro regulado para que não queime mal o combustível, não queimar o lixo pois a fumaça de embalagens plásticas é altamente tóxica e usar inseticidas com moderação. “Precisa haver uma conscientização maior sobre os prejuízos da poluição à saúde. Em São Paulo, por exemplo, sabe-se que em dias mais críticos morrem cerca de 60 pessoas por dia em decorrência da poluição. Em Curitiba não há esses dados, e a população pensa que está tudo bem”, lamenta.

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